Criança tem o hábito de ver dez vezes o mesmo filme, desde que goste, é claro. Estudiosos sugerem que esse prazer está relacionado à segurança de saber o que vai acontecer na história e também ao desafio de chegar a antecipar falas inteiras dos personagens.

Dito isso, tudo que o SBT e o Prime Video têm a fazer para honrar o acerto estratégico na parceria da nova novela produzida pela TV de Silvio Santos, "A Infância de Romeu e Julieta", que estreia nesta segunda (8), é fazer com que a plateia infantojuvenil se apegue à produção.

O Prime Video lançará cinco capítulos toda segunda-feira, um grande chamariz para o público que quiser conhecer antes o desenrolar da história, tendo a chance de rever quantas vezes quiser ou de comparecer diante da tela às 20h45 para ver o capítulo em tempo real.

De baixo custo (R$ 14,90), o serviço de streaming da Amazon dá um passo certeiro no alvo cobiçado por seus concorrentes --a produção de novelas--, sem ter de contratar um só profissional ou se preocupar com a engenharia de estúdios e toda a infraestrutura demandada por uma obra de longa duração.

O negócio é ótimo para o Prime Video e também para o SBT, que não perde o apelo de trazer audiência infantojuvenil a uma TV aberta totalmente esvaziada de conteúdo para este segmento, atendendo a espectadores de todos os extratos sociais, e ainda conta com um grupo de caixa forte para ajudar a pagar a conta da obra.

Faz 11 anos, desde a produção de uma versão nacional de "Carrossel", que o SBT investe no público infantil no horário nobre, um meio de explorar um nicho mal aproveitado pelos outros canais, até em função das restrições feitas à publicidade infantil. Agora, no entanto, mesmo diante dessas limitações, a emissora encontra um meio seguro para não ficar no prejuízo.

A aposta da emissora também é promissora para a revelação de novos talentos, algo que a Globo abandonou ao encerrar "Malhação". A fábrica de talentos jovens abastecida pelo SBT, no entanto, beneficia a todos os canais e plataformas.

Lá estão dois novos nomes no protagonismo da produção, Miguel Angelo, o Romeu, e Vittoria Seixas, a Julieta, com um avanço significativo para os padrões do SBT: a diversidade de um elenco que conta com mais de 30% de negros, a partir da família de Romeu.

Na mais que livre adaptação shakesperiana assinada por Iris Abravanel, o garoto é o rico do enredo, e ela, a branca, cor majoritariamente mais privilegiada na vida real, a de família mais modesta. A inversão de valores e cores é evidentemente proposital para a quebra de estereótipos, uma conquista a se comemorar no caso do SBT, mesmo considerando que o Prime Video possa ter participação nessa equação.

Plataformas e canais do mundo todo têm cobrado de seus produtores uma diversidade capaz de levar todos os segmentos da sociedade a se verem refletidos na tela, o que pressupõe também uma pluralidade entre os criadores, terreno no qual as emissoras ainda engatinham por aqui. Consola, no entanto, saber que há um avanço em movimento.

E se o SBT assume um lugar de celeiro de novos talentos jovens, também absorve atores que fizeram fama pela tela da Globo, graças à incapacidade que a rede carioca tem atualmente em manter tantos nomes sob contrato exclusivo. O elenco de "A Infância de Romeu e Julieta" conta com Lu Grimaldi, que até outro dia foi dama de companhia de Leopoldina em "Nos Tempos do Imperador", e João Baldasserini, que esteve em comédias da faixa das sete.

André Mattos, conhecido por "Tropa de Elite 2", "Narcos" e outras produções, também está no cast, ao lado de Luiz Guilherme, Bianca Rinaldi, Karin Hils, Felipe Roque, Matheus Ueta, Velson D’Souza, Lucas Salles, Lincoln Tornado, Ciro Sales, Guilherme Sant’Anna, Juliana Schalch, Thamiris Mandú, Fábio Ventura, Lis Luciddi e Beatriz Oliveira.

Antonella Dez, Arlyane Carvalho, Bárbara Cruz, Bella Alelaf, Gabriel Miller, Gianlucca Mauad, Jolie, Lukas Cabral, Miguel Schmid, Miguel Soares, Miguel Trajano, Samuel Estevam, Vinícius Pieri, Vivi Lucas, Yasmin Praddo e Zaira Harue completam o elenco mirim.

A direção-geral e de Ricardo Mantoanelli, ou Rica Mantoanelli, como ele asssina agora.