Renato Kramer

No humor 'não havia esses pudores de hoje', diz Juca Chaves

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"Por que tudo no Brasil tem que ser 'estrangeirismo'?", perguntou Amaury Jr. (Rede TV) já quase encerrando uma divertida entrevista com o cantor Juca Chaves na noite desta terça-feira (21).

"Eles gravam em 'álbum', não em 'disco', é mais chique gravar em álbum!", ironiza Juca. E argumenta: "O brasileiro tem complexo da língua. Eles não sabem falar a própria língua, que é o português —o verdadeiro português de Portugal. Sem gerúndios, sem cantando, amando, falando... 'Vou ir'.' A gente podemos' —aquelas coisas", exemplifica o compositor.

"Esse é um problema muito sério: ele não fala o inglês, mas também não fala português", acrescentou. "Eu acho que existe um medo do brasileiro de ter a sua própria cultura —que é rica, muito rica!", observa Juca.

"Eu estudei folclore com o Alceu Maynard Araújo quando ainda era garotinho, tinha uns anos menos do que tenho agora", brinca o cantor, que completa 77 anos de idade em 2015, "e não havia esses pudores de hoje. Hoje você não pode falar certas palavras", declara.

Crédito: Divulgação Cantor Juca Chaves
Cantor Juca Chaves

E solta, com seu característico humor debochado: "Imagine se você falar: 'aquela bicha louca!'. Você não pode falar isso, é proibido por lei. Você tem que dizer assim: 'um homossexual com desvarios de gestos", criticando o atual policiamento exacerbado do 'politicamente correto'.

Aproveitando o ensejo, Juca conta uma piada de 'preconceito social'. Um garoto fala para o pai: Papai, eu sou gay! O pai fala: Não tem importância, meu filho, eu não sou homofóbico, não sou ministro. Você tem dinheiro? O garoto: Não. Você tem apartamento? Não, pai, não tenho. Você tem carro?, insiste o pai. Não, não tenho. Meu filho, você não é gay —você é viado mesmo!".

Sobre o teatro que administrava em São Paulo e que leva o seu nome, o compositor declarou decepcionado: "Eu passei pra frente, porque fiquei nove anos tentando patrocínio e apoio. Resolvi crer que no Brasil os intelectuais não são ricos, apenas têm dinheiro. Porque rico que só tem dinheiro não é rico, falta-lhe a cultura. E não tem ninguém que apoie por ser teatro, ninguém: nem bancos, nem governo, nem povo —ninguém!", desabafa Chaves.

E acrescenta: "Todo o mundo quer assistir teatro pagando 12 reais e 50 centavos, que é um dos crimes para o teatro brasileiro. O artista, como é vaidoso, fala assim: mas eu tenho a casa cheia! Em compensação tem credores que não acabam mais! Por isso é que eu passei o meu teatro pra frente", argumenta Juca Chaves.

Mas nem por isso pretende deixar os palcos: o cantor já está preparando um novo espetáculo para se apresentar no teatro do Hotel Maksoud Plaza (SP), onde já fez shows em diversas ocasiões."Você vai estrear quando?". quis saber Amaury. "Estrear não, eu estreei há 60 anos atrás! Eu vou fazer talvez uma centésima quadragésima temporada!", se diverte Juca Chaves.

Já na despedida, logo após elogiar as filhas Maria Clara e Maria Morena, o compositor solta uma piadinha rápida, elogiando o ex presidente americano Bill Clinton. "O Clinton era um cara inteligente, um grande presidente", disse Juca, com ar circunspecto. "Ele só ganhou aquele processo contra Monica Lewinsky porque ela, a ré, engoliu as provas!". Amaury Jr. gargalha.

"Eu vou lá no Maksoud te ver e depois vamos tomar umas e outras. Você tá tomando ainda?", pergunta Amaury. "Eu só tomo água de côco. A Yarinha [esposa] bebe e fuma. Eu não bebo e não fumo e ela fala que eu não tenho cheiro de homem! Ainda levo essa pra casa!", encerra o eterno seresteiro.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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