Tony Goes

Estamos indo longe demais no caso de Marcelo Adnet?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Algum tempo atrás, uma revista mexicana de celebridades me caiu nas mãos. Uma das reportagens de destaque era o almoço que a atriz Salma Hayek havia tido com um amigo num restaurante da capital.

Não era um namorado, não era um ex, eles não estavam aos beijos: ela apenas almoçava com um amigo de longa data num dia qualquer.

Mesmo assim, a matéria era fartamente ilustrada com fotos tiradas à distância dos dois à mesa, como se tivessem sido flagrados fazendo algo ilícito. O texto listava cada um dos itens consumidos pela dupla com seus respectivos preços, incluindo bebidas, couvert e cafezinho. Só faltaram informar se, quando Salma foi ao toalete, ela teria feito nº 1 ou nº 2.

Psicóloga de 'Encontro com Fátima Bernardes' defende cantada na rua: 'é lugar do erótico'
'Playboy' divulga capa com 'musa do verão', Marcela Pignatari
Nunca usei tanto a língua, diz Márcio Garcia sobre cenas sensuais com Mariana Ximenes

Ainda bem que a imprensa brasileira não caiu a este ponto, pensei. Nossa cobertura da vida dos famosos está repleta de notícias transcendentais como "fulana estaciona o carro no Leblon", mas ainda não invadimos dessa maneira a privacidade deles —mesmo quando estão em público.

Mas o tempo passou, o mundo mudou e a internet cresceu. Hoje são as próprias celebridades que postam fotos de suas intimidades nas redes sociais. E os internautas se acham no direito de saber tudo, comentar tudo, julgar tudo.

Fiquei muito constrangido quando vi as fotos de Marcelo Adnet beijando uma moça na madrugada carioca. Não pelo ato em si, mas pelas próprias fotos. Achei que meus olhos não eram dignos de ver tal cena.

"Ah, mas esse tipo de flagra nem é novidade", dirão alguns. Um conhecido me lembrou o "affaire" Daniela Cicarelli, filmada fazendo sexo com o namorado numa praia espanhola no já longínquo ano de 2006.


De fato, aquelas imagens não me chocaram tanto. Para ser sincero, dei boas risadas: onde que os pombinhos achavam que estavam? Mas, naquela ocasião, os únicos expostos eram eles mesmos. Dois adultos desimpedidos crentes que ninguém estava vendo, olha só que tolinhos.

Já o "caso Marcelo Adnet" envolve danos colaterais, a começar por Dani Calabresa. Meu primeiro pensamento foi para ela: coitada, não merecia saber desse jeito das escapulidas do marido. Também fiquei preocupado com a moça com quem o humorista estava, arrancada do anonimato de uma hora para a outra. E mesmo Adnet foi digno da minha consternação: atire a primeira pedra quem sempre andou na linha.

Mas as pedras foram atiradas de todos os lados. O infame tribunal da internet, que poucos dias antes havia condenado Letícia Sabatella por ter se divertido com amigos, agora tinha nas mãos um deslize considerado muito mais grave. Um filé sangrento jogado aos leões.

Na verdade, acho muito mais feio o comportamento do paparazzo que seguiu Adnet até conseguir as fotos comprometedoras. Claro que eu sei que o cara estava trabalhando —mas há alguma coisa errada numa sociedade onde uma atividade dessas rende dinheiro.

Fico igualmente incomodado com a enxurrada de comentários agressivos, e também com os portais e sites que repercutiram a notícia. Sim, inclusive com o "F5", de onde eu faço parte.

Por isto não tiro o meu da reta. Mas me pergunto: será que não estamos indo longe demais?

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias