Renato Kramer

'Só a culpa dá um certo regulamento ao canalha', afirma Xico Sá

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Os meninos Marcelo Tas, Léo Jaime, Xico Sá e João Vicente, do "Papo de Segunda" (GNT), debateram, entre outros assuntos, sobre a famigerada "culpa" na última segunda-feira (7).

"É um sentimento terrível a culpa, mas se não fosse a nossa culpa de fazer mal aos outros, o que seria dessa civilização já tão capenga?", jogou no ar a questão Marcelo Tas. "O Homem já tinha acabado!", decretou Xico Sá.

"A culpa tem então uma função social?", indagou Tas. "A culpa é que regula o vagabundo", acrescentou Sá. "A culpa humaniza", declarou Jaime. "A culpa é o bridão (espécie de freio usado em cavalos) do vagabundo!", arrematou Vicente. "Falou o gaúcho!", concluiu Tas.

Marcelo joga para o público uma enquete: "O que é mais difícil, pedir desculpa ou perdoar?. "Essa é uma questão shakespeariana", disse Tas. Num primeiro momento, 77% afirmava que perdoar é mais difícil. Acabou quase assim (73%).

O escritor Ignácio Loyola Brandão, 80, tratou em seu mais recente livro ("Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos") de uma espécie de pedido de desculpas ao seu avô por uma molecagem que fizera aos nove anos de idade. E deixou em vídeo uma pergunta para a turma do "Papo de Segunda": "Qual é a culpa de vocês?".

"Eu preciso de um programa inteiro só pra isso!", exclamou João Vicente. "Eu sinto culpa três vezes ao dia", confidenciou Léo Jaime. "Tenho culpa de não dedicar tempo para a mina avó, sinto culpa de não dedicar tempo à minha família. Sinto culpa de uma ex-namorada porque eu fiz besteira porque eu era inseguro", soltou o comediante.

"Mas você quer dar nomes, botar o caso na mesa?", instigou Tas. "Ninguém que vocês conheçam. Foi só uma namorada que era mais velha do que eu, eu achava que ela era boa demais pra mim e por insegurança eu fiz uma besteira numa festa, expus ela. Tipo: antes que façam comigo eu vou fazer. Anos depois eu mandei e-mail pra ela e a gente se resolveu", declarou João Vicente.

Crédito: Zanone Fraissat - 20.jun.2012/Folhapress
O jornalista e apresentador, Xico Sá

"A culpa não é quando a gente age de um jeito que não somos nós, de um jeito que não é autêntico?", perguntou Marcelo Tas. "Eu penso de outra forma", cortou Jaime. "Eu acho que a culpa não se dá apenas quando eu erro. A culpa se dá quando eu faço escolhas. Agora pensando numa grande culpa, eu estou me lembrando de quando meu filho nasceu a minha mulher ficou com depressão pós-parto. E eu demorei a perceber isso", relata.

E acrescenta com emoção: "Eu não sabia naquele momento dimensionar o quanto ela estava sendo vitimada por aquilo. Hoje quando eu olho pra trás eu vejo que no momento que ela mais precisava, eu não a estava compreendendo. O quanto eu precisava lhe dar o conforto ao invés de me afastar, magoado pelo que estava acontecendo. Eu acho que nunca falei isso pra ela", confidenciou o cantor.

Quanto a Xico Sá? "Eu tenho a culpa do varejo, a de todo o dia —por palavras, atos e agressões. Por mentiras e um bocado de coisas, principalmente no campo amoroso. Mas tem uma específica, que lembrei agora com esse depoimento do Léo, que é de uma promessa. eu tava num namoro, firme, bonitinho, arrumado lá no Recife. e eu prometi, fiz um esboço de uma viagem que seria a primeira viagem pra fora do Brasil com a moça. Aí, acaba a coisa, e dois dias depois eu cumpro a coisa com outra moça!". Todos se divertem com a maneira espirituosa de Xico contar a sua história. Para pedir desculpas, Sá faz um convite: "Analice, vamos viajar agora, meu amor?".

Marcelo Tas confidencia que sente uma culpa antiga: tinha vontade de almoçar no domingo na casa de seus avós, maternos e paternos, que moravam perto. Então ficava correndo de uma casa para a outra, tentando se dividir e almoçar com todos ao mesmo tempo.

Em sua costumeira crônica final, Xico Sá arremata: "Só a culpa dá um certo regulamento ao canalha. Já pensou viver sem essa coleira cristã? Eu já teria morrido de tanta vadiagem!".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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