"Móbile" é um programa de entrevistas que vai ao ar aos domingos, às 23:00 horas na TV Cultura (SP). "Um programa sem início, sem meio e sem fim", diz o release. "Que começa quando você começa a assistir.

Ontem, quando comecei a assistir, já tinha passado a entrevista com o 'mutante' Sérgio Dias, irmão de Arnaldo Baptista. Soube depois que ele falou sobre as primeiras guitarras tocadas por ele e produzidas por seu irmão. E também sobre as suas turnês nos Estados Unidos.

O programa, apresentado e dirigido por Fernando Faro, já foi realizado nos anos sessenta, na extinta TV Tupi, com muito sucesso. No último dia 4 de setembro, comemorou três anos do seu retorno - agora na TV Cultura. Um especial festivo resgatou entrevistas com Juca de Oliveira, Antônio Abujamra, Antunes Filho, Lima Duarte, Zé Celso Martinez, Paulo José e Bruna Surfistinha --entre outros. Um elenco e tanto!

Ao passar para a TV Cultura ontem à noite, o programa já estava em andamento. Um escritor, de quem li um romance muito intrigante, para dizer o mínimo, Silviano Santiago, era o entrevistado do momento. E ele não demorou a comentar exatamente sobre o tal romance: "Stella Manhattan" (Nova Fronteira -1985) --depois editado em francês em 1993, e em inglês em 1994. "Foi o primeiro romance gay no Brasil, me criou uma série de problemas", confessou o autor que tem doutorado na Université Sorbonne (Paris).

Precisou negociar com os editores na época. Só editariam o seu livro se Santiago traduzisse alguns trabalhos do famoso poeta surrealista francês Jacques Prévert. E assim foi feito.

Na mudança rápida de entrevistado, característica básica do programa, aparece a ex-vedete e atual jurada de televisão Marly Marley (esposa do comediante Ary Toledo). Ela conta do seu auge no 'teatro de revista', enquanto são mostradas fotos dela daqueles tempos, em maiô. Belíssima.

"Tive o prazer de trabalhar com o grande Vicente Celestino (cantor) em três operetas: Noite Feliz, Viúva Alegre e O Ébrio --este último, título homônimo da canção de maior sucesso de Vicente Celestino (escrita e gravada por ele originalmente em 1936). O Mazzaropi?

"O Mazzaropi foi meu irmão, meu pai...só não foi meu marido! E ele me pediu em casamento. Disse que a sua família estava pressionando ele pra casar e que queria casar comigo". "Mas a tua opção é outra", respondeu a ex-vedete. "Não tem problema, a gente casa e cada um leva a sua vida!", argumentou o campeão de bilheteria do cinema nacional.

No instante seguinte já era o ator Tonico Pereira que contava que estreou no Rio em 1969, numa peça do considerado 'pai' do Teatro do Absurdo: Eugène Ionesco (nascido na Romênia mas radicado na França, onde foi eleito membro da Académie Française em 1970). Já nesse primeiro espetáculo, Tonico ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante. "Tem diretores (de teatro) que preferem que o ator seja meio burro, pra não haver atrito. Mas o atrito não é necessariamente negativo, as vezes pode até ajudar a descobrir novos caminhos".

O Palhaço Picolly (Benedito Sbano) teve muita dificuldade no começo de sua carreira. "Não foi nada fácil", confessa Benedito. "Eu comecei com o circo-teatro. Era uma peça por dia!". Quanto à arte de fazer rir, o palhaço dá uma dica: treinar na frente do espelho. "Eu treino muito na frente do espelho. A mímica do palhaço tem que ser agradável, não pode ser agressiva".

Ainda participou o publicitário e artista plástico Laerte Agnelli, que foi amigo do maior expoente do Espiritismo no Brasil, Chico Xavier. E foi dessa convivência que nasceu o seu livro: "Chico Xavier - Recomendado Para Quem Acredita Em Espíritos". Para Agnelli, até então 'materialista-ateu', conhecer Chico Xavier foi uma experiência transformadora, cheia de sustos, surpresas e alegrias --que ele procura passar com fidelidade neste livro em forma de diário.

"Móbile", de Fernando Faro é ágil e interessante, especialmente pela diversidade dos seus convidados. È bem verdade que, em certos momentos, por não ouvirmos as perguntas feitas, demoramos um tempo para descobrir sobre o quê exatamente o entrevistado está falando. Mas logo a gente 'pega o bonde', mesmo andando. Boa pedida para os domingos, 23:00, na TV Cultura. A propósito: hoje, às 22:00 horas, também na TV Cultura, tem Jô Soares no 'Roda Viva'!

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"