Casais revelam táticas para manter namoro a distância na pandemia
Chamadas de vídeo, confiança e brincadeiras ajudam a manter paixão
Chamadas de vídeo, confiança e brincadeiras ajudam a manter paixão
A uma semana do Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho, muitos casais aproveitam a tecnologia para estreitar os laços afetivos em tempos de isolamento social, imposto pela pandemia de Covid-19. Para manter um relacionamento a distância é necessário ter muita tranquilidade, transparência e criatividade.
Ciúme, ansiedade e desconfiança podem atrapalhar quem está longe um do outro. Especialistas afirmam que há maneiras de se manter uma relação saudável e cheia de paixão, mesmo com o distanciamento físico e, em alguns casos, até geográfico. Para eles, é possível se sentir realizado estando separado a alguns quilômetros (ou um oceano) da pessoa amada.
A distância entre a corretora e bacharel em direito Lilian Aparecida de Campos Tavares, 52, e o namorado, o economista francês Pierre Innocenti, 66, é de um oceano. Eles estão juntos há sete anos, mas até hoje não se encontraram. A pandemia fez os planos do primeiro encontro ficarem sem data definida.
"No fim de 2020 ele se declarou e disse que queria casar e vir para São Paulo. Estava no meio da pandemia. Ele já tomou a segunda dose da vacina e eu a primeira. Mas não conseguimos nos ver. Ele virá em novembro. Por enquanto ficamos no vídeo", afirma Tavares.
Apesar a distância, Pierre já conheceu toda a família da corretora e se diz pronto para dar um próximo passo, mesmo sem nunca tê-la visto. "Se não fosse pela pandemia, eu suponho que já estaria casado com ela. Sou uma pessoa vivida e não tenho tempo a perder. Lilian é uma mulher muito positiva", diz o francês.
A corretora diz que gostar de uma pessoa sem nunca ter tido contato físico é um desafio. Quando Pierre Innocenti puder vir ao Brasil, ele deve ficar hospedado na casa dela, na zona norte de São Paulo. Ela quer conhecê-lo melhor, pessoalmente, para, quem sabe em março de 2022, subir ao altar.
A engenheira civil Tamires Didonet, 29, também mantém um relacionamento a distância. Moradora de São Paulo, ela namora o vendedor e empresário Gustavo Marim, 27, que vive em Birigui (a 500 km da capital paulista). Desde março de 2020, início da pandemia, que as idas de uma cidade a outra estão bem mais complicadas.
“Nos víamos a cada 15 dias. Com a pandemia, não dá para pegar ônibus, os pais dele têm problema de saúde, os meus também e evitamos nos ver", diz Didonet. "Quando começou a melhorar [a pandemia], ele veio para cá após três meses. Fui para lá meses depois."
A expectativa da chegada de uma terceira onda de Covid-19 preocupa o casal. O distanciamento social, porém, ajudou a fortalecer a relação, segundo Didonet, pedida em casamento em setembro de 2020. A questão, agora, é saber quando poderá ser a data. Mais uma incógnita na vida e na relação do casal.
"Espero que dê para fazer tudo em novembro. Mas, talvez, a festa fique para o ano de 2022. Não sei se até o final do ano todos vão estar vacinados", diz Tamires. Na avaliação dela, a chave para manter o namoro de três anos vivo e sem crises é a conversa.
“A pior parte é a saudade, pois já começamos a namorar a distância. No primeiro ano, a gente ainda batia cabeça, pois os dois queriam estar juntos. Os dois amadureceram e temos mais certeza do que queremos. Com desconfiança ninguém consegue viver."
Para o psicólogo e psicanalista Ronaldo Coelho, a pandemia forçou as pessoas a serem mais criativas e a se reinventarem para que aquilo que era mais importante e fundamental: a parceria. "As relações entre os casais se transformou, não necessariamente para pior. É possível que tenham desenvolvido um modo de estar consigo mesmo que passou a ter valor fundamental tanto quanto estar com o companheiro (a)."
É o caso da estudante de rádio, TV e Internet Julia Machado Rodrigues, 21, que vive em São Paulo e namora o estudante de engenharia de produção Guilherme Pizani Rosa, 20, de Uberaba (MG) —são mais de oito horas de viagem.
“Queremos sempre tentar fazer o outro se sentir especial. No aniversário dele, mandei flores até Uberaba. Tentei enviar aqueles carros de caixa de som para gritar o nome dele pela cidade, mas não rolou”, lembra Rodrigues, que também adora mandar comida para o amado.
