Renato Kramer

Regina Duarte: a estrela brilha na despedida de "O Astro"

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

"Sim, inspetor... o senhor não precisa investigar mais nada. Fui eu que matei Salomão", confessou com alívio e altivez Clô Hayalla (Regina Duarte). Madura, controlando cada movimento seu, trazendo a sua alma aos grandes olhos expressivos --a atriz Regina Duarte comprovou, na cena do seu depoimento, à família que a rodeava e aos policiais que tentavam acuá-la, que quem foi rainha jamais perde a majestade.

A cena se desenvolvia na sala da casa de Clô, onde o inspetor Eustáquio --no melhor estilo Hercule Poirot, dos filmes de Agatha Christie, apresentava o grande painel de suspeitos elaborado por suas investigações. Como de praxe, todos os envolvidos teriam motivos para matar Salomão Hayalla. Até mesmo Samir, que não estava presente por ter sido preso momentos antes.

E para ficarmos mais afeitos ao clichê dos filmes policiais, o mordomo Inácio (Pascoal da Conceição, numa boa participação) foi o primeiro a ser apontado como culpado. Mas foi culpado só do primeiro passo. Trocou os remédios de Salomão, que o fez passar mal, mas não o matou. Em seguida Youssef (José Rubens Chachá), a mando da mulher (Vera Zimermann), vai até o quarto e, ao invés de ajudar Salomão, lhe desfere uma coronhada na cabeça que o fere muito, mas ainda não o mata.

Crédito: Alex Carvalho/TV Globo A atriz Regina Duarte em "O Astro"
A atriz Regina Duarte em "O Astro"

É quando chega Clô Hayalla (Regina Duarte) e aproveita a zonzeira em que o marido se encontra e desabafa tudo o que estava trancado em sua garganta. Especialmente o mal que Salomão causou ao seu amado filho Márcio --dopando-o e internando o rapaz numa clínica para desequilibrados. Só porque ele pensava diferente do pai.

"Desde aquele dia eu ficava fantasiando como seria a morte do Salomão", confessa Clô com a tranquilidade de quem fez o que tinha que ser feito. Sem exageros, sem economia de emoção: com a alma lavada de uma mãe que defenderia o seu filho até as últimas consequências. Naquele corpo frágil e mignon da atriz, os olhos de leoa soltavam faíscas ameaçadoras cuja mensagem era muito clara: "matei sim, pra defender meu filho!". "Pode me prender, inspetor --estou pronta. Não esqueça as algemas", disse juntando os pulsos. "Faço questão das algemas", concluiu firme e com certa ironia. Não deve ser à toa que "Regina" é "Rainha" em italiano.

A noite foi mesmo das mulheres --os homens do elenco que me perdoem. Todas brilharam.

Vera Zimermann, a "divina Magda" de 'Meu Bem, Meu Mal' (1990), que voltara com a personagem em "Ti-Ti-Ti" (2010), sempre na Rede Globo --teve bons momentos com a sua Nádia em cenas de flash-back. Especialmente quando soube que Salomão Hayalla a chamara de "útero seco". Transtornada, exigiu vingança por parte do seu marido Youssef.

Guilhermina Guinle, que já tinha participado de belas cenas no decorrer da trama, na despedida apareceu glamourosa e vencedora, assumindo o departamento jurídico do Grupo Hayalla.

Juliana Paes, que já carregou novelas inteiras nas costas, esteve modesta e nobre no papel da secretária estonteante que já estava esquecendo Herculano, quando recebeu o novo diretor executivo do grupo. Personagem relâmpago vivido pelo bonitão Márcio Garcia, Nina (Juliana Paes) percebe na mesma hora que os seus olhos encontram os dele que praticamente já esquecera mesmo de Herculano!

Bel Kutner, sendo filha de quem é (os talentosos Paulo José e Dina Sfat --com quem está cada vez mais parecida!), tem mesmo o talento no DNA. Presença marcante na telinha, tem o domínio de sua força, que não é pouca, e de seus momentos ternos-- e sabe muito bem dosá-los a favor do realismo das cenas. "O Amin não é um príncipe, mas eu gosto!", declarou Silvia (Bel Kutner) com a malícia e o dengo necessários.

Carolina Kasting, a misteriosa Jamile. Um belo rosto de princesa que numa questão de segundos se transforma em uma criatura fria e objetiva. Foi perfeita ao anunciar que preferia a sua solidão do que ter que continuar a conviver com o 'verme' do marido (o mesmo Amin que Silvia tanto gosta!).

E então, temos mais um momento grandioso: o da atriz Rosamaria Murtinho. Depois de ser expulsa da casa dos Hayalla, foi para um hotel, num andar alto. Tomou banho, escovou seus cabelos, vestida apenas com um roupão. Sentou-se à frente do espelho da penteadeira e, em close, de cara lavada, ficou encarando a si mesma. A personagem Magda se despojara de suas culpas, de seus tormentos e, talvez pela primeira vez, enfrentava a si mesma assim: sem recursos de maquiagem, sem artifícios, sem truques, sem máscaras. A grande atriz, por sua vez, entregava-se ao ofício num ritual quase religioso: de corpo e alma e a coragem absoluta de mostrar-se de cara limpa. Com o olhar de quem já cumprira a sua missão nesse mundo, Magda tinha resolvido partir. Suicidou-se. Bela cena. Bravo.

Eis que surge Carolina Ferraz (Amanda) indo à Santa Fé para encontrar-se com Herculano Quintanilha. Lá, vivem cenas tórridas de amor, ao mesmo tempo que suaves e cheias de poesia. No final, ela conta que está grávida. Herculano fica comovido. Marcam de se encontrar numa festa especial no palácio do Presidente. Ela vai, toda linda, num belo vestido 'rosa velho' com brilhos prata e grandes brincos também em prata. Um volumoso mega-hair nos cabelos valoriza ainda mais o seu rosto. Demonstra segurança e um controle maior sobre a sua atuação. Sempre com aquela carinha de menina-moça. Sim, porque o tempo parece não passar para Carolina Ferraz.

Há uma invasão de rebeldes no salão e Herculano é metralhado. Amanda se desespera. Há uma passagem de tempo grande. Ela aparece numa ilha paradisíaca com o seu filho já crescidinho. Nisso, surge de repente Herculano Quintanilha todo de branco, correndo pela praia como se nada acontecera. Não morrera com aquele monte de tiros? Bem, bruxo é bruxo!

E ao doce som de Easy (The Commodores - 1977), Herculano já começa a ensinar o menino a tirar uma pomba da cartola. Afinal, filho de bruxo, bruxinho é!

No final de "O Astro", as estrelas formaram uma grande constelação.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias