Tony Ramos afirma que 'Selva de Pedra' é um clássico que discute a 'pequenez humana'
Novela com Christiane Torloni e Fernanda Torres será reprisada pela 1ª vez no Viva
Novela com Christiane Torloni e Fernanda Torres será reprisada pela 1ª vez no Viva
Trinta e três anos depois de ir ao ar na Globo, "Selva de Pedra" (1986) será reprisada pela primeira vez. O canal Viva exibe a partir desta quinta-feira (22), às 14h30, a segunda versão da novela de Janete Clair (1925-1983). A trama entra no lugar de "Terra Nostra" (1999).
No remake, Tony Ramos e Fernanda Torres, colunista da Folha, formam o casal protagonista: Cristiano Vilhena e Simone –papéis que foram interpretados originalmente por Francisco Cuoco e Regina Duarte, em 1972.
Para Ramos, o folhetim tem todos os ingredientes de uma história clássica e que consegue despertar a atenção do público. "Dramaturgia tem que ter conflito. Se você olhar o 'Rei Lear', de Shakespeare, tem conflito, tem amor, tem paixão, suspense, morte, traições. Isso é o que move, o que mantém o espectador atento."
Na trama, o mocinho vivido por Tony Ramos está longe do convencional. Cristiano é um homem de origem simples, mas muito ambicioso, que não mede esforços para conquistar um lugar na sociedade. "Ele queria crescer economicamente, mas de uma forma em que ele só pensava no poder e no dinheiro, entrando em total conflito com o pai, vivido pelo grande ator Sebastião Vasconcelos [1927-2013]", lembra.
No início da novela, Cristiano mora com a família na cidade fictícia de Duas Barras, no interior do Rio de Janeiro, e se envolve em uma briga com Gastão Neves (Marcelo Ibrahim). Na confusão, Neves acaba morrendo vítima de sua própria faca
Com medo de ser punido por um crime que não cometeu, Cristiano foge para o Rio na companhia de Simone, a única pessoa que testemunhou a briga e que pode provar a sua inocência. Na cidade, eles se apaixonam e se casam.
O mocinho, porém, conhece Fernanda, personagem interpretada por Christiane Torloni, que acaba se apaixonando por ele. Influenciado pelo mau-caráter Miro (Miguel Falabella), ele vê na mulher rica e bonita a oportunidade de ascender socialmente.
Na visão de Ramos, essa trajetória do personagem que, inicialmente, parece ser um tradicional galã romântico, de "bons princípios", mas que, no fundo, usa uma mulher rica como trampolim social, denota o conflito interno vivido pelo personagem e as contradições que são comuns aos seres humanos. "['Selva de Pedra'] é atemporal. Ela discute a ganância, o poder, discute a pequenez humana."
Miro decide "ajudar" o amigo e planeja a morte de Simone. O vilão persegue o carro da mocinha, que sofre um acidente grave e é declarada como morta. Se sentindo culpado, na hora de se casar com Fernanda, Cristiano volta atrás e a abandona no altar. A mocinha, no entanto, não morreu e retorna à trama com outra identidade: a artista plástica Rosana Reis.
Na primeira versão de "Selva de Pedra", de 1972, para marcar a mudança da personagem e não ser reconhecida, Regina Duarte usou uma peruca loira. Já no remake, Fernanda Torres muda o penteado e aparece com lentes de contato azul.
Quando alguém dizia que nos ensaios de que determinada cena era "rocambolesca", lembra Tony Ramos, Janete Clair falava: "Não, filho, não diga isso. A vida é tão acachapante. Quando a gente coloca na dramaturgia, a gente acha que aquilo não existe. Eu, na verdade, estou falando de ganância e poder que só existe na vida real".
"Aquilo calava a mesa como a verdade absoluta, porque era de fato. A ficção romantiza, pode criar situações rocambolescas de suspense, mas baseada em fatos e histórias reais e que transformam a dramaturgia em algo palpitante, em algo novo", afirma Ramos.
A primeira versão de "Selva de Pedra" entrou para a história como a novela que conquistou 100% de índice de audiência em São Paulo e no Rio de Janeiro, segundo o colunista e crítico de TV, Nilson Xavier. Foi no capítulo 152, quando Rosana Reis admitia a sua verdadeira identidade para Cristiano.
Tony Ramos lembra que Daniel Filho quis fazer o remake da trama 14 anos depois por uma questão comercial. A novela de 1972 foi gravada em preto e branco, o que impedia a sua venda para outros países. "E não deu outra. Nunca vou me esquecer de que fui parado no aeroporto de Fiumicino, em Roma, com pessoas indo me falar da novela. A novela viajou o mundo."
De fato, o remake foi vendido para países como Chile, Espanha, Equador, Grécia, Itália, Uruguai e Venezuela.Diretor em 1972, Walter Avancini dirigiu os 20 primeiros capítulos do remake, sendo substituído por Daniel Filho, que também era o supervisor da novela, e depois por Dennis Carvalho, que assumiu a direção-geral.
A segunda versão teve como autores Regina Braga e Eloy Araújo. "Se daqui dez anos, algum diretor da TV Globo, falar 'vamos dar uma releitura à 'Selva de Pedra', eu afirmo a você que será um grande sucesso", aposta Tony Ramos.
Depois de fazer um grande sucesso como a mimada e divertida Jô Penteado, a mocinha de "A Gata Comeu" (Globo, 1985), Christiane Torloni, com então 29 anos, foi escalada para interpretar a vilã de "Selva de Pedra", Fernanda, papel vivido na primeira versão por Dina Sfat (1938-1989).
"Foi uma composição muito interessante, porque é uma personagem que tem uma rachadura na alma. Ela sofre aquele trauma de ser abandonada no altar, o que é um gatilho para todo um distúrbio emocional que vai só aumentando", afirma. No fim da trama, Fernanda enlouquece.
Torloni lembra que perdeu 10 kg para fazer o papel, que foi "um desafio enorme em todos os sentidos". Ela destaca também o figurino da vilã, que começa mais leve e em cores claras, e termina em tons mais escuros. Fernanda chega a se casar de preto com Caio, personagem de José Mayer.
A atriz conta também que fez uma releitura da Fernanda apresentada por Dina Sfat em 1972. "Tive vontade de homenageá-la, porque era uma coisa moderníssima para a época." Ela destaca ainda a parceria com a atriz Beth Goulart, que fez o papel de Cíntia, irmã de Caio.
A censura, aliás, determinou a reformulação de algumas cenas em que as duas contracenavam juntas, porque sugeriam um relacionamento amoroso entre as personagens. Após ser abandonada por Cristiano, Fernanda se alia ao mau-caráter Miro com o objetivo de separar Simone e Cristiano. "A gente aprontava para caramba", lembra Torloni.
Ao interpretar o vilão, Miguel Falabella foi outro destaque da trama de 1986. Diferentemente de Carlos Vereza que, em 1972 fez uma versão de Miro mais sombria e gótica, o ator teve o desafio de fazer algo completamente diferente, já que o diretor Avancini queria um Miro solar e alegre, segundo o site Memória Globo. A aposta deu certo e o bordão "nhé-nhé" caiu nas graças do público. Com Vereza, o bordão conhecido era "amizadinha".
Para Torloni, com a reprise, será interessante ver como a obra de Janete Clair vai chegar ao público, mais de 30 anos depois. "É muito legal essa reprise. Existem gerações que precisam ver o que já foi feito, com muito menos recurso. Em um momento em que a memória do nosso país está sendo recontada em outras versões, é importante guardar a história da nossa dramaturgia", conclui.
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