Segundo a estudante, a maior dificuldade são as amizades diferentes. Ela diz, porém, que um bom diálogo resolve tudo. "Você está em lugar diferente do outro. Os amigos não enxergam a namorada ali e complica. A gente namora e não é uma prisão. Rola confiança, tem que ter papo sério sem esconder nada."
Adepta das chamadas de vídeo, Rodrigues afirma que os dois gravam filmes quando se encontram para ver depois e, assim, matar a saudade. "Nosso amor se fortaleceu na pandemia. Teve o lado ruim, mas teve o lado de ficar perto da família, com mais tempo para pensar no que queremos."
Juntos há cerca de um ano e meio, o cantor Vitor Kley, 26, e a atriz portuguesa Carolina Loureiro, 28, namoram a distância e ficaram quatro meses sem se ver. Por causa do agravamento da pandemia de Covid-19, o governo de Portugal decidiu suspender todos os voos com origem ou destino no Brasil.
A saudade apertou, mas isso não os fez desistir da relação. Pelo contrário. "Foi triste e doeu muito. No início da pandemia eu estava com passagem comprada para Portugal e no mesmo dia que eu viajaria começou um lockdown por lá. Dessa forma, tivemos de aderir a algumas táticas", afirma Kley.
O distanciamento motivou a produção da música “O Amor É o Segredo”. No clipe, ambos aparecem separados durante a quarentena. A letra fala da saudade que os dois sentiam um do outro em tempos difíceis.
Segundo o artista, eles dormem juntos todas as noites. "Ligamos nosso vídeo pelo celular e deixávamos rolando direto. E dormimos juntos, eu na minha cama e ela na dela. Se um acorda no meio da noite consegue ver o outro."
Vitor Kley afirma, ainda, que estreitou os laços com a parceira. Eles jogam videogame online e tocam violão, juntos, depois que ele a ensinou de forma virtual. “Tudo isso estará no nosso livro da vida. Fomos fazendo várias coisas para amenizar a saudade e ocupar a mente.”
Após 77 dias de suspensão, o governo de Portugal autorizou a volta dos voos comerciais com o Brasil. A liberação, em abril passado, vale apenas para viagens consideradas essenciais. Vitor Kley diz que vai passar o Dia dos Namorados com Carolina Loureiro —vinho e churrasco estão no planejamento do cantor para a celebração a dois.
"Diria que isso tudo fortaleceu nossa relação, independentemente do tempo e do caos, estamos sempre juntos mesmo com distância. Isso nos faz crer no nosso amor", diz o gaúcho de Porto Alegre (RS).
"Às vezes, nós passamos por momentos terríveis na pandemia e só queremos um abraço. Mas é preciso ver se a pessoa está na mesma vibração que você para termos equilíbrio mental. Assistam série juntos e ensinem coisas novas a distância."
O neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que a ocitocina, também conhecida como o hormônio do prazer e do amor, é liberada pelo contato físico. Porém, fazer contatos a distância é uma maneira inteligente de manter o vínculo afetivo.
"Quando não é possível estar presente fisicamente, o que é importante para manter esse vínculo são mensagens de textos, áudios e até ligações de vídeo. Isso gera poderes ainda maiores dentro do cérebro", diz Gomes. Ele alerta que o amor e o respeito são fundamentais para solidificar qualquer relacionamento. “Se os dois realmente se amam, podem estar distantes 24 horas por dia que não percebem a pandemia."
A sexóloga Débora Pádua afirma que a criatividade também se implica no sexo a distância. Para isso, é preciso que ambas as pessoas se respeitem e confiem uma na outra. O carinho, mesmo que de longe, é importante para manter a chama da paixão acesa, segundo a especialista.
“Muitos casais experimentaram chamadas de vídeo e brincadeiras pelo celular. Isso se tornou mais frequente. Dá para ter uma vida sexual, mas sem transmitir e contrair coronavírus. Agora as mulheres estão sem o tato, mas têm a audição. Homens estão tentando ficar mais criativos”, diz Pádua.
Psicóloga e autora do livro “Relacionamentos Amorosos na Era Digital” (R$ 44,21, págs. 138, Ed. dos Editores), Adriana Nunan alerta para o cuidado de golpes. “Principalmente pessoas que nunca tenham se visto e se conhecido pela internet. Cuidado ao criar expectativas muito grandes. Se alguém pedir dinheiro, saia."
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