BBB 23: Tranças, dreads, laces... O que faz a cabeça dos negros desta edição do reality

Com uma das edições mais negras de sua história, o Big Brother Brasil (Globo) tem servido diversidade de corpos e estilos entre seus participantes. Um dos destaques são os cabelos dos brothers e sisters, que já foram de motivo de briga a tema de tweets pedindo dicas.

No lado feminino, há sisters com tranças diferentes, cabelos naturais e até briga por lace, enquanto no lado masculino há carecas, cabelos curtos e dreads. A reportagem conversou com cabeleireiras e trancistas para conhecer os penteados de cada um e como cuidar deles. Confira abaixo.

LACES

O cabelo dos participantes foi tema de duas discussão no primeiro Jogo da Discórdia, exibido em 23 de janeiro. Cezar Black, 34, deu uma bomba para Tina, 29, porque ela se recusou a emprestar seus cabelos a ele. "Meu amor, eu não emprestei nem para a Aline! Eu não empresto meus cabelos. Além de serem caros, são coisas pessoais minhas", respondeu ela.

CEO da loja especializada Lady Laces, Lady de Britto Barbosa, 42, conta que os cabelos são artigos de luxo, muitas vezes comparados a joias.

"A lace é uma peruca realista que faz a simulação do couro cabeludo. Os fios são injetados em um material que se parece com uma micro pele, o que faz com que quem veja tenha a impressão de que os fios estão saindo da cabeça", explica.

Segundo ela, uma lace custa de R$ 2 mil a R$ 30 mil, de acordo com o tipo de cabelo e comprimento dos fios. Cabelos cacheados, loiros e ruivos naturais costumam ser os mais caros.

Ela brinca que, para suas clientes, "marido e lace não se empresta". "É muito pessoal e há danos que podem acontecer. A touca pega a forma da cabeça, então você pode emprestar para outra pessoa e alargar a peça. Também pode rasgar o tule ou embolar fio numa lavagem", alerta, dando razão à BBB.

Tina entrou de trança no programa e destrançou os cabelos com a ajuda de Aline Wirley, 41, Fred Nicácio, 35, Marvvila, 23, e Sarah Aline, 25. O momento foi compartilhado nas redes sociais como retrato de afeto entre pessoas pretas.

DREADS

Ainda durante esse mesmo Jogo da Discórdia, Gabriel Tavares, 24, já eliminado, deu uma bomba a Fred Nicácio. Enquanto fazia sua justificativa, o modelo chamou os dreads de tranças, mas foi logo repreendido: "Trança não, amor, é dread! Dread! Dread! Trança é o que a Marvvila tem", corrigiu Fred.

Trancista, Lu Safro, 41 explica que os dreads são tramas formadas pelo entrelaçamento do fios de cabelo de forma orgânica, diferentemente das tranças, que têm um padrão. Embora existam diferentes técnicas, podendo ser usado apenas o cabelo natural ou fios sintéticos, por exemplo, é comum o uso de agulhas de crochê para criar o formato.

"O dread está ligado a uma história de resistência da população negra, era usado como uma forma de recuperação da identidade", explica. Para ela, além da identificação com o público, o penteado do brother pode contribuir para a quebra de preconceitos, como o de que quem usa dreads não higieniza os fios.

"Perguntam: 'Esse cabelo lava?'. Sim! Você passa shampoo no couro cabeludo, massageia com ponta dos dedos, e depois aperta a extensão do cabelo para lavar o comprimento." Segundo a cabeleireira, a hidratação dos fios também pode ser feita. Para evitar acúmulo de resíduos, basta enxaguar bem.

TRANÇAS

As tranças fazem a cabeça de mulheres negras há muito tempo, mas sua valorização e diversidade tem crescido nos últimos anos. Além de Tina, Sarah e Marvvila entraram no reality com os cabelos trançados, mas com estilos muito diferentes.

Sarah tem desfilado com suas gypsy braids, como é chamado o estilo que está em alta no momento. Nele, tranças finas são intercaladas com mechinhas de cabelo, que pode ser mais liso, ondulado ou cacheado. O penteado também recebe o nome de trança cigana ou bohemian braids.

Já Marvvila estreou com o programa com box braids, cuja técnica consiste na divisão do cabelo em quadrados para trançá-lo até as pontas. No caso dela, a forma escolhida foi a triangular.

