Com vitória da Jamaica no Miss Mundo, duas mulheres negras são donas das principais coroas de 2019
Jamaicana Toni-Ann Singh e sul-africana Zozibini Tunzi levaram títulos nos últimos dias
Em 2019 duas mulheres negras tornaram-se, ao mesmo tempo, donas das principais coroas de miss do planeta. O feito foi alcançado neste sábado (14), após a jamaicana Toni-Ann Singh, 23, vencer a 69ª edição do Miss Mundo. O título chega menos de uma semana depois da vitória da sul-africana Zozibini Tunzi, 25, no Miss Universo no último domingo (8).
Singh foi eleita em Londres, no Reino Unido, enquanto Tunzi foi eleita em Atlanta, nos Estados Unidos. A vitória delas traz a beleza da mulher negra de volta ao topo, além de levantar o assunto da representatividade.
"A sociedade foi programada durante muito tempo para não ver a beleza negra. Mas agora estamos entrando em um tempo em que finalmente as mulheres como eu podem saber que somos bonitas", disse Tunzi em seu discurso após a vitória.
Negra e de cabelos curtíssimos, a nova Miss Universo impactou pela postura coerente e pela elegância. Após vencer e mudar-se para Nova York, ela divide agora apartamento com as também negras Miss Estados Unidos, Cheslie Kryst, 28, e Miss Teen EUA, Kaliegh Garris, 19.
Antes dela, a última mulher negra a vencer a competição foi a angolana Leila Lopes, em 2011. Já Singh quebrou um jejum de 18 anos sem mulheres negras no Miss Mundo. A última miss negra a vencer a corrida pela coroa foi a nigeriana Agbani Darego, em 2001.
A jamaicana acredita na importância de ter como referência mulheres fortes representativas, principalmente na família. "Notar os benefícios da família e ter todas estas fortes mulheres à sua volta e que ajudam você a crescer e quebrar ciclos. É importante para mim oferecer a jovens mulheres a oportunidade de ver o que foi feito na minha vida e e eu quero ser a diferença para os outros", disse em entrevista preliminar.
MISSES E MISTERS NEGROS NO BRASIL
No Brasil, o carioca Ítalo Cerqueira, 27, tornou-se neste ano o primeiro homem negro a vencer o Mister Brasil CNB. Ele faz parte, agora, do grupo de 15 vencedores do concurso, até então todos brancos. Sargento do Exército, ele representou o país no Mister Supranational 2019 no início de dezembro e ficou em segundo lugar.
“Não existe padrão de beleza único ou certo no Brasil. Não é só homem branquinho de cabelo liso que é bonito. Acredito que a beleza depende mais da essência da pessoa do que do seu exterior”, disse em entrevista ao F5 em setembro passado, pouco depois do nacional.
“Ao subir na passarela, levo comigo milhões de negros e negras que, diariamente, lutam para serem vistos, reconhecidos e valorizados. O preconceito ainda é muito grande no nosso país. Precisamos ocupar todos os espaços, inclusive o mundo da beleza, que por tanto tempo repetiu padrões valorizando uns e excluindo tantos outros”, completou.
Ao lado dele, a catarinense Fernanda Souza, 24, representante brasileira na versão feminina do concurso, o Miss Supranational, também é negra. Juntos, eles foram o primeiro casal de brasileiro negros a disputar a franquia do concurso num mesmo ano.
Já no Miss Universo, até o hoje o país teve apenas três mulheres negras como representantes desde a primeira disputa, em 1954. São elas a Deise Nunes (1986), Raíssa Santana (2016), e Monalysa Alcântara (2017).
“Por anos as pessoas me perguntaram quando outra mulher negra seria eleita. Eu sempre dizia ‘em breve’, e esse ‘breve’ levou 30 anos. Muitas ainda ficam receosas [de participar]”, disse Nunes, 51.
“Eu abri uma porta quando ganhei. Cada miss dá voz para um tipo de mulher, pessoa ou situação, e a minha foi a da raça. Não me considero feminista, mas acho importante lutar e querer direitos. Sejam eles como mulher, como negra ou como ser humano”, ponderou em entrevista ao F5 em outubro deste ano.
Segundo ela, existe um desequilíbrio nas inscrições para os concursos, por isso o baixo número de vitórias. Nunes considera que, quanto maior o número de mulheres negras na competição, maior a probabilidade de uma delas vencer. E, para que isso aconteça, as competidoras precisam não só ter desejo de participar, mas também muita coragem.