Renato Kramer

O ex-campeão de vôlei Giba relembra no 'Domingão' o seu envolvimento com as drogas

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O ex-jogador de vôlei Gilberto Amauri de Godoy Filho, o Giba, esteve no "Domingão do Faustão" (Globo) do último domingo (15) e comentou sobre o seu envolvimento com as drogas.

"O que é que aconteceu quando teve droga no caminho da tua vida?", perguntou Faustão. Mas antes de Giba responder, o amigo e colega Gustavo Endres foi quem deu um depoimento.

"Era o nosso primeiro ano na Itália, ele (Giba) estava sozinho sem a esposa, e aí começou aquela separação...E sempre o primeiro ano fora do Brasil é muito difícil, até a pessoa se integrar com a cultura daquele país. Acho que tudo isso acabou fazendo com que ele ficasse um pouco deprimido e aí acabou se utilizando das drogas para poder superar esse momento", declara Gustavo.

E acrescentou ainda: "A gente até conversou por um momento que aquilo seria um divisor de águas na carreira dele. Que até então ele tinha vencido vários campeonatos no Brasil, nós estávamos começando essa nova geração na seleção – a "Era Bernardinho", que começou em 2001. Isso aconteceu em 2002, e ele tinha que deixar isso de lado, deixar isso para trás e não deixar isso acontecer novamente e ele focar dia a dia no que mais interessava para ele, que era o voleibol", afirmou Gustavo.

E, para encerrar, citou a maior angústia pela qual passou o grande Giba naquele momento: "O que ele mais sentia era ter dado esse desgosto para as nossas crianças, para o povo brasileiro que confiava tanto nele, que confiava muito nessa nova geração do vôlei. Então ele não queria ver isso estampado nos olhos das crianças. Então ele botou na cabeça dele que, talvez a única maneira de todos esquecerem isso era com títulos – era a forma de esquecerem esse momento de deslize do nosso Gibinha", falou carinhosamente Endres.

Giba então se manisfestou. "Primeira coisa peço para todos vocês, o nome já diz tudo: droga! Foi um momento em que eu caí e graças a Deus saí dessa, foi como o Gustavo falou um divisor de águas na minha carreira. Porque daquele ano em diante do 'doping' - na verdade em 2002 a gente ganhou o campeonato mundial, em 2003 saiu o doping. Então eu fui o melhor jogador do mundo em 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008", declarou Giba.

E contou uma passagem marcante de sua recuperação: "A gente foi visitar um hospital de câncer infantil em Recife (PE) e um menino chegou para mim e falou: 'Como é que você se chama?' Eu falei: 'Giba'. Ele falou: 'não, teu nome não é Giba. Teu nome é Gilberto. Eu também me chamo Gilberto – e quando eu me curar, eu vou te achar onde você estiver e vou vencer na vida com você sendo o meu espelho'", conta o atleta visivelmente emocionado.

Crédito: Alexandre Nemenov - 29.ago.2004/AFP Giba comemora a conquista da medalha de ouro olímpica em Atenas (2004)
Giba comemora a conquista da medalha de ouro olímpica em Atenas (2004)

E conclui: "Dois anos depois, ele desceu uma escadaria de um ginásio em Brasília e me falou assim: Eu não falei que eu ia te achar e que eu ia me curar?", lembra Giba com a voz embargada. "Eu não consegui mais treinar. Comecei a chorar e aquilo realmente é a minha medalha de diamante!", afirmou.

"Na questão do doping, eu não pedi contraprova, falei: 'eu sei que estou errado'. Para quê eu ia querer me redimir de uma coisa que eu havia feito? Eu voltei então para o Brasil e quando cheguei encontrei uma menina de 7 anos de idade que me falou: 'Giba, não fica com essa cara triste, porque você continua sendo um exemplo de vida para todo o mundo – só você não pode desistir! Aquilo já me deu um nó na garganta'", relata o grande campeão.

"Eu dei dois passos para o lado e veio uma senhora, que devia ter uns 80, 85 anos, e me disse: 'Meu filho, errar é humano, persistir no erro é burrice. Sábio é aquele que aprende com os erros dos outros. Não desista, levante a cabeça porque agora você se tornou um homem e vai saber o que você realmente representa para esse país'". A plateia o ovaciona em pé.

Para encerrar, Giba relembra uma experiência inesquecível. "Foi em 1998, a Globo me chamou para fazer um quadro do "Esporte Espetacular" – 'um ídolo que quer conhecer o seu ídolo' – e eu falei que queria conhecer o (médium) Chico Xavier (1910 - 2002)". A produção então lhe pediu para pensar em outra pessoa porque achavam que seria muito difícil chegar até o grande líder espírita.

"Mas eu fui conhecê-lo. E hoje eu estou falando aqui em rede nacional uma frase que ele (Chico) me falou e que realmente representa toda essa superação e o porquê de eu ter passado por tudo isso. Ele tocou minha cabeça e falou: 'Fique tranquilo porque seus pensamentos estão falando por você'", conta Giba, que permaneceu os 20 minutos seguintes chorando.

"Ele encostou em mim de novo, eu parei de chorar. Ele olhou no meu olho e falou assim: 'Fique tranquilo porque o seu espírito é muito maior do que você imagina, você ainda tem muitas coisas para fazer, não só para o esporte, mas para muita gente. Levante sempre a cabeça e nunca desista'", relembra Giba.

Então o grande campeão das quadras de vôlei internacionais olha para a câmera e com os seus grandes olhos azuis cheios d'água, humildemente agradece: "Aonde você estiver, Chico, obrigado pelas palavras... Por tudo! Obrigado".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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