Atriz de poucos trabalhos, Betty Lago ficou na memória
Morreu Betty Lago. Fazia tempo que não via uma repercussão tão grande pela morte de um artista nas redes sociais. Betty não fez tantas novelas assim, não fazia teatro... mas era querida pelo público. Muito querida.
Em meio ao furacão que foi a estréia da minissérie "Anos Rebeldes" em 1992 —a série que ajudou a impulsionar as passeatas pelo impeachment do Collor— havia esse rosto novo: Betty, estreando na TV aos 37 anos, linda como uma atriz de Antonioni, uma mistura de Monica Vitti com Jeanne Moreau. Seu personagem, Natália, vivia o dilema dos anos 60: casada com um poderoso banqueiro (José Wilker), se envolvia com um professor de esquerda (Kadu Moliterno) e sofria com a filha que se envolvia na luta armada (Cláudia Abreu).
Dois anos depois, a gente iria descobrir que Betty não era só linda: era inteligente e dona de um senso de humor quase negro, largado, que destoava deliciosamente da sua imagem de ex-modelo glamourosa. Não à toa, se integrou com perfeição às molecagens e ao humor dos homens sem camisa das novelas de Carlos Lombardi.
A primeira delas foi também a melhor: em "Quatro por Quatro", ela era uma das mulheres que buscavam vingança dos ex-maridos, ao lado de Cristiana Oliveira, Elizabeth Savalla e Letícia Spiller. "Quatro por Quatro" fazia comédia do feminismo como nenhuma outra. Outras novelas sem brilho se seguiram ("Uga Uga", "Kubanacan", "Pé na Jaca"), mas no meio de tudo outro ponto alto: a minissérie "Quinto dos Infernos" (2002), também de Lombardi, em que carregou nas tintas pra viver a fogosa e arrogante Carlota Joaquina.
Mais tarde, as opiniões fortes e o humor constante face aos problemas da vida deram uma bela levantada no "Saia Justa" do GNT.
O câncer na vesícula que a levou cedo, aos 60, deixa uma lição. Nas últimas entrevistas, Betty admitiu que adiou inúmeras vezes a cirurgia de extração do foco por conta da rotina. "Não tinha a capacidade de enxergar porque, sem querer, me acreditava imortal." Que venham as novas Bettys Lagos na TV, lindas e desbocadas como ela.
AS VERDADES DE WALCYR
Walcyr Carrasco, autor de "Verdades Secretas", me escreveu para agradecer a penúltima coluna, mas também para discordar da passagem em que comparo a trama principal da novela aos romances "Sabrina" vendidos na banca,.
"O que você diria da história de uma mulher linda e bem casada que se apaixona por um belo militar? Rompe todas as convenções para ficar com ele, engravida, mas o marido não quer lhe dar o divórcio. E assume a filha. O militar se cansa dela. Finalmente, angustiada, ela se atira sob as rodas de um trem. Talvez pudesse estar num romance popular. Mas estou falando de 'Anna Karenina' de Tolstói. Não me acho tanto assim, entre minha pessoa e um autor desse porte há uma grande distância. Só quero dizer que todas histórias podem estar aqui ou lá. Depende da maneira como são contadas e muitas vezes, o limite é tênue."
Concordo, Walcyr —e lamento se dei a entender que o mérito de "Verdades Secretas" está em todos os lugares, menos no texto. Sim, a história do homem que pega mãe e filha ao mesmo tempo continua me parecendo enredo de filme erótico. Mas a maneira como a coisa está se desfiando aos nossos olhos é eficiente demais. A gente quer ver mais. Aí está o seu mérito.
Não se incomode quando eu digo que amo e odeio o seu trabalho. Isso é melhor do que só amar. "Verdades Secretas" me desperta todos os sentimentos, bons e ruins —quer melhor garantia de manter um espectador ligado até o último capítulo?
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