Conheça idosos que não abrem mão da saúde e dos exercícios: 'Esporte é melhor do que remédio'
Há quem aos 93 anos adore uma academia, natação e até apaixonados por corridas
Há quem aos 93 anos adore uma academia, natação e até apaixonados por corridas
Levantar cedo, às vezes com frio e chuva, vestir uma roupa leve e ir à academia, para muita gente, é sinônimo de preguiça. Mas não para a aposentada Maria de Lourdes Martins, 93, que há dez anos não perde um treino de musculação em uma academia no Rio de Janeiro.
"Gosto muito porque sou bem atendida, tenho amigos e me faz bem. Eu faço aeróbico, musculação e treino com personal, que me estimula. Felizmente, eu tenho boa vontade e consigo manter as articulações em forma”, afirma Martins.
A aposentada conta que os exercícios fazem muito bem para a sua mente. "Procuro ir além dos exercícios e manter meu intelecto em dia lendo coisas culturais, de conhecimento, fazendo curso de memória e algo para divertimento. Tento ser uma pessoa alegre, apesar de perdemos algumas pessoas no meio do caminho. Eu vou sobrevivendo bem."
Martins diz ainda adorar futebol e que não perde um jogo sequer de seu time de coração, o Flamengo. O gosto pelos esportes vem desde quando ela era uma moça nas praias cariocas. “Adorava jogar vôlei. Ainda bem que mantive essa rotina saudável."
Quem também tem uma rotina de dar inveja a muitos novinhos é a aposentada Maria Fernanda Fonseca Pires, 73. Ela pratica natação e spinning em uma academia de São Paulo, e frequenta um clube regularmente para se manter em dia com a saúde e bem-estar.
"De vez em quando, eu também faço aula de abdominais e hidroginástica. Faz 20 anos que comecei a me exercitar. Aos 52 anos eu não sabia nadar e aprendi. No começo, eu não entrava nem em piscina infantil, hoje já nadei até em águas abertas em Santos [litoral paulista] e fiz mergulho”, conta ela, que começou na natação por influência do filho e diz só não ter desistido para não desaponta-lo. “Hoje amo.”
Pires está tão boa no nado que até chegou a participar de competições entre clubes. “Mas hoje quero só saúde, bem-estar e me sentir realizada”, completa. Praticar atividades físicas, para ela, é mais do que bom, é um estilo de vida. "Melhorou tudo em mim, não sinto dor em nenhuma parte do corpo. Esporte é melhor do que remédios."
O jiu-jítsu sempre esteve ligado à família do empresário carioca Ernesto Ferro, 63. Formado em educação física, ele abriu uma academia de lutas há 25 anos. Há seis, ele e sua família conheceram os lutadores de MMA (artes marciais mistas), Minotauro e Minotouro, que queriam montar franquias da academia Team Nogueira, a Team Nogueira Cachambi.
Hoje, Ferro tem um espaço que propicia diversas modalidades de luta. Mas foi o jiu-jítsu que o cativou e o tornou assíduo. Já está na faixa roxa. "Eu, da turma toda, sou o mais velho”, diz o carioca. "Mas por causa da idade que eu tenho um respeito maior dos demais no tatame", completa o empresário, que já participou e ganhou algumas competições da modalidade.
O esporte virou combustível para ele ter mais saúde e algumas medalhas em sua estante de casa. "O esporte me ajudou a manter tudo, até meu peso de 85 kg que está assim há seis anos. Muita gente não quer sair do lugar. A atividade, em qualquer idade, é a chave de tudo. Depois não adianta ficar indo em médico."
Ir a médicos, porém, é algo bem comum na vida do engenheiro civil José Roberto de Oliveira Motta Filho, 66. Não que seus exames estejam descontrolados, muito pelo contrário. O hábito da corrida, que ele leva como se fosse uma religião, já fez com que seus joelhos precisassem de algumas cirurgias. Nada que o faça abandonar o ato de percorrer cerca de 15 km, três vezes por semana.
"Corro desde 1987. Eu entrei nessa onda com 33 anos. Fui me apaixonando, me dedicando e virou uma neura. Fiquei alucinado pela corrida. Passei a fazer provas de tudo, campeonatos, arrumei treinador, nutricionista. Do ano passado para cá, eu reduzi um pouco o ritmo e encontrei um equilíbrio", afirma.
O engenheiro mantém rotina de correr a partir às 6h do Brooklin (zona sul) até o parque Ibirapuera e voltar. A corrida fica ainda mais divertida quando ele encontra a turma que corre com ele sempre unida. "Influenciei a família para as atividades físicas. Meu sobrinho foi campeão brasileiro de polo aquático e também é surfista. Outro acabou se apaixonando pela bike e foi fazer triatlo [natação, ciclismo e corrida]. Minhas irmãs fazem ginástica. Adoramos."
Fazer exercícios de forma regular, segundo os especialista, é uma das coisas mais importantes, sobretudo na terceira idade. É fundamental que, na hora de começar um treino, encontre um profissional capacitado para isso. O profissional de educação física e personal trainer Rafael Trindade, 35, sabe bem o que é produzir uma rotina de treinos para um idoso.
É ele quem cuida de perto Maria de Lourdes Martins, 93, que adora musculação. "Ela teve a fase de adaptação de três meses e já ganhou muita força. Às vezes, ela chega querendo mais conversar e isso é natural por conta da idade e de algumas questões familiares. Mas continua firme no dia a dia, ganhando autonomia e funcionalidade."
O profissional ressalta que é preciso saber as necessidades do idoso para que juntos possam elaborar uma estratégia e atingir objetivos. E isso vale para qualquer tipo de esporte. “Apesar de a pessoa mais velha ter força e poder fazer um treino intenso, não dá para colocá-la em toda as máquinas, pois isso não trará no dia a dia dela a funcionalidade. Entender as suas reais necessidades é compreender o que ele precisa fortalecer para se sentir melhor no cotidiano."
Não há contraindicações para o treinamento do idoso. Pelo contrário. Ele pode até mesmo aliar a musculação a outras modalidades, como ginástica, spinning e dança. O que os especialistas alertam é para que todos os exames sejam feitos para que fique claro se há algum tipo de limitação.
“Os artigos mostram que idosos têm a mesma capacidade de um jovem quando bem treinado. É possível melhorar muito. Até mesmo quem nunca fez algum tipo de esporte pode começar a fazer. Dá tempo para ter saúde”, explica o especialista.
Se por um lado o corpo fica mais bacana e funcional, por outro é a mente quem também ganha em evolução. Estar num ambiente com mais gente, conhecer pessoas novas e estabelecer laços são fatores preponderantes para tirar o idoso do sedentarismo, da tristeza e da solidão.
É o que afirma a psicóloga clínica Sônia Eustáquia da Fonseca, que tem 42 anos de experiência em sexualidade humana, neuropsicologia, psicanálise. “Ao praticarem exercícios físicos, idosos podem manter um nível ativo em suas funções físicas, cognitivas, sociais e psicológicas. Ele fica menos suscetível a doenças mentais."
A especialista também fala de um tema bastante em voga nos dias de hoje: a depressão na terceira idade. Se exercitar, seja na modalidade que for, faz bem nesse ponto. “Observa-se em idosos o aparecimento ou agravamento de depressão, que apresenta os seus sintomas clássicos: tristeza, visão negativa de si e do mundo, alterações no apetite, libido, sono, ânimo, entre outros. A atividade física pode despertar a alegria.”
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