Renato Kramer

Primeiro capítulo de "Carrossel" é previsível e estereotipado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Estreou ontem no SBT o anunciado remake da novela 'Carrossel' (da versão mexicana 'Carrusel' (1989), tirada da original argentina 'Jacinta Pichimahuida, La Maestra Que No Se Olvida' - anos 60/70). No Brasil foi apresentada pela mesma emissora entre 1991 e 1992, com grande sucesso de público.

A fórmula da novela é mesmo universal e atemporal: uma escolinha para crianças das primeiras séries (na média entre 7 e 12 anos), com uma diretora no melhor estilo 'general' e uma professorinha encantadora e muito bem intencionada que chega na escola para liderar a 'pior' turma do pedaço.

Já em 1967, sempre guardando as devidas proporções, esse tema foi muito bem explorado no filme estrelado por Sidney Poitier ('To Sir With Love"). Não foi à toa que a música tema homônima, 'Ao Mestre Com Carinho' (Don Black e Mark London - versão de Byafra e Costa Neto), foi regravada pela cantora Eliana para ser o tema da protagonista de "Carrossel', a professora Helena (Rosanne Mulholland).

São diversos os fatores que tornam 'Carrossel' um produto que pode realmente voltar a dar bons resultados. A identificação imediata de pais e educandos de crianças nesta faixa etária e, sobretudo, das próprias crianças. O universo 'escola' é bastante explorado, mas na maioria das vezes com alunos jovens ou adolescentes, vide "Malhação" (Rede Globo), "Rebeldes" (Rede Record), no importado 'Glee" (Rede Globo) e no próprio filme 'To Sir With Love'.

Ontem, talvez por tratar-se do primeiro capítulo onde as personagens estavam sendo apresentadas, tudo pareceu muito estereotipado. As falas e a própria sequência das cenas eram muito previsíveis. Seria esse 'didatismo' necessário para o público alvo, que é o infantil? Ou a criança dos dias atuais estaria já mais 'antenada', até pelo excesso de informações eletrônicas?

"Carrossel" começou alegre, colorida e agitada, mas com um ranço de um 'certo e errado' e uma névoa moralista bem à moda antiga. Seria uma tentativa um tanto simplista de resgate de valores?! Ou ainda é cedo e os roteiristas terão tempo e jogo de cintura suficiente para permear de nuances o desenrolar da trama? Tomara.

Entre os alunos, não poderiam faltar tipos como Laura (Aysha Benelli), a gordinha simpática que come sem parar; Kokimoto (Matheus Ueta), o japonesinho ruivo serelepe; Bibi (Victória Diniz), a ruivinha sardenta fofa e solidária; Valéria (Maísa), a lider nata que em tudo mete o bico e Cirilo (Jean Paulo Campos), o negrinho pobre e legal que se apaixona por Maria Joaquina (Larissa Manoela), a branca riquinha e arrogante.

Ao ser rejeitado por Maria Joaquina logo no primeiro dia, Cirilo tem uma conversa com a professora Helena. Magoado, o menino queixa-se: "por que é que eu tinha que nascer desta cor?". "Todas as cores são belas", responde Helena em tom de fada madrinha.

Antes de entrar em sala de aula, Helena é recebida pela diretora Olívia (Noemi Gerbelli) para um rápido bate papo. "Esta é a nossa escola", diz a diretora com conhecimento de causa. "Como você sabe, tem os anjinhos e os diabinhos!", acrescenta ela. "Todos os alunos são bons", responde a meiga Helena. "Eu não sou tão otimista assim", retruca Olívia. "Eu sempre prefiro o otimismo", argumenta Helena com voz suave. "Vamos ver até quando", decreta a diretora mais realista.

É pagar pra ver até quando a professorinha Helena vai mesmo aguentar permanecer nesse andor e andar de 'santa' com tantos 'capetinhas' tentando a sua volta! Segundo a sua mãe, Helena tem as ferramentas que uma professora precisa: amor e pureza no coração. Em seguida entra a canção "Ao Mestre Com Carinho", completando o clima 'vintage' da encenação.

Já a insuportável Maria Joaquina tem uma visão bem menos romântica da "Escola Mundial": "foi meu pai que me obrigou a estudar nessa escola. Mas eu não sou obrigada a aturar essa gentinha!".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias