De faixa a coroa

Mulher trans no Miss Venezuela solidifica mudança positiva no perfil da miss

A modelo trans Sofía Salomon quer vencer a coroa e levantar a bandeira da diversidade

A venezuelana Sofía Solomon se apresenta durante o Miss International Queen 2022, em junho passado - AFP

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Considerada há décadas como a maior potência em concursos de beleza, a Venezuela, assim como o Brasil, também está passando por uma mudança no perfil de suas misses. Não é mais só sobre beleza física, mas sim sobre usar a voz para abrir caminhos de mudanças sociais. Apesar de este movimento estar acontecendo timidamente há alguns anos, um de seus maiores expoentes no país latino surgiu só agora. Trata-se da modelo Sofía Salomon, que quer ser a primeira mulher transgênero a se tornar Miss Venezuela.

Nascida em Ciudad Bolívar, no sul da Venezuela, a jovem já foi modelo na Espanha e no México e é dona de uma marca de roupa. Sofia tem 25 anos e, em junho de 2022, defendeu seu país no concurso Miss International Queen, que é considerado o maior do mundo para mulheres transgênero. Na ocasião, Sofía se classificou entre as seis finalistas do certame; quem venceu a final foi a filipina Fuschia Anne Ravena.

A classificação de Sofía repercutiu no seu país e levou uma legião de fãs venezuelanos a incentivar que ela tentasse entrar no tradicional Miss Venezuela, que leva ao Miss Universo —e ela se inscreveu. Sua candidatura, porém, gerou um alvoroço nas redes sociais, hoje o principal meio de propagação do mundo miss, e dividiu a opinião dos venezuelanos. Estima-se que centenas de jovens venezuelanas se inscrevem todos os anos, em busca do sonho da coroa.

"Os concursos de beleza são algo bem presente na cultura venezuelana, a população torce como o Brasil torce no futebol. Isso incentiva muito as meninas e os eventos por lá e ganhou mais força com todo o histórico de vitórias, que segue acontecendo nos diferentes concursos. Com isso, a fama deles é mundial. Tanto que, se a gente falar em concurso de miss, qualquer pessoa, até mesmo quem não acompanha nada de miss, vai mencionar as venezuelanas. É uma força surreal", explica o empresário e missólogo Henrique Fontes, que comanda o site Global Beatles e também realiza concursos de beleza no Brasil, pelo CNB —Concurso Nacional de Beleza.

Vale lembrar que, só no Miss Universo, a Venezuela é dona de sete pódios —o mais recente em 2013, com Gabriela Isler, atual diretora nacional do certame no seu país. Além disso, tem no currículo seis vitórias no Miss Mundo, oito no Miss International, uma no Miss Grand International e uma no Mister World. Mesmo com uma década de crise econômica no país, o concurso continua reunindo milhões de espectadores por conta desse histórico.

"Na Venezuela, principalmente as vencedoras e finalistas dos principais concursos, se tornam famosas. Muitas viram atrizes de novela, apresentadoras de TV, políticas e até candidata a presidente da República", detalha Henrique.

Recentemente, a história de Sofia viralizou a nível global após ser distribuída por uma agência de notícias. E o timing não podia ser mais perfeito, já que nesta quarta, 31 de maio, se encerram as inscrições para a próxima edição da seletiva do Miss Venezuela, que deve acontecer no final deste ano. Segundo o texto, Sofía espera com sua iniciativa conquistar mais visibilidade para mulheres trans no país, por meio da alta repercussão do certame por lá.

Vitória Trans

O Miss Universo já aceita mulheres trans há algum tempo. Em 2018, a espanhola Angela Ponce tornou-se a primeira a pisar no palco do concurso. A abertura nas regras ganhou mais força em outubro passado, quando a empresária tailandesa Anne Jakapong Jakrajutatip, que é uma mulher transgênero, comprou o concurso por US$ 20 milhões (cerca de R$ 106 milhões).

Outro ponto de inversão do evento é que, a partir deste ano, a competição passou a aceitar mulheres que são ou foram casadas, assim como grávidas ou que têm filhos. A idade para inscrição no concurso, no entanto, segue a mesma: é preciso ter entre 18 e 28 anos.

Apesar de ser uma novidade no país vizinho, no Brasil a candidatura de mulheres trans fez seu début antes. Em agosto de 2021, a goiana Rayka Vieira tornou-se a primeira mulher transexual a disputar o posto de Miss Brasil —em qualquer franquia. No caso, Rayka foi candidata no Miss Brasil Mundo, que leva ao Miss Mundo. A primeira brasileira mãe a disputar o Miss Brasil, no caso para o Miss Universo, também já está eleita: a goiana Renata Guerra.

Após o dia 31 de maio, a organização do Miss Venezuela vai começar a avaliar as inscrições e selecionar quem segue na seletiva. São eles que vão decidir o futuro de Sofia e, consequentemente, os novos rumos do reinado das misses na Venezuela e no mundo. Afinal de contas, a nação global das misses também dita regras na indústria.

Diante da recente repercussão do caso, especialistas apontam como "muito mais provável do que antes" a chance de a inscrição da modelo ser aceita. E, independentemente do resultado, em um país que não é tão aberto às pessoas transgênero como é a Venezuela, só o fato de Sofia poder se inscrever para tentar a coroa já uma grande vitória da aceitação da diversidade.