Thiago Stivaletti

O que aconteceria se todas as novelas fossem no horário das 23h?

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Que maravilha é a novela das 23h. Ali tudo pode, tudo acontece. Um bonitão pode pagar para transar com uma menina de 16 anos, depois casar com a mãe dela, e ainda continuar transando com a menina dentro de casa. Um colega de escola da mocinha, frustrado com sua virgindade, pode propor um programa a ela.

A Grazi pode se afundar no crack, se prostituir e quebrar o quarto inteiro de um cliente. O Giannechini pode transar com um homem, com a patroa e com uma garota de 16 ao mesmo tempo — ao mesmo tempo na história, não na mesma cena, que aí já era pedir demais. Um assistente de moda pra lá de gay pode transar com a amiga de trabalho e "ficar confuso".

Às 23h, o Grego (Caio Castro) da novela das 19h seria um traficante de boca cheia, e não teria apenas "um escritório" na comunidade. Cada cena dele começaria com o moço se servindo numa bandeja de prata cheia de carreirinhas de cocaína. A freirinha da Alinne Moraes na novela das 18h já teria recebido uma proposta para entrar num book rosa que faria sucesso entre os barões do século 19. E o Morro da Macaca da novela das 20h também fervilharia com tiroteios, alto tráfico de drogas e mocinhas de prostituindo.


Por isso, preciso confessar: eu amo o Walcyr Carrasco. E odeio o Walcyr Carrasco também. Ele faz uma história cuja trama principal parece vir do romance mais vagabundo de Sabrina que você encontra na banca. Mas algo faz toda a diferença em "Verdades Secretas": a direção chique-total de Mauro Mendonça Filho. Uma fotografia cheia de sombras, uns silêncios pesados em meio aos diálogos, uma luz que dá uma beleza interessante aos personagens principais. E claro, aquela trilha sonora meio inebriante, que parece hipnotizar e preparar para o sono logo depois, começando pelo Massive Attack "charmoso e sensual" da abertura.

TOCOU NA CÁSSIA, VIRA OURO

Nos primeiros capítulos de "A Regra do Jogo", para muito além de Alexandre Nero e Giovanna Antonelli, dois destaques. O primeiro é Cássia Kiss (nunca Magro, e nunca com um S só). Qualquer um que chegou perto da mulher nestes primeiros dias (Nero, Tony Ramos, Suzana Vieira) ganhou uma grande cena. Uma atriz sensacional, com o papel mais rico da novela até agora.

O segundo: a Sumarinha de Karine Telles, atriz que também está brilhando no cinema, como a patroa de Regina Casé em "Que horas ela volta?". Sumarinha é meio tonta, cai nas ciladas de Atena, mas também tem um lado histérico divertidíssimo. Será que abandona a novela em breve? Vai fazer falta.


Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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