No Twitter, internautas perguntaram qual era o segredo para o cabelo da cantora estar impecável por tanto tempo, sem frizz ou fios soltando, e Rika Ferrera, 36, sua trancista, brincou dizendo que usou muita cola.

Apesar da piada, em entrevista ao F5, ela diz que a dica não está no produto (que na verdade não é cola de verdade), mas na técnica. Ela utiliza gel cola para dar aderência nos fios e diminuir as pontas soltas. Depois, trança usando o fio sintético para esconder o cabelo natural.

Ela revelou como a escolha da trança foi planejada. Trabalhando com a sister há cinco anos, Rika costuma sugerir novidades a Marvvila. Ao saber sobre o BBB, a trancista foi atrás de um penteado diferente do que o público tinha visto em edições anteriores.

"As meninas geralmente entram com trança longa, então eu falei: 'Vamos fazer um chanel diferente, com adereços de cores diferenciadas —prata e dourado—, para chamar atenção e deixar bem claro que o curto também pode ser o protagonista do mundo afro", falou.

Ela também considerou as provas de resistência. Caso fizesse tranças finas, o cabelo pesaria mais devido à maior quantidade de fios usados no penteado. Para o escolhido, foi usada menor quantidade de fio sintético devido à espessura e comprimento das tranças.

Para Rika, que também é negra, a entrada Marvvila no reality é uma realização pessoal. "Para mim, seria um sonho ter uma trancista no programa fazendo vários penteados, mostrando a versatilidade da trança. Quando ela me contou que ia e que o meu trabalho estaria na telinha sendo visto pelo mundo, fiquei muito feliz", conta.

Sua expectativa era apresentar ao público como as tranças podem ser usadas para a valorização da beleza negra e promoção da autoestima. "Mas como escolha e não como a única opção", alerta. "Pensam que o público negro usa trança porque só existe aquele penteado, quando na verdade é uma das escolhas que as mulheres pretas têm para mudar de cabelo e ter versatilidade."

NATURAIS

Outra sister que tem aproveitado a versatilidade de seu cabelo é Aline Wirley. A artista tem apostado em tranças embutidas, cabelo solto, uso de turbantes e lenços, com e sem grampo...

"Pessoas com esse tipo de cabeço podem montar vários penteados. Isso é muito bacana e tem que chegar para o maior número de pessoas possível, porque assim elas terão coragem de assumir seus cabelos", afirma Luciana Lourenço Barbosa, 43, especialista em cabelos cacheados.

Como qualquer cabelo crespo, cuja principal característica é reter menos oleosidade, esse tipo não costuma criar muita definição. "Mas ser crespo não é sinônimo de que cabelo está ressecado. O que faz ficar seco e danificado é a forma de manusear os produtos, achar que precisa molhar demais. Se hidratar, fica macio", explica a cabeleireira.

"Eu falo que esse cabelo é a coroa da mulher negra, porque realmente é um cabelo fantástico", diz. Segundo Luciana, profissionais costumavam dizer que era necessário cortar curtinho, rente à cabeça, o que contribuía para o preconceito. "Descobriram que é um cabelo que dá para fazer franja, dá para cortar chanel, e dá para fazer penteados, porque ele fixa", fala, usando o seu como exemplo.

Já Domitila Barros, 38, e Paula Freitas, 28, têm cabelos mais longos e abusam dos caracóis. Para Luciana, Domitila abriu os cachos. "O que eu observei como profissional é que ela faz a soltura dos cachos. Ao invés de deixar bem definido, fica meio ondulado." Se for esse o caso, é importante reforçar a hidratação para não agredir os fios.

Já Paula tem cabelo cacheado, um pouco mais definido que o das outras participantes. "Ela faz parte dessa miscigenação do Brasil, que, da mistura do negro com branco, nasce esse cabelo cacheado", explica.

Para a cabeleireira, a diversidade do programa serve como exemplo para a sociedade. "Estão levando a nossa realidade para a televisão. Estão mostrando o dia a dia da mulher negra, que é uma mulher versátil —ela usa trança, tira e coloca uma lace, usa um black natural. A gente descobriu que não precisa ficar presa a um padrão de cabelo liso para ser aceita, e estão levando isso para o BBB", comemora.