'Salve-se Quem Puder' tem mais de um final gravado e trama para esquecer Covid
'Fazer finais diferentes foi bom para ter esse poder de decisão', diz autor
'Fazer finais diferentes foi bom para ter esse poder de decisão', diz autor
Depois de quase um ano fora do ar, "Salve-se Quem Puder" reestreia nesta segunda (22) com a proposta de ser um entretenimento leve e um respiro para o público em um dos momentos mais difíceis da pandemia do novo coronavírus no Brasil. A Globo optou por transmitir a novela desde o primeiro episódio, reexibindo assim os 54 capítulos iniciais.
Escrita por Daniel Ortiz, a trama terá a missão de elevar a audiência na faixa das 19h. A reapresentação de "Haja Coração" (2016), do mesmo autor, registrou até terça passada (16) média de 25 pontos na Grande São Paulo. O índice é inferior aos 29 pontos que a exibição da primeira parte de "Salve-se" marcou em fevereiro e março de 2020 –cada ponto do Kantar Ibope equivale a 76.577 domicílios na região.
Outro desafio da produção é não deixar que o telespectador perceba diferenças entre a primeira e a segunda fase da novela, já que os 53 episódios finais foram gravados sob uma série de protocolos de segurança e restrições impostas pela emissora para minimizar os riscos de transmissão da Covid nos Estúdios Globo.
Em conversa com jornalistas em 12 de março, direção e elenco afirmam que "Salve-se" mantém o ritmo ágil e muita ação na sua etapa final. Cenas grandiosas de aventura são uma das marcas da trama, que começa com um furacão no México, em que as protagonistas Alexia (Deborah Secco), Kyra (Vitória Strada) e Luna (Juliana Paiva) são dadas como morta após entrarem para um programa de proteção à testemunhas –elas presenciaram Dominique (Guilhermina Guinle) matando o juiz Vitório (Aílton Graça).
Deborah Secco diz que, quando as filmagens foram retomadas, em agosto de 2020, pensou que a história voltaria mais enxuta e "não tão ousada". Mas não foi o que aconteceu, afirma. "Fizemos cenas de muita ação. Quando eu pegava o capítulo, eu falava: 'Gente, eles são loucos, como vão fazer isso com os protocolos [de segurança]?' Mas fizemos."
Flávia Alessandra, a Helena na história, relata que após a primeira semana de gravações, olhou para o diretor Fred Mayrink e percebeu como ele estava exausto diante dos desafios em realizar as cenas mantendo as medidas de segurança contra Covid-19.
Mayrink salienta que toda a equipe precisou se reinventar, como "fazer beijo com acrílico separando, usar uma câmera de forma diferente ou fazer cena de perseguição sem perseguir". E tudo sem abrir mão dos cuidados. "Se tivesse que mudar uma cena em função do protocolo, nós mudávamos", reforça.
Guilhermina Guinle acrescenta que, na retomada das filmagens, as medidas eram bem rígidas e só permitiam que, no máximo, três atores contracenassem juntos. Depois, os protocolos foram sendo flexibilizados e liberaram até seis artistas juntos –e nada de figuração.
O autor Daniel Ortiz diz que o público, talvez, note esse menor número de personagens juntos na tela. Mas Deborah Secco e outros atores discordam. "Acho que as pessoas não vão perceber não." Outro complicador das gravações se deve ao fato de que, diferentemente de "Amor de Mãe", a pandemia não foi incluída na história. Ou seja, máscaras e álcool gel não podiam aparecer na frente das câmeras.
Como a exibição de "Salve-se" acontece entre dois telejornais (o noticiário local e o Jornal Nacional), Daniel Ortiz pontua que não falar sobre o drama da Covid-19 foi uma saída para levar um pouco de leveza ao telespectador neste momento difícil do país. "Era melhor investir na comédia, no romance."
Diferentemente de outras novelas, que são obras abertas, em que o autor pode ir mudando o rumo dos personagens conforme às respostas do público, "Salve-se Quem Puder" já está inteiramente gravada.
Perguntado sobre como será ver a trama e não alterá-la, o autor prevê que pode perceber que não conseguiu desenvolver personagens secundários da forma como gostaria. "Mas não dava tempo", justifica.
Isso porque a trama foi paralisada no capítulo 54. O escritor teria outros cem episódios para contar a história. No entanto, por causa da pandemia, o enredo teve de ser encurtado. Agora, no total, serão 107 capítulos –inicialmente, eram previstos 155.
"Essa é uma história complexa, porque você tem três mulheres [protagonistas] que tem duas vidas, e cada revelação repercute em vários núcleos. Então, realmente não dava para aproveitar todos os personagens", afirma. "Acho que consegui, de alguma maneira, que todos tenham uma participação, mas realmente alguns núcleos saíram mais prejudicados", antecipa Ortiz.
Já sobre a trama principal, a saída encontrada por ele e pela equipe foi gravar diferentes desfechos, especialmente sobre com quem vão terminar as mocinhas Kyra e Luna. A personagem de Vitória Strada pode ficar com Alan (Thiago Fragoso) ou Rafael (Bruno Ferrari), já a protagonista vivida por Juliana Paiva fica dividida entre Téo (Felipe Simas) e Alejandro (Rodrigo Simas).
Irmão de Felipe Simas, Rodrigo entra apenas na segunda parte, substituindo o ator português José Condessa (Juan), que deixou a novela durante a pandemia por afirmar ter compromissos assumidos anteriormente em Portugal. "Fazer finais diferentes foi bom para a gente ver a novela no ar e ter esse poder de decisão", conclui o autor.
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