Só pode haver uma explicação: para ser tão meigo e ingênuo, o personagem Niko (Thiago Fragoso) de "Amor à Vida" (Globo) está com síndrome de Patrícia (Regina Duarte) em "Minha Doce Namorada" (1971).

Foi com essa personagem que Regina Duarte se tornou a "namoradinha do Brasil". Será que a intenção é tornar Niko o "gayzinho do Brasil"?!

O único detalhe é que, apesar dos pesares, no início dos anos 70 ainda havia clima para alguém ser realmente tão doce e graciosa como a Patrícia de Regina. Nos dias atuais, ninguém mais pode se dar ao luxo de sê-lo impunemente.

O Niko de Thiago está completamente anacrônico, embora –verdade seja dita–, o ator tem conseguido manter uma linha coerente e verossímil na medida do impossível.

No capitulo de sábado (11), por exemplo, o perturbado Eron (Marcello Antony) foi pedir-lhe para voltarem a ficar juntos. Mesmo depois de tudo o que a "lacraia do olho azul" lhe fez, Niko ainda ficou muito abalado com a proposta do ex.

Félix (Mateus Solano), que tem uma mentalidade muito mais "up to date", queria enforcar o "carneirinho" por ele ainda dar ouvidos à lacraia traidora. E saiu prometendo-lhe que jamais queria ver a sua cara caso ele aceitasse Eron de volta.

Niko, assim como diversas vezes Patrícia fez em "Minha Doce Namorada", choramingou baixinho, indeciso, inseguro e frágil – exatamente como nos tempos da "namoradinha do Brasil". Só que não. Acorda, Alice!!!

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"