Molusco americano que se parece com pênis é adorado na China
Não é o prato de aparência mais convidativa e tem um nome estranho... mas na China o molusco do tipo amêijoa de nome científico Panopea generosa (geoduck, em inglês) é uma iguaria delicada —o que provocou uma corrida na costa oeste americana para cultivá-los, de olho na comercialização.
A primeira coisa que chama a atenção é a forma —ele não é chamado de "Rei dos Mariscos" à toa. Ele é longo e tem uma protuberância em forma de sifão que sai de sua concha e escava a areia. Ele suga água do mar para retirar nutrientes e depois a esguicha para fora novamente.
Ele é o maior dos moluscos que vivem enterrados, pode pesar até 7,25 quilos, e tem um sabor delicioso. Tanto que nos restaurantes de frutos do mar da China paga-se até US$ 300 por um molusco desses importado viva dos Estados Unidos ou Canadá.
Sua textura delicada e visual exótico são muito valorizados por entusiastas —que o chamam de "molusco tromba de elefante". A iguaria é considerada um afrodisíaco pelos chineses. "Você sente o sabor do Pacífico... ele é escorregadio, muito tenro e doce", dizem apreciadores em Pequim.
ESTATÍSTICAS VITAIS
O nome em inglês "geoduck" vem de um povo nativo americano chamado Nisqually. O significado é "cavar fundo".
Esse molusco bivalve é encontrado nos Estados de Oregon, Washington, Alasca (todos nos EUA) e British Columbia (Canadá) —em praias com profundas camadas de areia.
Leva seis anos para que um molusco geoduck cultivado chegue à idade madura. Mas eles podem viver por até 160 anos —idade que pode ser medida por anéis que se formam em sua concha.
O "sifão" pode chegar a um metro de comprimento
Ele pode ser servido salgado, como sopa, sushi ou sashimi —mas os caldos são mais comuns.
Mas nos Estados Unidos poucas pessoas sabem da existência do molusco. Mais de 90% do que é coletado é enviado para a China e Hong Kong. O negócio é lucrativo, pois a demanda é maior que a oferta e os restaurantes lutam para obter o produto.
Bill Dewey, cuja empresa Taylor Marisco comercializa ostras desde 1890 em Puget Sound, no Estado de Washington, passou os últimos 25 anos investindo em fazendas de geoduck. "Geoduck é a nossa espécie mais nova e levamos um longo tempo, cerca de uma década, só para chegar em um ponto em que deixamos de perder dinheiro", disse Dewey.
"Ainda não é infalível mas hoje é um negócio lucrativo. E estamos começando a vender mais nos Estados Unidos também. Mas a demanda chinesa controla o preço —e aquele mercado quer pagar muito". "O valor do geoduck é de US$ 10 por 0,45 kg, mas os chineses pagam US$ 150. Em Londres, um estabelecimento chinês pagou US$ 312 por um quilo."
POR QUE OS CHINESES GOSTAM TANTO DISSO?
"Parte disso é a aparência fálica. Mas também representa status fazer uma refeição com geoduck", diz Dewey. Nos Estados Unidos, o molusco ganhou um status "cult", especialmente no Estado de Washington —onde alguns até o adotaram como uma espécie de talismã. Um exemplo é a mascote "Speedy" do time de futebol do Evergreen State College.
A canção do time é "Vamos geoducks. Estiquem o pescoço quando a maré está baixa. Sifão para o alto, esguiche para fora". Cavar as areias da praia em busca do molusco no verão é "parte da tradição local", segundo Dewey.
"É um passeio familiar. Você sai na maré baixa com uma pá e tenta achar um geoduck. Uma pista é o jorro do sifão". "Mas leva horas para retirá-lo da areia —é uma grande escavação. Se você tiver sorte você leva um para casa e faz uma boa fritada".
A empresa de Dewey produz 318 mil quilos de geoduck cultivado por ano e vende 50% no país especialmente para os mercados asiáticos de várias cidades americanas. Chefs de cozinha também estão incluindo a iguaria em suas receitas.
"Eu não costumava oferecer, mas agora os clientes pedem", disse o empresário Taichi Kitamura, dono do restaurante Sushi Kappo, em Seattle. Cozinhar a criatura é um processo delicado, Segundo Dewey. O sifão parece couro quando sai da água.
"Você o coloca em água fervente para remover a pele exterior. Então você fica com uma peça suave de carne branca. Em um sushi bar você corta em fatias, mas há muitas receitas —como sopa ou ceviche".
Se a cultura do molusco decolar a economia da região pode ser transformada. Atualmente é difícil conseguir uma licença, mas Dewey diz que o negócio é adequado. "Não estamos explorando o oceano, estamos produzindo bebês em nossa incubadora".
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