Televisão

Manoel Soares estreia no É de Casa e diz ser chamado de 'filho, tio e irmão' na quebrada

De morador de rua a jantares de luxo, ele diz que tem elasticidade social

O jornalista Manoel Soares, que vai apresentar o É de Casa

O jornalista Manoel Soares, que vai apresentar o É de Casa João Miguel Jr/Globo

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São Paulo

Manoel Soares, 41, começa um novo capítulo na Globo a partir deste sábado (12). O jornalista, que se destacou principalmente em reportagens nas ruas das periferias brasileiras como parceiro do Encontro com Fátima Bernardes, passa a integrar agora o grupo de apresentadores do É de Casa.

Ele entra no lugar de André Marques, 40, que ficará dedicado exclusivamente ao The Voice Kids —que volta no domingo (13). Quando o reality acabar, o apresentador titular retorna e Soares, em princípio, deve voltar às reportagens de rua. Isso, claro, se sua participação não agradar tanto a ponto de se tornar um integrante fixo.

"Estou encantado com a forma como está sendo recebido pelo público e pelos colegas", afirmou Soares ao F5, em entrevista por telefone. Ele contou ter recebido ligações emocionadas das colegas Ana Furtado, 46, e Patricia Poeta, 43, com quem vai dividir a apresentação do programa no estúdio —Cissa Guimarães, 63, segue participando de casa por ser grupo de risco da Covid-19. "Elas fazerem uma ligação para mim, chorando junto no telefone, acho que é bem significativo", avaliou.

Soares diz que já se considera da família É de Casa, para o qual também já fez diversas reportagens e entradas ao vivo. "Você vira da família quando entra no grupo de Whatsapp", brincou. "Eu já estou há algum tempo no grupo. É quando você conhece a intimidade."

Já entre o público, a reação é de festa. "Parece que vira a conquista de um membro da família", comparou. "Quem entra na minha casa todos os dias, ganha mesmo uma intimidade familiar. Estou muito feliz por ter alcançado esse lugar. As mulheres me chamam de 'meu filho', os mais jovens de 'tio' e os que têm a minha idade me chamam de 'irmão'. Acho que tem a ver com a assinatura que eu acabo imprimindo, pelo jeito informal de falar, mas sem deixar de dizer as coisas que precisam ser ditas."

A identificação do público também parece ter a ver com o jeito de olhar para o outro, sem se colocar acima dele. "O que eu fiz foi tentar deixar sempre nítido na televisão que quem está na periferia é alguém que é igual a mim ou a você", compartilhou. "No fim das contas, o que muda é o CEP, o tamanho da casa, mas, mais do que ressaltar a diferença, eu sempre fiz questão de mostrar as semelhanças. O que eu faço nas minhas reportagens é convidar as pessoas a fazerem essa reflexão."

LAR DOCE LAR

Soares avalia que tem tudo a ver com o perfil do programa, que costuma exibir pautas de cuidados com a casa e mostrar como fazer alguns serviços domésticos sem ajuda de profissionais. "Eu sou um cara muito caseiro", admitiu o pai de seis filhos (quatro biológicos e dois afetivos). "Também sou o cara que fica pendurando quadro, furando a parede, fazendo o almoço, pintando... Coloquei dois balanços na minha sala... Valorizo muito a minha casa, acho que é o útero da nossa alma."

A valorização do próprio lar não poderia ser diferente para alguém que conheceu de perto as agruras de não ter um teto para chamar de seu. Antes de virar uma estrela ascendente da principal emissora do país, Soares chegou a morar nas ruas de Porto Alegre.

"Da mesma maneira que eu já vivi em situação de rua, tive o prazer de conhecer o Nelson Mandela pessoalmente", refletiu. "A vida me propiciou muitas experiências que me fazem acumular diversas camadas. Eu sento num restaurante com três estrelas no guia Michelin [que aponta os melhores restaurantes do mundo] com a mesma dignidade que como um cachorro quente na calçada com um morador de rua."

"Essas experiências me deram elasticidade social", avaliou. "Uma coisa que a vida me ensinou é que reis e peões voltam sempre para a mesma caixa. Isso independe do lugar que você ocupa no tabuleiro."

TELA QUENTE

Recentemente, Soares também surgiu na Tela Quente, tradicional sessão de filmes da Globo, para falar sobre a importância de "Pantera Negra", exibido na sequência. Foi um pedido do público, após a morte do ator Chadwick Boseman, que vive o personagem-título, morto dias antes, aos 43 anos, vítima de um câncer de cólon que tinha mantido em segredo por quatro anos.

"Identifico uma maturidade muito grande da Globo em respeitar o lugar de fala do público", comentou. "Os diretores acharam que as pessoas precisavam ouvir alguém falando sobre o significado daquilo de alguém que se parecesse com eles. Chamo isso de exercer a branquitude com qualidade."

A emissora, de fato, tem dado bastante destaque a temas raciais e de representatividade. O próprio jornalista já falou no ar sobre episódios racistas que viveu, como uma recente abordagem agressiva da polícia e comentários preconceituosos quando ele apareceu usando máscara no ar.

Ele diz que, mesmo com a pouca diversidade que é mostrada na TV, sempre foi possível encontrar bons modelos para seguir. "Eu, por exemplo, me espelhei numa apresentadora negra, assistia todos os dias às 5h à Zezé Motta falando no Telecurso 2000", revelou. "E sempre pensava: 'Se algum dia eu for para a televisão eu quero ter essa classe'."

No fundo, o novo apresentador enxerga o tema por um viés positivo. "A sua bisavó viveu o período em que o meu avô era um produto", explicou. "Faz muito pouco tempo que eu virei um ser humano no Brasil. Quando você analisa o salto que foi dado em 130 anos [desde a abolição da escravidão no país] percebe que já caminhamos bastante. Quando analisa a partir do que você gostaria que fosse, vê que ainda tem muito por fazer."

"Não gosto de reduzir o povo negro à sua fragilidade", concluiu. "Eu não sou emissário da dor do negro, sou emissário da beleza, da inteligência e de tudo que o negro pode oferecer de bonito para a sociedade."

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