Repórter tem de fazer pergunta inconveniente, diz Alexandre Garcia após fúria de Bolsonaro
Jornalista opina sobre o 'cala a boca' dito pelo governante a uma repórter
O jornalista Alexandre Garcia, 80, disse que é dever de todo repórter fazer “perguntas inconvenientes”. A fala foi ao ar no quadro “Liberdade de Opinião”, da CNN, onde ele argumentou a respeito do “cala a boca” proferido por Jair Bolsonaro (sem partido) a uma jornalista da Globo.
Perguntado a respeito do que achava da explosão do presidente no momento em que a profissional o indagava sobre a falta do uso de máscara em evento em Guaratinguetá, no interior de SP, Garcia afirmou que esse é o trabalho da imprensa.
“Nós jornalistas temos que fazer as perguntas inconvenientes às autoridades. Temos que perguntar aquilo que elas não querem responder, aquilo que não deixa a autoridade satisfeita em responder. Fazer a pergunta que ela não gostaria de ouvir”, disse.
“Tudo isso aconteceu no Dia da Mídia. Bolsonaro foi lá fora [falar com a imprensa], mas não gostou quando perguntaram das mortes. Depois, perguntaram do capacete e veio a pergunta da máscara, aí ele explodiu”, relembrou.
Segundo ele, o episódio precisa deixar lições e todas as partes deveriam olhar para dentro, entender o que aconteceu e refletir sobre o tema.
Garcia, porém, disse que o momento mais delicado foi o “cala a boca” dito pelo governante. Na visão dele, esse foi o momento mais grave de toda essa confusão.
“Deu dois ‘cala a boca’, isso eu acho o mais grave. É muito pesado. Acho que nunca mandei alguém calar a boca porque é muito forte”, concluiu o jornalista.
ENTENDA O CASO
O momento da fúria de Bolsonaro com a repórter acontece após o país ultrapassar a marca de 500 mil mortes pela Covid e os protestos a favor de seu impeachment.
Antes de interromper abruptamente uma rápida entrevista, o presidente mandou uma repórter e integrantes da sua própria equipe calarem a boca, tirou a máscara, reclamou da CNN Brasil e fez ataques à TV Globo.
O presidente se irritou inicialmente após ser lembrado que havia sido multado pelo Governo de São Paulo por não ter usado máscara de proteção durante uma motociata no último dia 12.
Após citar a utilização de capacete como justificativa naquele caso, foi questionado por chegar ao evento em Guaratinguetá sem máscara e respondeu: “Eu chego como quiser, onde eu quiser, eu cuido da minha vida. Se você não quiser usar máscara, você não usa”, disse antes de retirar o acessório.
A irritação do presidente ocorre num momento de pressão por uma sequência de fatos negativos ao governo. Bolsonaro teve queda de popularidade nos últimos meses, enfrenta desgaste com a CPI da pandemia no Senado e viu seu principal rival potencial para 2022, o ex-presidente Lula, ganhar projeção.
Levantamento do Datafolha em maio em maio mostrou o petista com 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro, no cenário eleitoral para o ano que vem. No segundo turno, Lula venceria por 55% a 32%.
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