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Colo de Mãe

Carnaval é para criar memórias, não importa se é feriado ou não

Quem espera o feriado, o fim da pandemia ou o fim de semana na praia para se feliz perde vida

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São Paulo

Uma das lembranças mais gostosas da primeira infância de minhas filhas são as festas de Carnaval. Os bloquinhos infantis, cheios de crianças fantasiadas, muito confete e serpentina, choro, fome, sede e medo de perder a criança na multidão ficaram na memória. Se não delas, ao menos na minha.

Minhas duas meninas adoravam colocar uma fantasia. Às vezes, a vontade não era nem de ir para o bloquinho, mas apenas de se transformar em uma princesa, super-heroína ou uma dançarina de frevo (por anos, essa fantasia leve que trouxemos de Recife (PE) foi a preferida delas).

Fotolia

Lembro-me de levá-las a vários bailinhos. De pular Carnaval em locais fechados, com o conforto do ar-condicionado ou nas ruas, com a diversão dos blocos paulistanos, ao lado de amigos, muita espuma, calor e perguntas sobre quais eram os motivos de homens se vestirem de mulher.

"É Carnaval", eu sempre dizia. Elas saíam, brincavam, bebiam muita água, tomavam muito sorvete e voltavam para casa estafadas, pouco tempo depois de termos saído. Eu, a mãe, sem poder me divertir em um bloco de adulto ou passar as madrugadas na balada, continuava cheia de pique, com vontade de pular só mais um pouquinho, enquanto elas dormiam no carro.

Aqui em casa, esse tempo passou. Luiza, a mais velha, tem 15 anos, e a vida adolescente é voltada para outros interesses. Laura, a caçula, tem nove anos e quer seguir os passos da irmã. Para elas, usar fantasia no Carnaval não faz mais sentido. Reclamam do calor, de ter de sair do conforto de casa e de deixar para trás tarefas escolares que ainda precisam ser feitas.

A pandemia nos roubou dois anos e, talvez, tenha nos roubado a vontade de ficar na rua. Não porque não gostamos da rua, mas porque aglomerações ainda não são recomendadas. Aqui em casa, nada de praia, montanha ou piscina para nós. Há uma guerra ocorrendo e a situação financeira não permite.

Mas isso não tem sido motivo para não ficarmos juntas. Embora eu tenha tirado um dia e meio para mim neste Carnaval (todo esse tempo foi para resolver coisas de casa, como feira, compras e tudo o mais, mas coube pausas para café e suco em meio a tudo), minha atenção segue voltada a elas. E tudo porque o tempo passa.

Carnaval não é feriado, nem todo mundo está de folga e desfile de escola de samba em São Paulo será só em abril. No Nordeste, estados como Pernambuco e Bahia não concederam nem mesmo os dias de descanso. Para nós, com a crise econômica e a guerra, não há praia nem piscina, mas há vontade de ficarmos juntas.

Como já sei que o tempo passa, aproveito para "grudar" nas filhas o quanto posso. Mesmo que esse "grudar" seja levar a mais velha ao shopping para ir ao cinema com as amigas e acompanhar a caçula em um parque de diversões enquanto ela brinca com a amiguinha. Ou seja apenas assistir juntas a um filme ou programa de tevê.

Tempo livre é para isso: construir memórias desse ou de outros carnavais.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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