Há 20 anos, Ellen DeGeneres foi a primeira grande estrela da TV a sair do armário
O dia 30 de abril de 1997, uma quarta-feira, entrou para a história tanto da TV americana como para a da luta pelos direitos LGBT. Naquele dia, a rede ABC exibiu o 22º episódio da quarta temporada da sitcom "Ellen", no qual a personagem-título se assumia gay para os amigos e para si mesma.
Duas semanas antes, a estrela e criadora da série, a hoje apresentadora Ellen DeGeneres, também saiu do armário, na capa da revista "Time".
O episódio rendeu ao programa sua maior audiência de todos os tempos: cerca de 42 milhões de espectadores. Também ganhou uma batelada de prêmios, inclusive o Emmy de melhor roteiro.
E mudou para sempre não só o tratamento que a TV dá aos personagens gays, como também a maneira como os atores apresentam suas orientações sexuais.
Naquela época, "Ellen" estava em crise. A série estava longe de ser um sucesso, apesar de sua protagonista ser uma das figuras mais queridas dos EUA.
Os roteiristas tinham dificuldade em criar histórias: Ellen Morgan, o alter ego de DeGeneres no programa, era dona de uma livraria e mais nada. Não pensava em mudar de carreira nem se interessava por namoros. Um executivo da emissora chegou a sugerir que a personagem arranjasse um cachorrinho.
A própria Ellen DeGeneres sabia que seu programa precisava de um ponto de vista. Foi então que ela resolveu tomar uma medida drástica: admitiria não só sua homossexualidade, um boato que já circulava há anos, como também a de sua criatura.
"Foi como dar um tiro no próprio pé e torcer para que sangrasse só um pouquinho", disse Dava Savel, uma das produtoras da sitcom.
A criação e produção de "The Puppy Episode" cercou-se de mistério. Até o nome escolhido —o episódio do cachorrinho, em referência à sugestão do executivo —era uma pista falsa. Não havia cachorrinho nenhum.
Mas não adiantou. Com tanta gente envolvida, a intenção de Ellen DeGeneres logo vazou para a imprensa. O que foi bom para a promoção do programa: a atriz foi convidada a vários talk shows, e os roteiristas encheram os episódios anteriores de piadas de duplo sentido.
A "Time" foi para as bancas no dia 14 de abril. Portanto, no dia 30, quando o "The Puppy Episode" foi exibido, a homossexualidade das duas Ellens já não era mais segredo nenhum. O que não evitou o recorde de audiência nem a repercussão largamente positiva.
Claro que também houve reclamação e até ameaças de bomba. Em 1997, 68% dos americanos eram conta o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ellen deu a cara para bater, e bateram nela.
Os anunciantes sumiram. A série foi cancelada um ano depois. A atriz Laura Dern, que participou do episódio crucial, ficou mais de um ano sem trabalho. E Ellen DeGeneres entrou numa fase difícil da carreira, da qual só saiu em 2003, ao estrear seu talk show diurno que continua indo ao ar.
Hoje ela é uma estrela muito maior do que há 20 anos, popular e respeitada. E ainda pode se gabar de ter pavimentado a estrada para muitas séries de temática LGBT que vieram depois, como "Will & Grace" e "Queer as Folk".
Até hoje é complicado para qualquer celebridade se assumir homossexual. Mas está um pouco mais fácil do que era em 1997, e o gesto corajoso de Ellen DeGeneres tem muito a ver com isto.
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