Com pitada de ingenuidade e atuações exageradas, 'Êta Mundo Bom' é acerto para o horário
Após emplacar sucessos em todos os horários de novelas da Globo, Walcyr Carrasco fez algo inesperado: propôs à emissora uma trama para a faixa das 18h30, a de menor prestígio e audiência.
E teve sua sinopse de "Êta Mundo Bom!" aprovada com louvor, pois prometeu aquilo que o espectador vem sentindo falta na dramaturgia da casa: escapismo, nostalgia, ingenuidade.
Não se trata de uma história original. Carrasco baseou-se no clássico "Cândido, ou o Otimismo", escrito pelo iluminista francês Voltaire no século 18, e, principalmente, em "Candinho", a primeira adaptação desse texto para o cinema, estrelada por Mazzaropi em 1953.
Há muita coisa que vem direto do filme, como a ambientação na São Paulo do século passado ou muitos personagens homônimos. Mas também há outros enredos paralelos, entre os quais os bastidores de uma radionovela.
Que nem apareceu no capítulo de estreia. Apenas o eixo principal foi apresentado, de maneira ágil e econômica. Toda a primeira fase coube antes dos créditos de abertura: um bebê bastardo nasce na fazenda de uma família rica e é colocado num rio, dentro de uma cesta, tal qual o Moisés bíblico. Outra família o adota, mas o trata feito empregado.
Já adulto, Candinho (Sérgio Guizé) se engraça com sua irmã de criação Filomena (Débora Nascimento) e é expulso pelos pais adotivos. Antes de sumir na estrada, recebe um conselho do dr. Pancrácio (Marco Nanini): deve ir à capital procurar sua mãe, que pode estar viva e ser muito rica.
Essa trama tão básica ganhou interpretações dignas de teatro infantil — mas o exagero combina com o horário, muito assistido por crianças. Só Elizabeth Savalla, como a malvada Cunegundes, passou um pouco do tom.
"Êta Mundo Bom!" quer ser uma novela à moda antiga, sem dubiedade nem sutileza. A produção esmerada e a qualidade do elenco são trunfos, mas há o risco da receita desandar e ficar açucarada demais. Que, entretanto, pode ser exatamente o que o público deseja neste momento.
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