Tony Goes

A ascensão de Kim Kardashian, a mulher-fruta americana

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Uma tempestade perfeita se abateu sobre o mundinho fashion na semana passada.

Depois de anos sendo esnobada pelos árbitros da elegância, Kim Kardashian finalmente chegou lá. E este "lá" é nada menos do que a capa da "Vogue" americana, a publicação de moda mais influente do mundo.

Mas qual é a razão de tanto escândalo? Afinal de contas, Anna Wintour, a poderosa editora da revista (e a inspiração de Miranda Priestley, a personagem de Meryl Streep em "O Diabo veste Prada") gosta de fugir dos padrões de vez em quando. Ela já colocou a gorducha cantora Adele na capa, assim como a não menos rechonchuda Lena Dunham, da série "Girls".

Acontece que Lena e Adele têm talentos reconhecidos, enquanto que Kim Kardashian não passa de uma subcelebridade. A bem da verdade, uma mega subcelebridade: dezenas de produtos levam seu nome, de fragrâncias a sorvetes. Mas, apesar de se descrever como modelo, atriz e empresária, o fato é que Kim só é famosa por ser famosa.


Ela catapultou para a fama em 2003, da mesma maneira que sua amiga Paris Hilton: um vídeo dela transando com o então namorado vazou na internet. Kim processou muita gente por causa disto, mas eu não duvido que o golpe tenha sido calculado.

De lá para cá, a moça não parou mais: estrelou, ao lado das irmãs, dois reality shows sobre suas vidas no canal pago E!; posou nua para a "Playboy"; fez pequenos papéis em alguns filmes e seriados de TV; casou, descasou, casou outra vez e nunca mais saiu das revistas e dos sites de fofoca.

Construiu um pequeno império, mas faltava conquistar uma cidadela: o Olimpo dos realmente ricos e famosos, que vão às entregas do Oscar e ao baile que a "Vogue" oferece todo ano no museu Metropolitan de Nova York.

Nem roupa para ir a coitada tinha. Os designers badalados fugiam dela como o Super-Homem da kriptonita.

Enquanto rola uma briga de foice para vestir estrelas do cinema como Cate Blanchett ou Nicole Kidman, ninguém queria ver seus modelitos usados por miss Kardashian. Era o beijo da morte, o aval da cafonice, um desastre completo.

Mas Kim não se deu por vencida. Para começar, laçou um marido que já frequentava as altíssimas rodas do showbiz: o rapper Kanye West, recordista de vendas, adorado pela crítica, vencedor de inúmeros Grammy.

Graças à influência dele, começou a furar o cerco e a ser convidada para as festas que realmente importam. A "Vogue" capitulou no ano passado, chamando-a para o arrasta-pé no Met. De lá para a capa foi um pulo.

A presença dessa equivalente americana às nossas mulheres-fruta na bíblia fashionista foi o suficiente para que alguns leitores cancelassem suas assinaturas.

A capa infame, onde Kim aparece de noiva ao lado de Kanye West, também gerou vários memes e paródias. Mas Anna Wintour deve estar dando risada: fazia tempo que a "Vogue" não era notícia no mundo inteiro.

Agora, feliz mesmo deve estar Kim Kardashian. Seu passe acaba de se valorizar ainda mais, e a fila de empresas que querem seu nome emprestado para os mais diversos produtos deve estar dando volta no quarteirão.

Porque, no fundo, a mensagem implícita que ela passa é parecida com a de Valesca Popozuda e outras subs brasileiras: agite muito, se exponha, não desista nunca. Se para elas deu certo, pode funcionar com qualquer uma.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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