Famosa cena da briga de "Guerra dos Sexos" volta pasteurizada
Muito anunciada, e de grande impacto na primeira versão, a briga estilo pastelão --onde o respeitável casal de primos joga o café da manhã um na cara do outro, desta vez 'pasteurizou'.
Não que os atores Irene Ravache (Charlô) e Tony Ramos (Otávio) não estivessem bem, ao contrário: ambos são excelentes. Mas a cena perdeu a naturalidade que teve na primeira vez que foi ao ar, com os mestres Fernanda Montenegro e Paulo Autran.
Talvez por se tratar de dois monstros sagrados do teatro, cuja disponibilidade para fazer uma cena tão ao estilo 'os três patetas' era quase impensável, e certamente pelo quesito surpresa, a cena original com a dama do teatro Fernanda Montenegro e Sir Paulo Autran tenha causado, sem dúvida, maior impacto.
No capítulo de ontem de "Guerra dos Sexos" (Rede Globo), tudo parecia muito preparado para a cena acontecer. Desde o diálogo dos atores até as taças sobre a mesa, com líquidos e cremes de toda sorte.
Interessante ficou a edição, com a ação da primeira versão intercalada na atual. Mesmo ali percebia-se uma grande informalidade na primeira que não foi conseguida no remake.
Pitoresco foi observar a expressão da ótima governanta Olívia (Marilu Bueno), que teve a oportunidade de participar de ambas. Parecia que passava um filme em sua mente.
Enfim, é claro que há uma legião de telespectadores que não assistiram a novela em 1983. E as comparações são tanto inevitáveis quanto inúteis.
O grande trunfo de "Guerra dos Sexos' permanece na leveza e graça de seus personagens, alguns profundamente humanos, como a Nieta inesquecível da grande Yara Amaral --que está sendo vivida com muita garra e igual brilho por Drica Moraes. Outros brejeiros e quase caricaturais, como o Felipe (Edson Celulari)-- papel um tanto surpreendente na época para o galã-mor da emissora: Tarcísio Meira.
Personagem centrado e sempre convincente, mesmo nas situações mais adversas, é Roberta Leone. Foi assim com Glória Menezes na original, é assim com Glória Pires na atual. Talvez seja atributo das 'glórias': dar sempre destaque e vida verossímil aos seus personagens.
Ontem mesmo, Roberta teve um desmaio totalmente improvável, enquanto conversava com Felipe. Mas Glorinha deu conta. Desmaiou e voltou a si dignamente. Da sua geração, Glória Pires é imbatível.
Enquanto isso, a Charlô de Irene Ravache traz uma leveza que a de Fernanda Montenegro não tinha. Fernanda se impunha mais pela austeridade, enquanto Ravache segura no deboche.
Assim como o tempo de comédia do Otávio de Tony Ramos é diferente do de Paulo Autran. Tony é mais ligeiro, Autran enfatizava a ironia.
E não são assim mesmo os grandes atores? Nenhum personagem passa por suas mãos impunemente, sem que levem a sua assinatura.
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