As calças de Zeca Camargo e as ilusões de ótica da mídia
O mundo está mais rápido. A mídia também. Os canais por assinatura e a internet precisam de notícias novas o tempo todo, sem parar. Essa correria por novidades faz com que fatos irrelevantes se tornem manchetes. Acabamos com uma visão distorcida da realidade.
A culpa não é só de quem escreve, mas também de quem lê ou assiste. Projetamos nossas ideias pré-concebidas sobre o noticiário e acreditamos numa versão fantasiosa dos fatos, concebida em parte por nós mesmos.
Um exemplo recente: as calças de Zeca Camargo. Ontem circularam pela web inúmeras notinhas sobre o "vexame" que o apresentador teria passado em pleno palco, quando suas calças sofreram um enorme rasgão durante uma palestra.
O próprio "F5" deu a notícia com destaque, e é claro que choveram comentários. Muita gente disse que Zeca tinha voltado a engordar, e que por isto suas calças teriam "explodido".
Ontem mesmo ele subiu um post em seu blog explicando que não foi bem assim. O rasgo aconteceu antes dele entrar no palco, e era tão pequeno que ninguém da plateia conseguiria ver.
Mas, para provar que este acidente insginficante se transformaria em notícia, Zeca contou para sua audiência o que tinha acontecido. E apostou que ela logo seria tuitada e repetida na rede, até se transformar num episódio gravíssimo. Dito e feito.
Outro exemplo, este com consequências potencialmente mais sérias: a transformação de Ana Lúcia Assad, a advogada de defesa de Lindemberg Alves, na vilã da hora. A moça está sendo hostilizada ao deixar o tribunal, tanto que ontem precisou de proteção policial.
Não sou expert em direito para dizer se Ana Lúcia está mesmo se excedendo, nem sei o que realmente está se passando durante o julgamento. Só vejo os relatos que aparecem na imprensa, geralmente carregados de sensacionalismo.
Mas sei que temos uma enorme dificuldade em compreender que até mesmo réus confessos têm direito à defesa. Aconteceu coisa parecida com o advogado de Alexandre Nardoni.
A realidade é cinzenta e cheia de dubiedades. Mas preferimos um mundo em preto e branco, com mocinhos e bandidos bem definidos. Também adoramos acreditar que coisas fantásticas se passaram, quando de fato pouco ou nada aconteceu.
Pega bem reclamar, mas no fundo gostamos que as coisas sejam assim.
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