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Orcas matam tubarões e deixam rastro de carcaças, na África do Sul; comportamento preocupa biólogos

Diversos animais mortos apareceram em praias da Cidade do Cabo sem o fígado, mas com o resto do corpo intacto

Comportamento de dupla de orcas preocupa pesquisadores da África do Sul - AFP
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São Paulo

Em uma praia na Cidade do Cabo, África do Sul, ocorrências despertaram a preocupação de biólogos e pesquisadores de vida marinha do local. Em fevereiro deste ano, 19 carcaças de tubarão apareceram na praia com marcas de dentes e sem os fígados. A entrada da arcada dentária era no ombro dos animais e o restante dos órgãos estava intacto.

Essa precisão na caça é uma característica de um par de orcas conhecidas como Port e Starboard, que extraem fígados de tubarões de sete guelras e de outras espécies grandes desde 2015 na mesma região, na baía de Mosse, segundo reportagem do jornal National Geographic.

O comportamento de caça da espécie é único e se alimenta de tubarões em busca da gordura do fígado. Contudo, cientistas afirmam que nunca observaram esse tipo de predação constante, mas os estudos sugerem que um dos pares está ensinando ao outro como remover o órgão.

"Não é como se eles estivessem rasgando as costas do tubarão. Eles vão exatamente onde o fígado começa. É incrível. Nunca em meus sonhos mais loucos eu esperava que isso se desenrolasse do jeito que aconteceu", diz Alison Towner, biólogo de tubarões.

Desde 2015, já foram registrados três episódios de carcaças de tubarões de sete guelras sem o fígado. A primeira aparição foi em novembro, quando vários ossadas foram encontradas no fundo do mar. Em abril de 2016, mais cinco animais mortos foram localizados e, em 2017, outros cinco tubarões aparecem sem o fígado.

Alison Kock, bióloga marinha dos Parques Nacionais da África do Sul, e sua equipe realizaram necropsias, que detectaram impressões de dentes de orca. A descoberta se tornou o primeiro registro de orcas matando tubarões de sete guelras, e a primeira ocorrência de orcas rasgando com muito cuidado a cintura peitoral para acessar o fígado, deixando o resto do corpo intacto.

Os pesquisadores desconfiaram de um par de orcas macho conhecido na região, mas não puderam comprovar até a gravação de imagens de drone, que filmaram que a dupla estava caçando na região. Os cientistas estranharam o fato pois é incomum que dois machos viajem juntos, mas exames de DNA apontam que eles são irmãos.

Alguns especialistas levantam a hipótese de que Port e Starboard fazem parte de uma categoria de orcas que frequenta o oceano aberto, mas que os irmãos se aproximaram da costa devido à pesca, que esgotou suas fontes normais de alimento.

Outra teoria é que o comportamento visa evitar o desgaste dos dentes quando mordem a pele áspera dos tubarões. Um fígado de tubarão branco é grande o bastante para fornecer uma refeição completa.

O vídeo é uma importante prova pois mostra um dos pares executando a técnica do fígado de tubarão na presença de outras quatro orcas. Muitas espécies de baleias e golfinhos —as orcas são as maiores espécies de golfinho— transmitem dialetos, estratégias de caça ou outros comportamentos para a próxima geração.

Simon Elwen, pesquisador de baleias assassinas, diz que é provável que o comportamento da dupla se espalhe para outras orcas, o que pode significar um desastre para as espécies de tubarões, algumas que já estão em declínio.

"Vinte anos de estabilidade, e então duas baleias assassinas apareceram e bum, o inferno começou", diz ele. "É um reflexo de quão delicado é o equilíbrio da natureza e, se isso for propagado de alguma forma, as ramificações podem ser profundas".

A espécie Sevengill de tubarões desapareceu da região, assim como os grandes tubarões brancos, o que levou ao colapso da indústria do turismo de tubarões na Cidade do Cabo.

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