Renato Kramer

Walderez de Barros comemora 50 anos de carreira com "A Casa de Bernarda Alba"

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Uma das maiores damas do teatro nacional, Walderez de Barros --que viveu a simpática Cyla em "Salve Jorge" (Globo), está nos palcos paulistanos com toda a pompa e circunstância: protagonizando uma das obras primas do dramaturgo e poeta espanhol Federico Garcia Lorca: "A Casa de Bernarda Alba".

É Walderez quem comemora, mas é o público que ganha o presente.

Se fôssemos desfiar o enorme currículo da atriz, recheado de trabalhos escolhidos a dedo pela sua grande sensibilidade e o seu imenso talento, este espaço não seria suficiente.

Dona de uma presença cênica exuberante e de uma das vozes mais envolventes e encorpadas das artes cênicas --daquelas que não nos deixa desviar a atenção um segundo do que quer que a atriz esteja dizendo, Walderez de Barros entra em cena no Teatro Cultura Artística Itaim (SP) com a firmeza e a naturalidade que a matriarca espanhola exige: ela simplesmente é Bernarda Alba, com toda a profundidade e intensidade que a personagem exige. Sem mais, nem menos, não há um gesto sequer que Walderez faça desnecessariamente.

Crédito: João Caldas/Divulgação "A Casa de Bernarda Alba", com Walderez de Barros (ao centro), fala sobre uma matriarca que tranca as filhas dentro de casa
"A Casa de Bernarda Alba", com Walderez de Barros (ao centro), fala sobre uma matriarca que tranca as filhas dentro de casa

O fascinante na atriz é o seu domínio total da personagem: controle corporal e emocional perfeitos. Não há exagero, nem economia. Há a exatidão do que é necessário para dar verossimilhança à história conturbada dessa mãe de formação rígida, austera e severa até consigo mesma.

O brilho da Bernarda de Walderez tem a ver também com a direção sensível e minuciosa de Elias Andreato, um grande mestre. Elias conseguiu colocar em cena um texto belíssimo num espetáculo limpo, sem recorrer a artifícios e efeitos desnecessários. A direção é primorosa e ganha na simplicidade, focando no trabalho das atrizes e na valorização da bela carpintaria teatral.

No elenco talentoso, a criada Fernanda Cunha; a governanta Poncia, que gerencia os fios da trama toda, maravilhosamente realizada por Patricia Gasppar; e as filhas de Bernarda: Victória Camargo (Martírio), Tatiana de Marca (Madalena), Isabel Wilker (Amélia), Bruna Thedy --que explora com energia a revolta de Adela, a filha mais moça, e Mara Carvalho, que consegue um excelente resultado na sutileza com que conduz a sua Angústias.

"Os deuses do teatro conspiraram a meu favor", declarou (Dame) Walderez de Barros sobre realizar "A Casa de Bernarda Alba" exatamente para comemorar os seus 50 anos de carreira. Volto a dizer: os deuses do teatro conspiraram a favor do público em nos dar a oportunidade de assistir a este belo espetáculo protagonizado pela "dama dos palcos" Walderez de Barros.

Walderez de Barros em "A Casa de Bernarda Alba", de Federico Garcia Lorca, no Teatro Cultura Artística Itaim (SP): além do texto, pelo conjunto da obra (cenografia, figurinos, luz, elenco, direção) --é teatro de primeira qualidade. Imperdível.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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