Texto premiado nos anos 70 sobe ao palco sob a direção de André Garolli
"As Moças - O Último Beijo", único texto para teatro da mineira Isabel Câmara (1940 - 2006), entrou em cartaz na noite de quarta-feira (2) no Espaço Parlapatões (SP).
Uma jovem modelo e atriz (Fernanda Cunha) pede abrigo a uma jornalista madura (Angela Figueiredo) assumidamente lésbica, e a relação que se instaura entre as duas é de amor, ódio e provocação.
O texto, denso e reflexivo, rendeu o Prêmio Molière de Melhor Autor (RJ) de 1970 para Isabel Câmara. Um conflito entre a mulher madura e já um tanto amarga —para quem tudo já parece mofado e sem vida— e a jovem deslumbrada com um futuro incerto, mas cheio de possibilidades, e dona de uma coragem que só é possível nos mais inocentes.
A encenação sensível e delicada parte de uma narrativa das atrizes e vai mergulhando na ação propriamente dita. Sutilmente, a direção límpida de André Garolli (em cartaz como ator com a peça "Vênus em Visom", ao lado de Bárbara Paz) vai envolvendo o espectador até levá-lo a compartilhar dos medos e anseios dessas duas mulheres solitárias.
Fernanda Cunha recentemente fez parte da bela montagem de "A Casa de Bernarda Alba", obra prima de Federico Garcia Lorca, sob a direção de Elias Andreato. Em "As Moças", a atriz faz um mergulho profundo e não se poupa ao mostrar o avesso da jovem modelo que sonha em ser feliz, embora não saiba definir o que vem a ser felicidade.
Angela Figueiredo despontou na televisão na primeira versão de "Guerra dos Sexos" (1983), na qual viveu a menina Analu, a filha de Felipe (Tarcísio Meira) que disputava o motorista Nando (Mário Gomes) com a irmã Juliana (Maitê Proença). Recentemente deu vida à Helena, a mulher traída de Zico Rosado (José Mayer) em "Saramandaia" (2013), na Globo.
Angela dá o peso necessário a sua jornalista desencantada da vida, que busca no frescor da jovem modelo um refúgio para o desprazer geral em que se encontra a sua vida. A sua interpretação é densa, humana, intensa.
Com trilha sonora de Branco Mello (Titãs), na qual se destaca a feliz inserção de "Fuga Nº 2" na voz de Rita Lee (Mutantes - 1969), "As Moças - O Último Beijo" sai dos anos 70 e chega até nós pelo prisma universal do ser humano, com as suas inquietações e buscas sempre renovadas, mas nunca muito inusitadas. É teatro que sugere reflexão, nem que seja para prestar atenção no que estamos fazendo de nossas próprias vidas.
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