Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Você viu?
Descrição de chapéu Todas Folhajus violência

Promessa do skate feminino é acusada por cinco mulheres de violência doméstica e sexual

Primeira skatista trans a competir no Brasil, Luiza Marchiori acumula denúncias; OUTRO LADO: Defesa nega e fala em transfobia, e atleta vê 'falsas acusações e ataques combinados'

A skatista trans Luiza Marchiori
A skatista trans Luiza Marchiori - @luizamarchiori no Instagram
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Luiza Marchiori, 30, é a primeira mulher trans a competir profissionalmente no skate brasileiro. Recém-estreante na categoria feminina, ela vem se destacando nos campeonatos regionais. Na categoria masculina, em que competia até o ano passado, é bicampeã brasileira e heptacampeã estadual de Santa Catarina.

A atleta, no entanto, acumula mais do que troféus e medalhas na estante. Luiza é investigada em pelo menos cinco inquéritos por violência psicológica, violência doméstica, ameaça, lesão corporal dolosa e importunação sexual contra uma vítima menor de idade. A defesa da atleta nega todas as acusações.

Quatro das supostas vítimas são ex-namoradas de Luiza, que se relacionaram com a skatista quando ela ainda se entendia como homem. Uma quinta suposta vítima, que era menor de idade na época dos fatos, não se relacionou amorosamente com a atleta, mas tinha nela uma espécie de tutora no esporte.

As ocorrências foram registradas na Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso da Polícia Civil de Florianópolis entre junho e julho deste ano. Os inquéritos foram instaurados após o requerimento do Ministério Público do Estado de Santa Catarina e correm em sigilo. Até o momento, Luiza prestou depoimento em apenas um desses inquéritos.

A advogada Larissa Krétzër, que representa a skatista, afirma que sua cliente é vítima de um complô para intimidá-la no esporte. "Trata-se de um ataque transfóbico. A partir do momento em que a Luiza fez a transição de gênero e decidiu competir no skate, os ataques começaram", diz.

VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA

Uma das supostas vítimas, que tem sua identidade sob sigilo, tinha 14 anos quando conheceu Luiza, na época com 22, em uma competição de skate. Então uma atleta experiente e conhecida no meio, a skatista passou a acompanhar a adolescente em torneios, com autorização dos pais dela. Segundo consta no boletim de ocorrência, Luiza a constrangia sexualmente e a coagia a dormir na mesma cama e a tocar no seu órgão genital.

As outras quatro vítimas foram ex-namoradas da atleta entre 2011 e 2021, quando ela ainda se entendia como homem. Nas denúncias, há situações que se repetem. Luiza teria forçado as companheiras a se vestirem com roupas masculinas, como cuecas, bermudas e camisetas longas, além de coagi-las a cortarem o cabelo curto e limitar ou proibir maquiagens e acessórios. Esses relatos foram enquadrados pela autoridade policial como violência psicológica contra a mulher.

A atleta apresentava, segundo as denúncias, comportamento ciumento, controlador e hostil. "A grande maioria passou por agressões físicas", diz a advogada Bruna Brigoni, que representa cinco das vítimas. Segundo a advogada, mais de dez mulheres a procuraram após denúncias contra Luiza serem feitas no TikTok, mas só cinco delas decidiram ir adiante com o registro das ocorrências.

CIÚME EXTREMO

Em entrevista ao F5, uma das supostas vítimas, Gabriella Ribeiro, relatou uma das ocasiões em que apanhou de Luiza (então Luiz Neto). Segundo ela, a atleta tinha ciúmes da atenção que ela dava para seu cachorro e começou a implicar com o pet.

"Um dia, ela ficou descontrolada, veio para cima e eu vi que ela ia espancar meu cachorro. Peguei ele no colo e ela começou a dar chineladas e socos no cachorro e em mim", diz Gabriella, que namorou a skatista por quatro meses.

A ex-namorada conta que, durante crises extremas de ciúmes, Luiza vasculhava e confiscava seu celular, se passava por ela para se comunicar com amigos e parentes, apagava fotos e bloqueava contatos, além dos constantes gritos, xingamentos, cárcere privado e ameaças. "Desde o início eu queria denunciá-la, mas achava que meu depoimento sozinho não teria força", diz. Sem citar o nome de Luiza, ela expôs alguns relatos no TikTok, que chamaram a atenção de outras vítimas.

Uma delas é Agnes Melo, streamer com mais de 7 milhões de seguidores, que namorou Luiza em 2022. Mãe de uma criança na época com três anos, Agnes saiu de São Paulo e foi morar em Florianópolis com Luiza e a filha. Segundo o B.O., a criança também teria sido vítima de gritos, privação de sono e tortura psicológica nas mãos da skatista.

OUTRO LADO

Segundo a advogada da atleta, sua cliente já foi chamada para depor em um dos inquéritos e negou as denúncias. Ela diz ainda que a skatista está abalada e com síndrome do pânico: "Ela não consegue sair de casa, tem medo das pessoas, vem sofrendo ameaças na internet e já foi agredida verbalmente na rua". A advogada diz ainda que vai registrar boletim de ocorrência por transfobia contra as denunciantes.

Luiza Marchiori foi procurada pela reportagem, mas não respondeu. Em suas redes sociais, no entanto, ela fez várias postagens se defendendo. Em uma delas, diz que está sendo vítima de "falsas denúncias e ataques combinados". "Recentemente tivemos muitos casos de falsas acusações, como o caso da Mariana Ferrer", escreveu.

Bruna Brigoni, advogada das vítimas, diz que a identidade de gênero de Luiza não tem nenhuma relação com as denúncias. "Nunca maculamos a imagem da Luiza, nunca a desrespeitamos como mulher trans. Sempre agimos com muita responsabilidade em relação a um assunto que já é delicado. Não é questão de gênero, é questão de caráter", afirma a advogada.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem