Renato Kramer

'Diretor de televisão tem que ter um pouco de útero na cabeça', diz Boni

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Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), o ex-'todo poderoso' da Rede Globo, esteve no "Programa Amaury Jr." (Rede TV) na última quarta-feira (2) para falar do seu livro mais recente "Unidos de Outro Mundo –Dialogando com os Mortos”.

No livro, Boni simula a própria morte. "Foi a maneira de encontrar com os amigos mortos", explica o autor. "Aí você vai para o céu encontrá-los?", questiona Amaury. "Não é exatamente o céu", observa Boni. "É um campo de reconexão".

No seu texto, Boni cria um acidente que o teria levado à morte. Amaury quis saber por quê. "A narrativa de um acidente é mais interessante do que a da morte natural. Aliás, eu espero morrer de acidente e nunca de morte natural", declara o pai do Boninho (diretor do "Big Brother Brasil" - Globo).

Sobre por que resolveu escrever essa história, Boni declarou: "O fato é que eu cultivo muito os meus amigos. E me bateu uma saudade imensa deles, então eu tinha que dar um jeito de conversar com eles. Como eles não poderiam vir pra cá, eu fui pra lá", explica.

E argumenta: "Todos nós cometemos erros com amigos, com parentes, de a gente não dizer em vida o quanto os ama. Depois, quando o cara parte, você pensa: 'Poxa vida, gostaria de ter dito tanta coisa pra esse cara'. É o que está no livro, o que eu gostaria de ter dito a essas pessoas que se foram", conclui Boni.

Na ficção, quando Boni chega ao tal "campo de reconexão", é recebido por João Araújo (1935-2013), pai do cantor e compositor Cazuza (1958-1990). "Por que ele?", quis saber Amaury. "Porque ele era muito meu amigo e morreu no dia do meu aniversário. Eu o tinha convidado para almoçar e, quando liguei pra casa dele, soube que tinha falecido naquela madrugada", conta o homem que criou o "padrão Globo de qualidade".

Comentando sobre a sua morte fictícia, Boni dá dicas de seus últimos desejos: "Quero ser cremado, mas não querem que assem meu celular nem que me enterrem de terno. Quero ir bem confortável, nu, se for possível".

Boni brinca carinhosamente com os colegas e amigos que já se foram e faz uma piada espirituosa com Mièle (1938-2015): "Quando morreu o Mièle quase faliu a Escócia. O maior consumidor de uísque foi embora".

Sobre Walter Clark (1936-1997), Boni faz uma declaração especial: "Ele foi uma grande pessoa, uma grande figura que deu partida na Rede Globo. Trabalhamos dez anos juntos, depois eu fiquei mais 21 anos na Globo sem ele. E o que eu queria dizer para o Walter que não disse em vida é que eu não tive nada a ver com a saída dele da Globo", confidencia Boni.

E esclarece: "Foi uma coisa entre ele e o Dr. Roberto (Marinho). Eu também não podia sair da emissora em solidariedade ao Walter, porque eu tinha compromisso naquele momento com mais de 700 pessoas. Eu tinha levado para lá Dias Gomes, Janete Clair, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Francisco Cuoco, Regina Duarte... Eu não podia abandonar esse pessoal", argumenta o ex-manda-chuva da Globo.

E acrescenta: "Ele (Clark) cobrou essa solidariedade numa única conversa que tivemos depois da saída dele. Não tivemos nenhuma outra conversa mais. Muito mais tarde voltamos a nos falar, ele pediu alguma ajuda, e eu o ajudei porque tinha um respeito e uma admiração muito grande por ele”, afirma Boni. 

“Mas o que eu queria dizer para ele está no livro: que nós éramos jovens demais e experientes de menos. Só tínhamos pontos de vista diferentes, mas não havia uma briga pessoal", diz.

Depois de uma festa com figuras proeminentes de Brasília, na qual Walter Clark teria bebido demais e desrespeitado as senhoras presentes próximo de  Roberto Marinho, ele foi despedido. "Eu fui até o Dr. Roberto pedir para o Walter ficar. E assumi a responsabilidade de controlar o Walter. Mas o Dr. Roberto me disse: 'Eu prefiro perder a TV Globo do que ficar com o Walter'", conta Boni.

Essas e muitas outras revelações estão no livro "Unidos do Outro Mundo – Dialogando com os Mortos" (Estação Brasil), de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que confessa ser "Roque Santeiro" (1985) a sua novela preferida e afirma que diretor de televisão tem que ter um pouco de útero na cabeça para saber agradar o público feminino.

 


                                       

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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