Contratado para cobrir só assuntos relacionados a Taylor Swift, repórter enfrenta críticas

Tudo mudou para Bryan West. A Gannett, a maior cadeia de jornais dos Estados Unidos, anunciou na última segunda-feira (6) que ele ocuparia um emprego muito cobiçado como o primeiro repórter exclusivo de Taylor Swift da empresa, cobrindo tudo relacionado à sensação pop internacional para o USA Today e a rede de mais de 200 outros jornais da Gannett em todo o país.

Mas antes que West, de 35 anos, tivesse a chance de enviar sua primeira matéria sobre sua nova área de atuação, ele estava recebendo críticas de dois lados: observadores do jornalismo e fãs de Swift.

As objeções começaram a surgir logo após a Variety divulgar a notícia de sua contratação. O artigo incluía uma entrevista com West, que forneceu motivos para reclamação tanto para os éticos da redação quanto para os fãs de Swift.

West, que antes era repórter de TV em Phoenix, causou polêmica ao se descrever como "um fã de Taylor". Essa observação fez com que alguns jornalistas questionassem se ele poderia ser imparcial quando se tratasse de sua nova área de atuação. Ao mesmo tempo, os fãs da cantora debateram se ele era um "swiftie" suficientemente grande para falar de sua amada estrela. Algumas pessoas em ambos os lados disseram que o emprego seria mais adequado para uma mulher.

Na entrevista à Variety, West se comparou a um repórter esportivo ao argumentar que poderia manter sua neutralidade. "Eu diria que essa posição não é diferente de ser um jornalista esportivo que é fã do time da casa", disse ele. "Eu acabei de sair de Phoenix, e todos os apresentadores lá estavam vestindo roupas dos Diamondbacks; eles querem que os Diamondbacks vençam."

Essa observação não agradou a vários escritores esportivos, incluindo Frankie de la Cretaz, um jornalista esportivo e cultural baseado em Boston.

"Qualquer jornalista esportivo lhe dirá que a regra número 1 do jornalismo esportivo é não torcer na cabine de imprensa", disse de la Cretaz, 38 anos. "É uma das marcas registradas da profissão. É uma das primeiras coisas que você aprende. A ideia, é claro, é que se você é fã do time, você não pode ser um repórter imparcial."

"Eu não sei se necessariamente concordo com isso", continuou ele, "mas acho que o fato de ele estar fazendo essa comparação mostra para mim uma falta de compreensão fundamental do que é o papel de um jornalista esportivo."

Benjamin Goggin, editor da NBC News, criticou a contratação de West no X, anteriormente conhecido como Twitter, escrevendo que a Gannett havia dado o emprego a "um fã fervoroso, em vez de alguém capaz de ser crítico de uma das pessoas mais poderosas de toda a cultura pop".

"Os 'haters' vão odiar", escreveu Lark-Marie Antón, diretora de comunicações da Gannett, em um email, respondendo às críticas dos jornalistas. O porta-voz acrescentou que as credenciais de West "o tornaram o melhor candidato para esse cargo". West, que agora está baseado em Nashville em um jornal diário da Gannett, The Tennessean, recusou-se a ser entrevistado para este texto.

April Glick Pulito, uma fã de Swift que trabalha em comunicações políticas, postou letras de uma música da cantora em resposta à contratação: "Estou tão cansada de correr o mais rápido que posso, perguntando se chegaria lá mais rápido se eu fosse um homem", escreveu Pulito, 35 anos, no X, citando "The Man", que reimagina a vida da cantora se ela tivesse nascido homem.

"Não foi uma declaração sobre as habilidades desse repórter", disse Pulito em entrevista. "Ele parece extremamente qualificado. Mas como alguém que trabalha em comunicações, acho que a ótica da escolha é meio inegável." Ela preferiria ver o papel sendo dado a uma candidata mulher, "alguém em quem tantos fãs de Taylor pudessem se espelhar e se ver", disse ela.

O porta-voz da Gannett disse que a empresa "não discrimina".

Em um ano em que aparentemente qualquer coisa relacionada à cantora tem sido alvo de escrutínio da mídia, o anúncio da Gannett de que planejava contratar um repórter dedicado a Swift gerou muitas manchetes e comentários online.

O candidato escolhido, disse a empresa quando lançou a busca em setembro, "identificaria por que a influência da estrela pop só se expande" e "o que sua base de fãs representa na cultura pop". A empresa também anunciou uma busca por um papel semelhante para cobrir Beyoncé.

Como parte de sua inscrição, West enviou um vídeo de cinco minutos listando os motivos pelos quais deveria ser contratado. O primeiro foi sua experiência jornalística. West trabalhou anteriormente como repórter e produtor de transmissão em uma afiliada da NBC em Phoenix e disse ter ganhado vários prêmios.

Seu segundo motivo foi que ele havia conhecido Swift. A oportunidade de conhecê-la surgiu depois que ele relatou várias histórias sobre Swift enquanto trabalhava em Phoenix, disse ele. West incluiu uma foto dele com a cantora no vídeo.

Em sua inscrição, West acrescentou que, embora pudesse ser um fã, ele era capaz de relatar sobre Swift sem viés. Ele listou três músicas que "não suporta" como evidência, incluindo a faixa "It's Nice to Have a Friend".

Inicialmente, a Variety citou West como tendo citado a música como "It's Good to Have a Friend", um erro por parte da publicação, que alarmou alguns "swifties", que inferiram que ele não estava à altura da tarefa.

West também observou que estava sóbrio há cinco anos. "Nunca falharei em um teste de drogas", disse ele em seu vídeo de inscrição. Em seu site pessoal, West publicou um texto em que detalha como foi perseguido de carro por policiais de Phoenix e cumpriu pena de prisão por uma acusação de dirigir embriagado em 2018. "Bryan tem sido sincero ao divulgar sua jornada pessoal", escreveu o porta-voz da Gannett em um email.

Lauren Lipman, de 32 anos, foi uma das candidatas que não conseguiu o emprego. Lipman, uma criadora de conteúdo baseada em Los Angeles, fez uma carreira postando vídeos predominantemente sobre Swift. Em setembro, Lipman recebeu um email de um recrutador da Gannett para discutir o cargo mais a fundo, mas acabou não sendo chamada para entrevistas adicionais (A Gannett se recusou a comentar sobre o processo de inscrição de Lipman).

Embora tenha criticado a referência de West sobre como os jornalistas esportivos fazem seus trabalhos, de la Cretaz disse que tinha simpatia pela contratação chamativa da Gannett.

"Esta é uma base de fãs brutal, e acho que nunca haveria uma vitória para quem quer que fosse contratado para esse cargo", disse de la Cretaz. "Ou ele não recebe respeito do público em geral porque é um fã e é visto como tendencioso, ou ele não recebe respeito da própria base de fãs porque não é o tipo certo de fã."

Bill Grueskin, professor e ex-diretor da escola de jornalismo da Columbia, disse que a paixão de West pelo assunto pode resultar em uma ótima reportagem. Ele também jogou um pouco de água fria nos críticos de West dentro do campo.

"Acho que esperar que os jornalistas suspendam completamente qualquer tipo de simpatia pessoal por uma estrela pop ou uma equipe de beisebol é provavelmente inviável", disse ele. "A chave é como você cobre isso."

A Gannett ainda não anunciou quem cobrirá o tema Beyoncé.