Mesmo em reprise, algumas entrevistas do "Programa do Jô" (Globo) —enquanto o seu Jô não volta— ainda são mais interessantes do que outras ao vivo.

Na noite desta terça-feira (5), foi a vez de reprisar a simpática entrevista (30 de maio de 2008) do ator manauara Malvino Salvador. Depois de muita gritaria das fãs da plateia, Jô começou um bate-papo leve e descontraído com o ator que acabou de sair do ar como protagonista de "Caras & Bocas", no "Vale a Pena Ver de Novo".

Malvino contou que ser ator não era exatamente um sonho antigo seu. Ele cursava o quarto ano de Ciências Contábeis em Manaus (AM) quando, ao participar de um desfile, recebeu um convite de uma 'booker' paulista para trabalhar como modelo em São Paulo.

"Aí, como eu tava com uma vida meio de marasmo", confidenciou Malvino, "morando na casa dos pais... Eu tava mesmo querendo uma mudança na minha vida". Então, em 2001, o ator veio para São Paulo e, por sugestão de um amigo modelo, começou a fazer alguns cursos de interpretação. "E comecei a gostar!", declara Salvador, "mas eu nunca pensei que fosse ser ator, na verdade".

Acontece que, apenas seis meses depois de Malvino chegar à São Paulo, surgiu um teste para o musical "Blue Jeans" (Zeno Wilde): "Eu estava no segundo mês do meu primeiro curso, não sabia nada e fiz o tal teste... E o engraçado foi que eu passei", contou o ator com simplicidade. "Com quem era?", quis saber Jô. "A direção era do Wolf Maya, e tava no elenco o Danton Mello e o Marcos Pasquim. Foi a última montagem que teve", comentou Malvino.

"De uma hora pra outra eu estava num ambiente que eu não conhecia, mas ao mesmo tempo fascinante e eu fui me apaixonando por aquilo", declarou o ator. "E, de repente, quando eu subi no palco no dia da estreia eu descobri que era aquilo que eu gostava de fazer".

"E como é que é a história da cueca?", perguntou o apresentador para delírio da plateia. "Ah, foi numa das fases do teste do 'Blue Jeans', contou Malvino. "Pediram que a gente ficasse só de cueca e de peruca para fazer uma drag queen. E tinha muito bailarino fazendo o teste e eu nunca tinha dançado, quando eu vi um bailarino que saiu dançando um samba rasgado, eu pensei que teria que fazer algo diferente. Foi quando tive a ideia de puxar a minha cueca pra cima, ficando de fio dental, virei a bunda pra plateia e comecei a rebolar!". As plateias adoraram: tanto a do teste que viu a cena quanto a do Jô, que só a imaginou.

Depois desse musical, Malvino conta que estudou teatro por três anos e meio até chegar o teste para participar da mais recente versão de "Cabocla" (2004). Começou pelo curso do próprio Wolf Maya —"tive aula de televisão com ele, quando eu fui pra Globo tinha tudo mastigado"— e, mais tarde, cursou o de Fátima Toledo. "Foi maravilhoso", afirma Malvino, "foi quando eu entendi o espírito da coisa, o que era interpretar".

"E quando você deixou de ser gago?", perguntou Jô. Sempre alto astral, Malvino respondeu rindo muito: "Eu, na minha infância, era péssimo: era asmático, muito gago e um palito!". "Mas eu não posso terminar o nosso papo sem que você mostre o seu abdômen", diz o apresentador. "Não faça isso", pede Malvino cheio de manha. A plateia vai ao delírio novamente. "Agora, para todo o Brasil no Programa do Jô", vai anunciando o apresentador enquanto Malvino fica em pé timidamente e levanta a camiseta exibindo um perfeito "tanquinho". "A característica que mais me impressiona em você é a simpatia", despede-se Jô Soares.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"