Renato Kramer

'Fiquei com vergonha por serem tão retrógrados', diz Igor Rickli sobre protestos contra peça de teatro

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Na semana de encerramento da temporada da bela versão do diretor Jorge Takla para a clássica ópera-rock "Jesus Cristo Superstar", conversamos com o protagonista da peça.

Muito além do "lindo, lindo" a que está acostumado a ouvir da sua legião de fãs, e ao que faz jus diga-se de passagem, o ator Igor Rickli é talentoso, simpático e dono de um magnetismo pessoal fora do comum. Tudo isso junto: "perfil, persona e performance" —tornou a sua interpretação em "Jesus Cristo Superstar" definitiva.

"Projetei muito isso para a minha vida", me contou Igor. "Quando soube que o (Jorge) Takla faria a montagem, liguei pra ele e falei: eu sou Jesus!". E estava certo. Desde a sua primeira entrada no palco o ator não "faz" o personagem, ele simplesmente "é" Jesus.

"Qual a tua sensação ao saber que ia interpretar um personagem tão emblemático em uma obra considerada clássica?", perguntei. "Depois que vi o tamanho da responsabilidade fiquei me perguntando por que cargas d'água fui me meter a fazer isso!" (Risos.) "No início era muito difícil", confessa Rickli, "partituras quase impossíveis de cantar, personagem complexo que todo o mundo já conhece e tem uma opinião sobre... Enfim, rolou um certo pavor, mas depois tomei as rédeas da história", conclui.


Perguntei-lhe então sobre as suas expectativas durante o processo e como foi o resultado no dia a dia das apresentações. "Esperava que o público saísse arrebatado pela peça e que essa história, mais que conhecida, tocasse as pessoas e isso aconteceu", confidenciou Igor. "E cada dia eu senti a peça mais forte e nós mais confiantes".

Achei importante saber a opinião do ator sobre as manifestações contrárias à estreia do espetáculo de alguns grupos religiosos, que, por incrível que possa parecer, aconteceram. "Vergonha alheia!", respondeu Rickli. "Fiquei com vergonha por eles, por ainda serem tão retrógrados e gastar tanta energia com uma coisa que não beneficiou a ninguém. Mas o problema é deles, graças a Deus, não meu!", arrematou.

"Como chegou até você a recepção do teu trabalho junto ao público?", perguntei. "Foi ótimo", comemorou Rickli. "Grande parte não sabia que eu cantava e ficaram surpresos. E tinha muita identificação por conta do visual. Ninguém me chama mais de Igor, é Jesus o tempo todo", conta o ator sempre em alto astral.

Como a temporada de "Jesus Cristo Superstar" vai só até o próximo domingo (1º), quis saber como o ator está se sentindo em relação à despedida do seu impecável Jesus. "Sensação de dever cumprido", respondeu Rickli. "Muito feliz por ter vivido essa experiência que quis muito. Saio da peça completamente transformado pela obra e pelo personagem".

O ator estará de volta à telinha no início de 2015 e disse que vai tentar conciliar a TV com dois projetos de cinema. "Espero dar conta!", diz Igor esbanjando simpatia. E deixa uma espécie de mensagem ao encerrarmos a entrevista.

"Acredito muito em espiritualidade, não tenho religião específica. Gosto de compartilhar e tento aplicar isso no meu trabalho. Fazer esse espetáculo me proporcionou uma troca maravilhosa com as pessoas. Fluxo de gratidão!", explica Igor. "Sinto que é assim que evoluímos e é isso o que quero. Sair dessa escola extraindo tudo o que ela tem para me ensinar", conclui Rickli.

"Eu Não Sei Como Amá-lo" é a canção que a encantadora Maria Madalena de Negra Li canta para o cativante Jesus de Igor Rickli em "Jesus Cristo Superstar", em cartaz só até o próximo domingo no Teatro do Complexo Ohtake Cultural (SP). O público que o assiste, não sabe como não amá-lo.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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