Tensa e envolvente, 'Sob Pressão' é uma das boas séries do ano
Tentei três vezes assistir ao filme "Sob Pressão" (2016), disponível na plataforma Telecine Play. Não consegui passar dos primeiros cinco minutos.
O longa dirigido por Andrucha Waddington abre com o médico Evandro (Júlio Andrade) saindo de um plantão. Exaurido e trêmulo, ele ensaia tomar um café na área externa do hospital onde trabalha. Só que logo é chamado de volta, porque chegou mais um caso urgente e não há ninguém para atendê-lo.
A cena retrata uma realidade comum a todo o sistema de saúde pública do Brasil. Mas é entretenimento? É isto o que eu quero ver na TV, depois de um dia de trabalho que também me deixou exaurido e trêmulo?
Pois é. Eu gosto de escapismo. Gosto de ver filmes e séries que me levam para longe das encrencas do cotidiano e funcionam como pequenas férias, tipo "Downton Abbey".
Foi neste espírito, com os dois pés atrás, que assisti aos dois primeiros episódios da série "Sob Pressão" --o primeiro foi exibido nesta terça (25), pela Globo; o segundo já está disponível na Globo Play--, também sob o comando de Andrucha Waddington.
E não é que eu gostei? Talvez porque o seriado lembre, na estrutura, o clássico "ER" (ou “Plantão Médico”, como foi rebatizado pela Globo). Várias emergências se atropelam num mesmo hospital, exigindo total dedicação da equipe --que também luta com seus problemas pessoais.
A diferença óbvia é que "ER" se passa na rica Chicago, nos EUA, e "Sob Pressão", num hospital público na zona norte do Rio de Janeiro onde falta tudo: desde equipamentos sofisticados até itens básicos como esparadrapo.
E ainda há o entorno violento, responsável pelos inúmeros pacientes que chegam baleados. Sem falar na corrupção endêmica, mostrada de forma contundente no episódio que irá ao ar na próxima terça (1°).
Na versão de "Sob Pressão" para a TV, tudo funciona bem. O roteiro alterna momentos tensos com alguns respiros. Os personagens foram aprofundados, ganhando conflitos internos. E o elenco todo está ótimo --com destaque para os protagonistas Júlio Andrade e Marjorie Estiano (que faz a dra. Carolina), dois dos melhores atores que temos hoje.
O inesperado me aconteceu: fiquei com vontade de ver mais. "Sob Pressão" já é um dos melhores seriados atuais, em qualquer idioma, e mais um ponto brilhante num ano que está sendo bom para a nossa televisão.
Empolgado com o que vi na série, voltei ao longa. Dessa vez, cheguei até o final. Não é ruim, mas a temática da criminalidade se sobrepõe à discussão das deficiências do nosso atendimento médico. "Sob Pressão", o filme, é quase um "favela movie" ambientado num hospital.
E, sim, "Sob Pressão", a série, é muito melhor.
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