Tony Goes

Shows do Grammy foram sóbrios, apesar de Lady Gaga

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Nenhum outro prêmio importante tem tantas categorias quanto o Grammy. Neste ano foram 83 —um número na verdade reduzido, depois da extinção de bizarrices como “melhor disco de polca”.
 
E nenhuma outra cerimônia de premiação entrega tão poucos troféus. Foram só oito na noite desta segunda-feira (15), ao longo de intermináveis três horas e meia. Mas a verdade é que as estatuetas em forma de gramofone são o de menos na grande festa (do que restou) da indústria fonográfica americana. O que importa mesmo são as performances.
 
Como sempre, elas foram muitas, e muitíssimo variadas. Se houve um denominador comum, foi uma certa sobriedade. As grandes produções praticamente não deram as caras: quase todos os números focaram apenas na música, sem muita pirotecnia.
 
Por isto mesmo que o tributo de Lady Gaga a David Bowie foi o ponto alto da noite. A cantora continua sua ressurreição artística a todo vapor. Depois que seu último álbum solo, “Artpop”, foi mal recebido em 2013, ela vem se especializando em cantar músicas dos outros em grandes eventos.

Gravou um disco de duetos com Tony Bennett, entoou um pot-pourri de canções da “Noviça Rebelde” no Oscar do ano passado, bradou o hino americano no último Super Bowl. Apesar de ter nascido quando Bowie já havia superado as melhores fases de sua carreira, Gaga pareceu uma escolha óbvia para homenageá-lo.

Nem todo mundo gostou. O crítico mais contundente foi Duncan Jones, o filho do cantor, que postou no Twitter a definição da palavra “gaga” no dicionário da universidade de Oxford: “superexcitado ou irracional, geralmente como resultado de uma fixação ou um entusiasmo excessivo; mentalmente confuso”.
 
Mas o número de Gaga pelo menos teve cor e movimento, algo que faltou em muitas apresentações. Nem todas se ressentiram disso: uma das melhores foi a rápida lembrança a Maurice White, o recém-falecido líder da banda Earth, Wind and Fire, feito por Stevie Wonder e o grupo vocal Pentatonix. Sem instrumentos, só com vozes e com todas as luzes do gigantesco Staples Center de Los Angeles acesas, eles foram aplaudidos de pé.
 
Aliás, houve um momento em que os Grammys quase se transformaram num funeral, tantas eram as elegias a músicos mortos. Glenn Frey, B. B. King, Lemmy... até Michael Jackson foi lembrado. Outros homenageados ainda estão vivos mas já descambaram para a irrelevância, como Lionel Ritchie. E muitos só apareceram mesmo no telão, como Natalie Cole.
 
O único momento literalmente incendiário foi o show do rapper Kendrick Lamar, que teve até uma imensa fogueira ardendo no palco. Também foi o número mais explicitamente político da cerimônia —Beyoncé, que vem protagonizando polêmicas por causa de seu single “Formation”, limitou-se a apresentar o prêmio de melhor gravação.
 
A diversão acabou ficando por conta dos pequenos deslizes. Como o penteado de Taylor Swift, que a deixou parecida com Anna Wintour. Ou a desafinação de Adele, justo quem, que esgarçou a voz ao tentar atingir as notas mais altas de “All I Ask”.
 
No frigir dos ovos, foi mais uma cerimônia com altos e baixos, como sempre costuma ser. Mais séria do que de outras vezes, e talvez sem um único momento que vá entrar para a história. Não faz mal: ano que vem tem mais.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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