"Você tirou o beijo [a palavra "kiss"] do seu nome?!", foi logo questionando a jornalista Marília Gabriela ao iniciar a entrevista com a atriz Cássia Kis Magro no último "Especial Mês da Mulher" (GNT) deste domingo (29).

"Primeiro que eu estou gostando muito", retrucou a atriz, "cada vez que eu assino o Kis com um 's' só eu acho muito mais bonito". E aproveitou para explicar a origem do seu verdadeiro nome: "O Kis, que se diz 'quisch' – a única pessoa que me chama assim é o Tony Ramos, é de origem húngara e quer dizer 'pequeno', é um sobrenome tão comum quanto 'da Silva'!".

"Era uma coisa que me incomodava porque quando eu botei um 's' a mais era porque também fazia um desenho bonito, mas achei que era hora de consertar isso. Aí eu não só consertei como fiz questão de colocar o nome (Magro) do homem que eu escolhi para passar a minha vida. E espero estar casada com ele até o meu último suspiro".

"Você é uma atriz realmente extraordinária, eu sou apaixonada pelo seu trabalho – e a sensação que eu tenho é que você é uma mulher tão doida que deve ficar muito inquieta se não estiver interpretando, pode ser?", observa a apresentadora.

"Eu estou sempre trabalhando. A profissão de atriz me salva muito dessa loucura de ficar observando a vida o tempo todo– eu tenho como desculpa o fato de ser atriz. Minha filha que me diz: mãe, para de olhar! Porque às vezes eu estou numa situação e fico observando um conflito, uma cena, uma pessoa – fico olhando sem críticas, sem avaliações, o que não é muito fácil, mas é do que eu estou correndo atrás", declara Cássia.

E acrescenta: "Eu não seria a atriz que eu sou hoje se eu não tivesse a história que eu tenho – porque é essa história que realmente me coloca na vida. Um ator, pra ser ator, tem que estar na vida. E eu quero estar cada vez mais na vida", afirma Kis que recebeu em 2014 o Prêmio A.P.C.A. (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de Melhor Atriz por suas participações em "O Rebu" e "Amores Roubados" (Globo).

"Você é assim desde quando?", perguntou Gabi. "Muito cedo na minha vida eu encontrei um guru. Eu passei a ler os discursos dele num jornal que tinha aqui em São Paulo. Era um cara chamado Bhagwan Shree Rajneesh (1931 - 1990). Esse cara foi muito importante pra mim. Ali eu comecei a meditar". "Você faz isso até hoje?". "Ah, eu voltei a meditar. Depois de ter sido diagnosticada como bipolar e tomar remédios por cinco anos, no ano passado eu tomei a decisão de parar com os medicamentos", conta Cássia.

"Olha que eu também me salvei porque casei com um psicanalista. Não vou dizer que ele é meu médico, ele não é – ele é meu marido e a gente tem os conflitos que um casal tem. Mas eu falei pra ele que ia tirar os medicamentos e ele me pediu pra tomar cuidado e seguir instruções médicas", confidencia a atriz. "E por que tirar os remédios?". "Porque eu sabia que esse seria o caminho para eu resgatar a meditação. Porque a única coisa que te salva é a meditação", afirma Magro.

"Você sabe que é muito bom dizer: eu não sou bipolar!", desabafa Cássia. "Eu prefiro concluir que tenha sido mesmo um diagnóstico errado. Aí você sai do médico com uma dose inacreditável de medicamentos, passa a dormir pelo menos 15 horas por dia, o resto do dia você fica 'zureta' – até que chega uma hora que você entende que está vivendo num mundo de medicamentos! Aí eu falei, mas não é isso o que eu quero! Eu não preciso disso, eu conheço outros caminhos. Então eu estou aqui dizendo pra você que há um outro caminho!", concluiu.

Sobre o Prêmio A.P.C.A., Cássia confessa: "Lá atrás eu já quis receber esse prêmio. Eu já pensei assim, poxa nunca ganhei um A.P.C.A.! E eu tenho vários prêmios, vários – nenhum aqui de São Paulo, esse é o primeiro! Esse prêmio serve pra eu estar dizendo isso aqui pra você: do amor que eu tenho por essa cidade. Eu amo São Paulo. Eu sou de São Caetano do Sul, mas comecei a fazer teatro aqui, com o mestre Ulysses Cruz", declara a atriz.

"Uma pessoa como você que passou pelo cortiço, passou pela rua, teve várias atividades, consegue um dia deixar de sentir uma certa angústia essencial?", questiona Marília. "Não, é impossível", responde Cássia de pronto. "Eu posso dizer que você tem uma cara triste?". "Claro, eu sofro", retruca Cássia. "A vida é sofrimento. A vida é um drama. A gente se diverte, acontece um monte de coisa e tal, mas a vida é sofrimento", insiste a atriz.

"Pra mim todos os dias é tirar uma pedra do caminho e dar um passo. Eu tenho 4 filhos. E filho é problema. Filho é maravilhoso, mas é problema!", ressalta Kis. "Filho é problema para sempre!", completa a jornalista. "E como é que eles reagem a essa mãe, porque você não é uma mãe comum!?", quis saber Gabi. "Não, não sou", concorda Cássia. "Eu acho que é trabalhoso pra eles também, mas eu luto pra ser uma pessoa muito interessante pra eles (Joaquim, 19, Maria Cândida, 18, Pedro Gabriel, 13 e Miguel, 10)".

"O de 10 anos eu amamentei até os 4 anos e meio", lembra Cássia. "Isso provocou uma ira profunda! As pessoas são muito doidas! Nessa era da internet, as pessoas falam coisas terríveis. A que você atribui isso?", indagou Gabi. "Eu queria ter amamentado até os 7!", retruca enfática. "Foi por causa dos medicamentos com a história de ser bipolar que eu tive que parar de amamentar. Mas era uma coisa maravilhosa. Eu tenho fotos do Miguel de capacete, com o skate debaixo do braço e dizendo pra mim: mãe, quero peitinho!", conta Cássia.

A atriz, que se considera uma mãe incrível, é absolutamente contra o aborto. "Se aparecer na minha frente uma mulher grávida eu vou fazer essa mulher desistir do aborto, não tenha dúvida! Porque eu sou mãe, tenho quatro filhos! E acabar com uma vida, porque já tem ali um coraçãozinho batendo", declara emocionada a atriz que precisou fazer um aborto aos 31 anos de idade. "Eu me lembro e faço as contas de quantos anos esse filho teria até hoje", confessa Cássia Kis Magro, que voltará à telinha em "Favela Chique", a próxima novela das 21h da Globo.

"Meus parabéns pelos prêmios. Nada mais merecido porque você é uma atriz realmente extraordinária. Eu fico sempre comovida com o seu trabalho. O papel pode ser pequeno, mas você aparece e alguma coisa explode na tela, em qualquer tela!", elogiou Marília Gabriela.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"