A peça "O Comediante", de Joseph Meyer, último trabalho dirigido pelo saudoso José Wilker em parceria com Anderson Cunha, tem a sua estreia marcada para esta sexta-feira (16) no Teatro Raul Cortez (SP).

O texto, segundo o próprio autor, foi livremente baseado no clássico filme de Billy Wilder, "Sunset Boulevard" (1950). Na peça, Walter Delon (Ary Fontoura) é um ator talentoso que acabou se perdendo por ciúmes de sua bela mulher e não conseguindo se recuperar desde a sua morte. Ficou internado por uma década e ao sair viu-se só, envelhecido e jogado ao completo ostracismo.

É quando, ajudado por sua antiga fiel camareira e atual governanta Norma (Angela Rebello) e o seu jovem e mal intencionado agente Eric (Gustavo Arthiddoro), Delon passa a viver uma realidade fantástica: interpretando a si mesmo numa patética fantasia de estrelato e glória que já não lhe pertencem mais.

Para reanimá-lo, Norma lhe manda flores diariamente como se fossem de fãs seus, e Eric convida a bela e jovem jornalista Júlia (Carol Loback) para uma falsa entrevista que, não só o traria de volta às manchetes como ajudaria muito na carreira da moça. O que ninguém espera é que Júlia caia nas graças do galante Delon e o faça quase sequestrá-la com a desculpa de que ela seria a única pessoa para quem ele confiaria a sua biografia.

A cenografia de José Dias é clássica e de muito bom gosto, sob a iluminação sempre competente de Maneco Quinderé. Os atores desfilam os elegantes figurinos de Marília Carneiro ao som da bela trilha original de Marcelo Alonso Neves.

Angela Rebello imprime um tom caricatural em sua exótica Norma que, depois de um estranhamento ligeiro, ganha destaque e força em suas marcantes intervenções. Tanto Gustavo quanto Carol partem para uma interpretação mais naturalista, ele com mais intensidade e ela com a beleza e suavidade que a personagem propõe.

Ary Fontoura consegue comover e fazer rir ao mesmo tempo. O experiente ator transita com destreza entre a piada rápida e espirituosa e o drama amargo e profundo que propõe a condição do ator egocêntrico, decadente e solitário que interpreta. O seu Walter Delon é envolvente, tragicômico e muito carismático.

"O Comediante é uma declaração de amor à arte dramática. Todos nós, envolvidos nesse trabalho, tentamos reproduzir o que Wilker queria. É a nossa homenagem!", afirma Ary Fontoura, que brilha na pele do excêntrico Walter Delon. "O Comediante" estreia hoje no Teatro Raul Cortez (SP), com temporada prevista até 15 de março. Emocionante.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"