"A Vida de Rafinha Bastos" estreia com gosto de piada velha
Rafinha Bastos estava longe da TV desde que caiu fora da versão brasileira do "Saturday Night Live" (RedeTV!) antes que o barco afundasse de vez. Voltou ao ar no sábado (20) com programa próprio no canal pago FX, "A Vida de Rafinha Bastos".
O seriado mistura ficção e realidade, e teve um piloto exibido pelo mesmo canal há pouco mais de um ano. Nesse meio tempo, trocou de produtora (da Mixer para a Zeppelin) e viu seu orçamento cortado, o que fez o número de episódios cair de doze para oito.
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Foi um longo e tumultuado processo de gestação, que infelizmente não rendeu grande coisa. Pelo que se viu na estreia, Rafinha continua preso na mesma tecla "pause" que apertou há quase dois anos.
O cara tem uma das trajetórias mais interessantes do "showbiz" brasileiro contemporâneo. Até 2011, tudo em sua carreira ia às mil maravilhas. Catapultado à fama nacional por sua participação na bancada do "CQC" (Band), Rafinha se firmava como o comediante mais bem-sucedido de sua geração.
Chegou a ser apontado como a personalidade mais influente do Twitter, à frente de Obama e Lady Gaga, o que lhe valeu uma reportagem lisonjeira no "New York Times". Fluente em inglês, parecia estar pronto para conquistar o mundo.
Aí soltou a infame piada sobre Wanessa e o bebê, e o mundo lhe caiu sobre a cabeça. Foi processado pelos ofendidos, criticado pela imprensa e xingado pelos internautas. Pediu demissão da emissora e caiu em desgraça com boa parte do público.
Jamais pediu desculpas --o que eu acho, sinceramente, admirável. Humoristas não estão aí para agradar a todo mundo. Não existe humor a favor. Rafinha não traiu a si mesmo e continuou cáustico como sempre. Diz apenas que, hoje em dia, está mais atento e cuidadoso.
Mas ainda deu um azar adicional. Seu estilo de humor saiu de moda. Suas gracinhas com deficientes mentais, cadeirantes e mulheres feias, que se revestiam com o rótulo glamouroso do politicamente incorreto, agora soam apenas preconceituosas.
As razões deste fenômeno são muitas. Uma delas é a ascensão do "Porta dos Fundos" e similares. Goste-se ou não da linha adotada pelo grupo carioca, é inegável que eles preferem rir dos algozes, não das vítimas. Maridos machistas, homofóbicos enrustidos e até mesmo grandes empresas são os alvos da vez.
Outra razão é a própria mudança no clima político do país. A juventude que anda tomando as ruas não parece muita disposta a rir das minorias.
Enquanto isso, Rafinha continua carregando a cruz onde foi pregado em 2011. Seu drama profissional já rendeu alguns bons vídeos na internet e até mesmo o ótimo piloto de 2012. Mas a esta altura, quase dois anos depois, está mais do que na hora de mudar de assunto.
No primeiro episódio de "A Vida", ele se retratou como um gênio incompreendido, injustamente perseguido pelos chatos de plantão. O que não seria grave se o programa tivesse alguma graça. Não teve.
Já disse que o verdadeiro habitat de Rafinha Bastos é a TV paga (assim como é para o britânico Ricky Gervais). Mas, se quiser continuar nela, ele tem que deixar de ser autocomplacente e voltar a nos fazer rir.
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