Renato Kramer

"Avenida Brasil": golpe, traição e agiotagem

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Quem assistiu o capítulo de ontem da novela "Avenida Brasil" (Rede Globo) está em dia com o que há de mais 'up to date' no mundo da bandidagem.

Quando esta novela for vendida para o exterior, 'periga' as emissoras trocarem a música de abertura por acharem mais adequada a canção de Cazuza ('Brasil'), que abria a novela "Vale Tudo", cujo refrão dizia: "Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim!".

Tudo começou com Max (Marcello Novaes), canalha de carteirinha, vangloriando-se para a perversa Carminha (Adriana Esteves) que teria achado a sua 'galinha dos ovos de ouro' - comprando o passe de um excelente jogador de futebol do 'manager' Cleberson (Gláucio Gomes). Logo mais, Tufão (Murilo Benício) tem uma conversa com o 'sortudo' e esclarece que esse tal de Cleberson é o maior golpista do pedaço e já vendera esse mesmo passe de um tal jogador do Tocantins para muitos. "Esse cara é malandro desde que eu jogava no 'Divino'!", afirma Tufão.

Enquanto isso, duas das três esposas de Cadinho (Alexandre Borges) tornam-se amigas íntimas. Noêmia (Camila Morgado), que quebrara o nariz num acidente de carro, recebe a amável visita de sua rival Verônica (Débora Bloch) e as duas percebem que têm muito em comum. Mal sabem elas que têm bem mais do que pensam. Tantas são as afinidades que Noêmia resolve presentear Verônica com um pingente que ganhara do marido - também marido de Verônica, sem que nenhuma ainda saiba disso.

Para complementar o quadro de aproximação casual das famílias de um só pai, chega no quarto Tomás (Ronny Kriwat), o filho de Noêmia. Verônica elogia muito o rapaz e ainda sugere que elas deveriam promover o encontro dele com a filha dela, que vem a ser sua meia irmã! Claro que na ficção tudo faz sentido. Até porque, para que as coincidências aconteçam, nas novelas, por maior que sejam as cidades em que se passa a trama, sempre só tem um hospital, uma casa noturna e um restaurante - de outro jeito, como explicar que os personagens vivem se esbarrando?

Outro exemplo disso é o 'baile' para o qual Olenka (Fabíula Nascimento) se prepara para ir. Ao perceber o desânimo de Monalisa (Heloisa Périssé), jogada no sofá comendo uma bacia de brigadeiro ("Quem é que precisa de homem quando se tem brigadeiro?!", argumenta ela com a amiga) --Olenka arranca-a do marasmo e a leva para o tal baile. A mesmíssima situação acontece com Silas (Ailton Graça) que é estimulado por Darkson (José Loreto) e acaba por acompanhar o jovem ao mesmo baile. Claro, pois de que outro jeito o casal iria encontrar-se?
Encontram-se, fazem cenas de ciúmes um para o outro até que tudo acaba na porrada. Coisa pouca. Quem apanha de verdade mesmo é o espertalhão do Max, que vai procurar Cleberson e encontra Moreira (Rodrigo Rangel), o agiota que lhe emprestara os cento e vinte mil reais para a compra do passe do jogador. É ameaçado e leva uma bela surra. Barra pesada.

"Dinheiro na mão ou então pode encomendar o teu paletó de madeira. Hasta la vista, bonitão!". Este foi o texto de despedida do agiota. 'Paletó de madeira'...há muito que eu não ouvia essa expressão.

Nada coloquial também foi o texto dito pelo Roniquito (Daniel Rocha) ao ser assediado pela insaciável Suelen (Ísis Valverde): "eu sou homem, mas não é por isso que eu vou ser molestado sexualmente na minha casa!", disse o jovem, escapando das garras da piranha. Gente finíssima.

Mas 'manêro' mesmo foi a tentativa de sedução de Ivana (Letícia Isnard) para cima do maridão, o exemplar Max: "neném quer fazer neném" --com voz de teletube. Ultra excitante! Max ficou tão animado que tascou-lhe um sonífero tão forte que o 'neném' dormiu na hora.

Mas Max tem um plano para sair das garras do agiota. "Você vai ser sequestrada!", anunciou ele para a sua querida Carminha. "Eu tô pensando em pedir um milhão...cento e vinte fica pro Moreira e o resto pra nós!", argumentou Max tentando convencê-la. "Isso é uma loucura!", responde ela. "Eu sei que é uma loucura, mas vai ter que ser assim!", diz Max incisivo.

Nina (Débora Falabella), a 'heroína', que escutara o plano atrás da porta, corre contar tudo para mãe Lucinda (Vera Holtz): "eu vou libertar esse pobre homem (Tufão) dessa mulher (Carminha). Eu vou fazer por esse homem o que eu não consegui fazer pelo meu pai (Genésio)!" --num estilo 'Joana D'Arc' daqui. Mas não se impressionem, é tudo ficção.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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