Que a 15ª edição de A Fazenda está em crise, não é segredo para ninguém. Até domingo passado (15), a audiência média do programa na Grande São Paulo era de 5,7 pontos no Kantar/Ibope (cada ponto na região equivale a 268.083 domicílios). A esta altura, em 2023, o número era de 7,1 pontos. De vez em quando, há picos de audiência, em dias de formação de roça.

Vários os fatores explicam esse declínio: o desgaste natural do reality, há uma década e meia no ar; a concorrência feroz da novela "Todas as Flores", exibida pela Globo no mesmo horário; e, talvez acima de tudo, um elenco formado quase todo por subcelebridades beligerantes, dispostas a criar tretas por qualquer motivo.

Um nome se destacou de imediato entre os peões deste ano, e surpreendeu a mídia: a jornalista Rachel Sheherezade, dona de uma trajetória recheada de polêmicas e afastada da televisão desde que deixou o SBT em 2020.

Mesmo com seu currículo controverso, Rachel vem de uma enfermaria bem diferente da maioria de seus adversários. Muita gente se perguntou o que uma moça de fino trato ganharia se expondo tanto num reality onde impera a baixaria. Seria eliminada na primeira semana? Ou se tornaria a franca favorita, tamanho o contraste entre ela e a concorrência?

Essa segunda hipótese estava se concretizando até a manhã desta quarta (19). Rachel estapeou Jenny Miranda (até o momento em que escrevo, a emissora ainda não liberou as imagens da agressão –deve estar guardando-as para o programa noturno, na tentativa de bater um recorde audiência). Pelas regras de A Fazenda, qualquer peão que puser em perigo a integridade física de um colega é expulso na hora. Foi o que aconteceu.

Ao longo do mês em que permaneceu no reality, Rachel se mostrou uma pessoa bem mais tranquila que os demais participantes. Seu português correto chegou a irritar a funkeira Cariúcha, que reclamou que Rachel deveria falar "a língua do povo". Cariúcha transformou a jornalista em sua inimiga número 1, e pagou para ver. Pagou caro: foi eliminada na semana passada. Dias depois, exercitando a "língua do povo" durante um videocast, mandou um beijo para a Carolina do Norte, confundindo o estado americano com uma pessoa de verdade.

Mas o que foi que deu em Rachel Sheherazade? Como que ela pôs abaixo, num rompante, uma estratégia de ressurreição arriscadíssima, mas que parecia estar dando certo? Tivesse ganho o programa, Rachel sairia com mais dinheiro bolso e mais visibilidade do que jamais teve. Ancorar um noticiário seria praticamente impossível, mas ela teria excelentes condições de se transferir para o entretenimento, como já fizeram Fátima Bernardes, Glenda Kozlowski, Patrícia Poeta e tantas outras.

Essa hipótese ainda não está descartada, mas vai depender de como a assessoria de Rachel Sheherazade conseguir mantê-la em evidência neste momento. Já tinha até internauta chamando a jornalista de "nova Juliette", e esse é um capital que não pode ser jogado fora.

A Fazenda é uma panela de pressão ainda mais intensa que o BBB, e tudo o que a direção do programa quer é que role grossa pancadaria. Rachel sempre soube disso e, no começo, parecia treinada para escapar das armadilhas. Mas um reality de confinamento realmente enlouquece as pessoas. Muitos ex-participantes confessam ter reagido de maneiras inesperadas e surpreendido a si mesmos. Hoje foi a vez de Rachel.

Perde ela, mas perde também o programa. Rachel Sheherazade era o grande diferencial da temporada, a única razão pela qual esta edição meia-boca seria lembrada no futuro.

Na internet, já começou um movimento para que Rachel seja reintegrada. Em termos comerciais, faria todo o sentido. A presença dela no programa agitava o jogo e as redes sociais. Mas, se descumprir a própria regra, A Fazenda perde credibilidade, e as acusações de marmelada se tornarão ensurdecedoras.

Talvez tenha sido melhor assim, pelo menos para a própria Rachel. Ela saiu rapidamente de um lugar a que não pertence. Agora precisa capitalizar em cima da fama recém-readquirida, o que talvez seja ainda mais difícil do que vencer um reality show.