O ano mal começou e eu já sou mãe exausta
A promessa de que a agenda não atropelaria meu 2022 não se cumpriu
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A promessa de que a agenda não iria atropelar o meu 2022 ficou trás, em algum lugar de 2022 mesmo. Parece ter sido ontem que desejei feliz ano novo aos que estavam comigo na virada. Passados nem um trimestre inteiro já estou aqui, reclamando.
Dois mil e vinte e dois começou me sacaneando. Aos seis dias de janeiro, passei mal, com uma dor insuportável e fui parar no hospital. Uma loucura que me trouxe infecção grave, internação, possibilidade de cirurgia e um "molho" de ao menos seis meses. Esse tempo é para esperar meu corpo absorver ou expelir um cisto ovariano que —bum— estourou dentro de mim.
Os dias que se seguiram foram de reflexão. E a reflexão é sempre a mesma, a básica: desacelerar, pisar mais na terra, olhar para o que interessa, estar com quem quer estar com a gente, afastar-se de quem não agrega e ser um ser humano melhor a cada dia, afinal, tenho filhas.
Ocorre que a vida é o que acontece enquanto a gente planeja como ela deveria ser. Com isso, estou aqui, em plena atividade, correndo com muita coisa e vivenciando meus momentos de exaustão, como ocorre com toda mãe moderna.
Os filhos crescem e, com eles, crescem as obrigações. Não as obrigações da maternidade em si, mas as do filho mesmo. E a gente tem que estar presente, acolhendo e orientando. A maternidade é isso, não adianta querer algo a menos nem a mais. É ser farol e porto seguro. É ser caminho, ponte, amanhecer e pôr do sol.
É tudo bonito e poético, mas é cansativo. E eu me sinto exausta, cansada, querendo que as férias de julho cheguem logo, ao mesmo tempo que eu quero que o tempo não passe nunca. Quero ainda fazer aquela atividade com massinha que elas amavam aos cinco anos de idade. Quero fazer bolo de caneca todo fim de semana.
Mas não dá. Não dá para segurar o tempo, a emoção e as obrigações. Por isso, eu lamento e celebro de uma única vez. É gostoso ter uma filha de 15 anos desabrochando para a vida, para o mundo e para as amizades. É gostoso ter uma caçulinha de nove anos que já é mais alta do que eu.
É bom estar com elas, mesmo com a exaustão diária. É bom exercer minha profissão, mesmo com todos os desafios. É bom estar no ritmo de uma dieta alimentar para fortalecer o sistema imunológico com amigas a distância, do grupo da ioga, mesmo com a fome que dá.
É bom fazer mais uma campanha do Imposto de Renda, mesmo com a loucura que é escrever sobre um tema difícil e que precisa de muito cuidado com as regras para não errar na informação. É uma delícia fazer jornalismo econômico de prestação de serviços à população, ensinar gente nova e aprender com gente que já estava no caminho do bom jornalismo muito antes de mim.
É gostoso ter esperança em dias melhores, mesmo com uma guerra no meio. É bom estar viva, é bom ser mãe, mas cansa.