Renato Kramer

Wilson de Santos brilha no teatro vivendo a grande estrela do cinema Bette Davis

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Ao som de "Bette Davis Eyes", canção que ficou famosa na voz de Kim Carnes no início dos anos oitenta, a peça "Bette Davis e Eu" tem início --alternando muitas fotos da grande estrela de Hollywood no telão.

Na sequência, uma série de trechos de filmes da diva em vídeo. Talvez ficasse melhor se colocados no final, para não acostumar o espectador com a imagem da Bette real --se é que quem a viu um dia poderia esquecer!

O texto de "Bette Davis e Eu" ("Me and Jezebel"), traduzido por Reinaldo Moraes, é narrado na primeira pessoa pela personagem Elizabeth Fuller, vivido com desenvoltura e energia pela atriz Flávia Garrafa. Foi ela que teve a oportunidade fantástica e desconcertante: receber Bette Davis para jantar e hospedá-la por um mês!

Entra em cena então a própria: Miss Davis, num elegante vestido preto, sapatos, luvas e chapéu também pretos, com um charmoso mink branco nos ombros. E a eventual preocupação com o excesso de imagens da verdadeira Bette nos vídeos se desvanece com muita rapidez, tal é a apropriação delicada e envolvente que o ator Wilson de Santos faz da personagem.

Crédito: João Caldas/Divulgação Wilson de Santos e Flávia Garrafa em cena da peça "Bette Davis e Eu", dirigida por Alexandre Reinecke
Wilson de Santos e Flávia Garrafa em cena da peça "Bette Davis e Eu", dirigida por Alexandre Reinecke

Acumulando sucessos mais frequentemente nos palcos, Wilson ganhou o Prêmio Contigo Ator Revelação 2008 na pele do Jojô, em "Duas Caras" (Globo). Ele acaba de realizar uma longa e bem sucedida temporada do seu espetáculo solo "A Noviça Mais Rebelde", uma comédia rasgada que tinha a supervisão artística do talentoso Marcelo Médici.

Como Bette Davis, o ator consegue dosar na medida certa o humor ácido, a perspicácia, e a personalidade forte com tons de arrogância da grande atriz do cinema. Sem exageros, sem gestos desnecessários, respeitando com profundidade o forte caráter da atriz --sem descuidar da leveza no andar e na postura. Um trabalho primoroso.

Elizabeth, que não sabe como agir nem o que fazer com o 'mito' em sua casa, acaba metendo os pés pelas mãos. E Garrafa se desdobra em mil para fazer essa Liz que tenta agradar o ídolo. "Eu sou sensitiva! Vamos brincar de falar com os mortos?", sugere ela. Miss Davis responde com ironia branda: "que divertido!". "Ah...eu fiz uma cena sua de 'Jezebel' (tido como o filme preferido de Bette) no colégio!", e representa para uma Bette Davis incrédula. Ao fim da cena patética, Bette apenas lhe diz: "boa noite". Vira as costas e sai.

As constantes implicâncias da diva com a também estrela Joan Crawford, com quem protagonizou um dos mais importantes filmes de sua vasta carreira: "O Que Terá Acontecido Com Baby Jane?" (What Ever Hapenned To Baby Jane? - de Robert Aldrich, 1962) --também estão na peça, conferindo graça ao personagem e ao espetáculo. "Ela ganhou um Oscar (com "Alma Em Suplício", 1945), eu ganhei dois (com "Dangerous", 1935 e "Jezebel", 1939)!!!", desdenha a carismática Miss Davis de Wilson de Santos.

A direção delicada é de Alexandre Reinecke, a cenografia clean e funcional é de Theodoro Cochrane, o figurino elegante é de Fábio Namatame. Tudo isso envolto na sensível iluminação de Mario Martini, executada por André Ciambroni. "Bette Davis e Eu" está em cartaz no Teatro Renaissance (SP) até 7 de julho.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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