Renato Kramer

Do lúdico ao violento: 'O And@nte' e 'Mormaço' marcam presença

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Em 'O And@nte' (texto e direção de Elias Andreato), o ator e autor Andreato inspira-se nos homens de rua, esses que seguidamente vemos carregando tudo o que têm num surrado carrinho de feira.

Mas o 'andante' de Elias não cata lixo e sim pensamentos. Ele recicla palavras catadas nos livros. "É dever dos poetas e artistas chorar e rir com o seu povo. Sem loucura não há arte", são fragmentos de colocações suas retiradas de suas 'pesquisas'.

Elias Andreato anda afastado da telinha, mas recentemente marcou forte presença em 'Beleza Pura' (Globo), com o seu impagável mordomo Adamastor. 'O and@nte' é o seu oitavo trabalho solo no teatro.

Num belíssimo figurino estilizado, com uma cenografia de muito bom gosto - ambos assinados pelo próprio Elias, o espetáculo está envolto na sempre bela iluminação de Wagner Freire e na excelente trilha original de Daniel Maia.

'O And@nte' de Elias Andreato é lúdico, sensível, bem humorado e faz refletir. É realizado somente às quintas e o último espetáculo será na próxima quinta-feira, 21h, dia 13 de dezembro, no Teatro Eva Herz (Conjunto Nacional - SP).

No outro extremo das sensações humanas se encontra 'Mormaço', de Zé Henrique de Paula, no Núcleo Experimental (Barra Funda - SP).

O texto é do jovem dramaturgo Ricardo Inhan, que não suavizou nem dourou a pílula do universo dos jovens 'devastados e sem ambição' que apresenta. Três histórias que têm como elo de ligação a violência, por vezes gratuita, algumas até argumentada, mas nunca justificada.

Na primeira história, três skinheads agridem duas garotas que conversam à toa numa praça qualquer. Não há diálogo possível. É violência pela violência. Acaba com a morte de uma delas. Os atores estão inteiros na cena, fazem com verdade absoluta, sem escorregar para a grosseria. Tudo é muito forte, muito impactante, mas especialmente artístico.

Ao contrário de uma apologia à barbárie que , infelizmente, ainda se vê por aí, a encenação nos joga na cara a responsabilidade de tomarmos providências urgentes. Nossos jovens estão se tornando 'isso' aqui...vocês não vão fazer nada?!?", é o recado que nos traz.

Renata Calmon, a moça assassinada no final, consegue transitar com muita habilidade entre o medo, a raiva e o desespero da situação. Laerte Késsimos, com a sua exuberante presença cênica , está assustador no papel do Skin Nazista N - vigoroso, vibrante, verdadeiro. É ele quem mata a menina com um machado.

Fontes fidedignas informaram que Laerte Késsimos estará num seriado que deve entrar no ar no início do próximo ano, na MTV. É um ator brilhante, quem ganha é o telespectador.

Na segunda história, um casal de filhos passa o tempo planejando matar o pai (Tiago Real - excelente no papel), até que consegue. No piso frio da casa, um cachorrinho muito fofo refestela-se o tempo todo, sem jamais perder o foco. É o ator Felipe Ramos, que faz um cãozinho impecável.

Na terceira e última história, dois jovens skatistas dividem o seu tédio enquanto esperam o mormaço passar. Eles dividem uma mesma garota, mas o triângulo não acaba bem.

Um dos skatistas é o ator Lucas Romano, que fez o Valter em 'Malhação' - e há boatos fortes também de que ele estará na próxima novela das 21h da Globo.

'Mormaço' trata da violência nossa de cada dia, mas como um alerta importante e com um acabamento artístico refinado, que, sem perder a crueza do tema, enfatiza mais a reflexão do que o ato puro e simples. A direção é do mestre Zé Henrique de Paula - que ainda mantêm em cartaz a pérola: "No Coração do Mundo" - às terças, quartas e quintas, 21h - só até 13 de dezembro.

'Mormaço" é apresentado às sextas, sábados e segundas às 21h e domingos às 19h. Só até 16 de dezembro. Detalhe importante: ambos espetáculos do Núcleo Experimental estão em temporada gratuita. 'O And@nte' está R$50,00 (preço único). Assistir ao que há de melhor hoje no teatro paulistano está barato ou até não custando nada!

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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