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Marca de roupas cria estampa com desenho racista e revolta consumidores

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Uma escrava negra com um bebê nas costas e um cesto de frutas na cabeça serve uma senhora branca sentada. Ao lado, quatro negras cozinham em um tacho. Palmeiras e bromélias enfeitam o cenário.

Poderia ser uma pintura do século 19, mas é uma estampa de roupas criada pela marca Maria Filó e lançada esse ano, como parte da coleção "Pindorama".

Uma consumidora viu a estampa nas lojas e ficou inconformada com o retrato racista. Tâmara Isaac, 29, escreveu suas impressões no Facebook e acabou chamando atenção de milhares de pessoas, que fizeram a reclamação chegar até a marca.

A servidora pública, que é negra, também relatou ter sido mal atendida pelos funcionários da loja, que fica no bairro de Icaraí, em Niterói (RJ). "Notei que houve um tratamento diferente em relação às pessoas brancas que entraram na loja", contou ela ao "F5".

Estampa de escravas da Maria Filó
Estampa de escravas da Maria Filó *** **** - Reprodução/Facebook

Quando viu no cabide a blusa em questão, Tâmara ficou em choque. "Confere? É uma estampa de escravas entre palmeiras? É uma escrava com um filho nas costas servindo uma branca? Perguntei à vendedora se aquela estampa tinha alguma razão de ser ou se era só uma estampa racista mesmo. Ela, me dirigindo a palavra pela primeira vez, não soube responder", relatou no Facebook.

Segundo Tâmara, o que mais a incomodou foi a naturalização do racismo. Antes de chegar às lojas, a estampa passou por várias etapas e departamentos. A diretora criativa da Maria Filó é Roberta Ribeiro, filha da fundadora da marca, Célia Osório.

"Foi isso o que mais me revoltou. Uma pessoa teve uma péssima ideia. Mas ninguém, em toda linha de produção e divulgação do produto, percebeu que usar esse período da nossa história como recurso estético para vender roupas seria absurdo. Isso é o que me deixa mais indignada", reclamou a consumidora.

"A vendedora foi gentil, me falou sobre o nome da coleção, mas não soube explicar o motivo. Ela ficou bem sem graça, na realidade. Provavelmente ela nem reparou que não tinha me atendido quando eu entrei na loja. Esse racismo velado é tão constante que as pessoas nem se dão conta", continuou.

Blusinha com estampa de escravas da Maria Filó, à venda por R$ 199.
Blusinha com estampa de escravas da Maria Filó, à venda por R$ 199. - Reprodução

Procurada, a marca pediu desculpas e disse que vai retirar as peças das lojas e que a ideia era homenagear a obra do pintor francês Jean-Baptiste Debret.

"A Maria Filó esclarece que a estampa em questão buscou inspiração na obra de Debret. Em nenhum momento houve a intenção de ofender. A marca pede desculpas e informa que já está tomando providências para que a estampa seja retirada das lojas", afirmou a empresa.

"Eu acho que é o mínimo, dado que essa estampa não deveria nem ter sido comercializada. Mas acho que uma nota de retratação, endereçada ao povo negro, caberia", comenta Tâmara.

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