Premiada com o Emmy Internacional de melhor atriz, Fernanda Montenegro foi entrevistada no "Fantástico" (Globo) de domingo (1º).

"Este é um momento especial em minha vida. Em minha vida profissional. Obrigada", foram as palavras de Fernanda Montenegro ao subir ao palco do International Emmy Awards.

A jornalista Renata Vasconcellos dá início à entrevista evitando chamá-la de "grande dama do teatro e da TV" ou "diva das artes cênicas" porque ela não gosta. Fernanda Montenegro concorda de imediato.

"Qual é a sensação de ganhar o Emmy?", perguntou Renata. "Sempre a gente diz que não se espera", respondeu Fernanda. "A vida é espantosa. Quando eu comecei, nunca pensei em chegar a isso tudo. Quis apenas ter um ofício", explica com simplicidade.

"O que você sentiu fisicamente, deu frio na barriga?", indagou Renata. "Não", retrucou sempre tranquila a grande atriz, "primeiro, quando eu ouvi meu nome, eu me afastei na cadeira, foi como se eu tivesse levado um susto no peito", explicou Fernanda. E continuou: "Bom, agora eu tenho que subir [ao palco]. Por sorte o Euclides Marinho estava do meu lado e eu disse: 'Você me dê sua mão porque eu tenho que subir de salto essa escada, com essa saia justa e eu não sei o que pode acontecer, porque as pernas tremem'", concluiu.

Renata Vasconcellos comentou que o diretor do especial "Doce de Mãe", Jorge Furtado, dissera que a personagem de Fernanda --Dona Picucha-- fora feito sob medida para ela. "Em que sentido você concorda com ele?", perguntou. "Uma velhinha maluca. Eu às vezes acho que sou uma velhinha maluca!", assegurou Fernanda.

Assim como a personagem Dona Picucha, Fernanda Montenegro mora sozinha. "Quais são os desafios e as vantagens de se morar sozinha aos 84 anos?", quis saber a jornalista. "Em primeiro lugar você não incomoda ninguém", respondeu Fernanda. "Nós temos uma cultura de que o velho tem que ser um agregado... a solidão não é confortável, mas ela é preferível a certas crises que podem vir quando você resolve que tem que cutucar alguém para não ter a sua solidão", argumentou a atriz.

Confessando-se um "ser materno", Fernanda afirmou categoricamente ter certeza de que nasceu para se desdobrar em filhos. Ao ser questionada sobre o que gostaria de ensinar aos seus netos, a quem dedicou o seu prêmio, Montenegro respondeu: "A resistir. Porque viver é uma prova dos diabos, não é?".

"Você nasceu Arlete Pinheiro. Do que a Arlete gosta?", questionou a apresentadora do "Fantástico". "Olha, a Arlete é muito reservada. É que eu tenho a impressão de que é uma entidade que bota o seu pretinho, recebe as suas coisas, fala as suas falas", explica Fernanda. "Mas diz uma coisa que ela gosta", insistiu Renata. "De não lamentar a vida", resumiu a atriz.

Para encerrar, depois de Fernanda responder perguntas de sua filha Fernanda Torres e da amiga e colega Irene Ravache, Renata Vasconcellos pergunta-lhe diretamente: "O que você ainda quer muito?". "O que eu quero?", confirma a grande dama das artes cênicas brasileiras que não quer ser chamada assim. "Eu não quero perder a minha memória. Eu sou a minha memória", conclui Fernanda Montenegro.

Em homenagem à atriz, o especial "Doce de Mãe", que lhe rendeu o Emmy de melhor atriz, vai ao ar na "Sessão da Tarde" (Globo) desta segunda-feira (2). A temporada 2014 já começou a ser gravada.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"