Renato Kramer

'Fiz novela atrás de novela para conseguir dinheiro', diz diretor de 'Chatô'

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O ator e diretor Guilherme Fontes esteve no "Fantástico" (Globo) do último domingo (6) para falar sobre seu filme "Chatô, o Rei do Brasil", que está sendo muito bem recebido pelo público e pela crítica.

"O filme é uma comédia dramática, não é um drama", ressaltou Guilherme. "É sobre um personagem ímpar (Assis Chateaubriand, 1892-1968). É um herói, um anti-herói —é um personagem vencedor em milhões de aspectos. Ele ajudou a construir o Brasil que você conhece, que você vive", afirma Fontes.

"Chatô foi dono de um império de comunicações entre os anos de 1930 e 1960", lembra o apresentador Tadeu Schmidt. "Teve mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV. Foi ele quem trouxe a televisão para o Brasil, inaugurando a TV Tupi em 1950", completou.

Tadeu lembra também que foi Chateaubriand quem fundou o MASP (Museu de Arte de São Paulo) e foi eleito senador por duas vezes.

"Ele era um magnata das comunicações, um homem de imprensa, um homem que cria polêmicas, um fazedor de polêmicas. Por que ele não faria polêmica comigo?", acrescenta o diretor. A tal "polêmica" foi responsável pelos 20 anos que o filme demorou para ficar pronto.

Crédito: Folhapress
Ator e diretor Guilherme Fontes, no "TV Folha"

Sobre essa demora, Fontes tentou resumir: "É um épico sobre a história contemporânea, um homem muito complexo, um personagem muito difícil. Uma história como essa não demoraria menos do que 5, 10 anos para ser feita. Filmes como esse talvez não sejam nem feitos hoje em dia", explica.

Schmidt comenta que o filme foi financiado com incentivos fiscais, e o diretor foi acusado de mau uso desses recursos públicos.

"Eu usei os incentivos fiscais e aí quando o governo quebrou esse contrato comigo, eu perdi o direito de captar e ninguém filma no Brasil sem incentivo fiscal —a co-produção independente no Brasil é com incentivo fiscal. Então quando me tiraram isso eu não pude mais fazer", argumenta o ator.

E acrescenta: "Aí eu fiz novela atrás de novela pra conseguir dinheiro. Ainda tinha que lutar contra todas essas intempéries, enfim...", conclui.

O apresentador questiona se Guilherme fica preocupado com uma possível repercussão negativa por essa questão toda da demora de 20 anos. "A minha única resposta pra chegar aqui era o filme. Não dava mais pra ir pra televisão ficar falando de tributos, de dinheiro, de processo", responde Fontes.

Quanto à repercussão desde a estreia há três semanas atrás? "Incrível!", exclama Guilherme muito animado. "Inacreditável. Eu nunca pensei em ser unânime, ainda mais da crítica. Acabou acontecendo isso: todo mundo adorou!", comemorou o diretor que foi premiado na última quarta-feira como melhor diretor de 2015 pela A.P.C.A. (Associação Paulista de Críticos de Arte).

"Nem eu tô entendendo direito! Parece que eu ganhei um prêmio de loteria. Tô muito feliz!", afirmou Fontes, que dedicou o prêmio às pessoas que o acompanharam na realização de "Chatô, o Rei do Brasil". "Eles que ficaram sofrendo esse tempo todo, sem saber direito o que tinha acontecido, o que houve o que não houve. O que importa é que o filme tá lá, as pessoas tão indo e elas adoram!", arremata o diretor.

Tadeu quis saber se ele vai voltar a fazer só as novelas ou tem novos projetos para o cinema. "Eu tô louco pra fazer novos filmes agora. Já me pediram algumas coisas... Tudo aquilo que tava na gaveta represado tá voltando", afirmou.

E, para encerrar, Guilherme Fontes confidenciou: "Tem duas coisas importantes na minha vida: poder e religião. Vou falar sobre religião —essa é a minha próxima tarefa. Talvez uma religião de futuro. Ficção científica com religião", adiantou.

"Que não demore mais 20 anos!", brincou o apresentador. "Ah, não! Em um ano eu prometo entregar uns 20!", retrucou o melhor diretor do cinema brasileiro de 2015.


Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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