Renato Kramer

Final de "Em Família" deixa a catarse de lado para assumir um realismo chocho

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O último capítulo de "Em Família" (Globo), que foi ao ar nesta sexta-feira (19), não surpreendeu pela morte de Laerte (Gabriel Braga Nunes), que até já tinha sido anunciada, mas também não agradou pelo desenlace nada romântico.

Antigamente, os finais das novelas provavam que o amor era eterno. Regina Duarte sofria a trama inteira, mas no final conseguia ser "feliz para sempre" com o Cláudio Marzo, o Francisco Cuoco, o Tony Ramos ou o Antônio Fagundes. Então, a catarse acontecia.

O final de "Em família" provou, ao contrário, que todos somos substituíveis – o que sabemos ser quase uma verdade, mas não gostamos de vê-la estampada na nossa frente. Laerte, o "amor eterno" da mocinha, da mãe da mocinha e até mesmo da vilã – morreu e todas deram a volta por cima no mesmo capítulo, ainda que com o aviso de que teria passado um bom tempo.

As três foram para Paris e já haviam refeito suas vidas. A mãe Helena (Julia Lemmertz), sem a ameaça que lhe oferecia a presença de Laerte, achou melhor se apaixonar de vez pelo marido que tinha em casa. Shirley (Viviane Pasmanter), linda, loura e rica, viajou para ver a estreia internacional do filho, mas já não parecia nada abatida com a morte do homem por quem literalmente morria de amores.

E Luiza (Bruna Marquezine) deu uma de "viúva alegre" e, depois de comer o pão que o diabo amassou pelo músico, apareceu se recuperando muito fagueira, paquerando um bonitão que apareceu só no último capítulo. Um final mais realista? Talvez...mas quem quer ver a realidade numa novela? Para isso bastam os tenebrosos e cotidianos telejornais. As novelas não eram para a gente sonhar?

Tudo bem que o roteiro é de quem escreve, e nós somos meros espectadores. Mas como palpites todos podemos dar, e já que era para matar Laerte, eu acho que Shirley deveria ser a assassina dele, por não suportar tê-lo amado a vida inteira e testemunhar o seu casamento com outra, principalmente por se tratar da filha da sua arquirrival.

Deveria terminar ali - com Shirley sendo presa (claro que se sabe que logo depois ela daria um jeito de subornar alguém e sair, mas isso já seria outra história), e Luiza ainda vestida de noiva, no chão, com aquele colar de Fênix (que estava mais para a "maldição de Tutankamon") abraçando o amado morto – seria um final trágico, mas mais romântico.

Nada contra a moça que matou Laerte, a Lívia (Louise D'Tuani), mas ficou parecendo que o personagem dela mal entrou no trem e já quis pegar a janelinha. Bem, como diria a jovem Julieta, da mais bela história de amor de todos os tempos (Romeu e Julieta, de William Shakespeare): "o que não tem remédio, remediado está".

A verdade é que não se fazem mais finais de novela como antigamente. Os mais moderninhos podem até me tachar de saudosista, mas por exemplo: ninguém que tenha tido o privilégio de assistir ao último capítulo da versão original de "Selva de Pedra" (Janete Clair) – que literalmente parou o Brasil, jamais vai esquecer de Cristiano (Francisco Cuoco) abraçando e beijando Simone (Regina Duarte) no convés do navio ao som de "Rock And Roll Lullaby" (B. J. Thomas) – ah, não vai!

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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