Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Música

Keith Richards relança álbum e diz ter pouca fé na humanidade: 'Nada melhora nunca'

'Main Offender' completa 30 anos e volta em edição de colecionador

Keith Richards em foto de divulgação de 'Main Offender'

Keith Richards em foto de divulgação de 'Main Offender' Claude Gassian/Divulgação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"Só consigo pensar que, no passado, eu me encaixava bastante nessa descrição, afinal fui preso muitas vezes (risos)", diz Keith Richards, 78, ao F5 sobre o porquê do nome de seu segundo álbum solo, "Main Offender" (algo como "infrator principal"). Nesta sexta-feira (18), o começo das gravações desse trabalho —lançado oficialmente em outubro de 1992— completa 30 anos.

Para comemorar, o guitarrista dos Rolling Stones anunciou o lançamento de uma edição limitada do álbum. Além das dez faixas originais remasterizadas, o box virá com a gravação ao vivo de um show feito no ano do lançamento, no Town & Country Club, em Londres. O material é acompanhado também por um livro de 88 páginas com fotos inéditas, reproduções de letras manuscritas e outros agrados para os fãs.

O músico afirma que não pensava que, 30 anos depois, estaria falando sobre esse trabalho. "Você nunca imagina essas coisas", avalia. "Porém, tenho que dizer que eu lembro de estar sentado com o [guitarrista e produtor] Waddy Wachtel quando já estávamos quase terminando as gravações e de ele dizer que o segundo álbum é sempre o melhor. E ele estava certo."

Richards diz que não parou muito para pensar no que essas canções têm a dizer para as novas gerações. "Acho que eu nunca falei com gerações, sempre falei com pessoas", explica. "Mas quando escuto essas músicas, elas não me parecem antigas, elas têm vida."

Do trabalho, três faixas foram lançadas antes como singles: "Demon", do álbum original, e "How I Wish" e "Gimme Shelter", nas versões ao vivo. Essa última, é um dos maiores clássicos dos Rolling Stones e foi escrita no contexto da Guerra do Vietnã, abordando as mazelas do conflito.

Para o músico, pouca coisa mudou desde então. "Nada melhora nunca, acredite", afirma. "A gente só passa de um desastre para o outro. É isso o que a espécie humana faz. Já estamos novamente em um cenário quase apocalíptico na Ucrânia. Era o Vietnã naquela época, e agora é a Ucrânia."

Apesar da desesperança, Richards conta estar particularmente feliz com o acervo desenterrado pela gravadora BMG para compor a edição especial. "Tem coisas que nem eu sabia que existiam", confessa. "Fiquei maravilhado com a pesquisa. Acharam até alguns números de telefone que ainda funcionam (risos)."

Um exemplo do que estava guardado em alguma gaveta de sua memória são as próprias faixas ao vivo. "Eu tinha esquecido até que esse show havia sido gravado", comenta. "Lembro de estar lá, lembro de fazer essa apresentação em Londres. E depois lembrei da gravação, mas ela passou anos esquecida por mim."

Assim como em todos os seus trabalhos solo, na apresentação ele foi acompanhado pela banda The X-Pensive Winos. Além de Wachtel, estavam o baterista Steve Jordan, o baixista Charley Drayton, o tecladista Ivan Neville, a cantora Sarah Dash e os backing vocals Bernard Fowler e Babi Floyd.

Jordan, assim como Richards e Wachtel, assinou como produtor das faixas originais. Desta vez, ele foi escalado para acompanhar a mixagem e a produção das faixas ao vivo —e vale lembrar que também está acompanhando os Rolling Stones desde a morte de Charlie Watts, no ano passado.

Para Richards, aliás, juntar as duas "turmas" tem sido uma experiência "interessante". "Não tem tanta diferença assim entre tocar com uma banda ou com a outra", avalia. "O baterista é a coisa mais importante de uma banda de rock. E eu sou abençoado de poder trabalhar com os melhores do mundo. Tem sido quase uma continuação desse trabalho, uma extensão, tocar com Steve nos Stones."

Ele diz que quando não está ensaiando com os Winos, mantém contato, mesmo que eles não se vejam tanto. "Eu vi Waddy e Ivan na última turnê, eles apareceram por lá, mas basicamente nos mantemos em contato. Mandamos mensagens de texto ou o que seja. Mas é sempre bom revê-los pessoalmente."

Depois de "Main Offender", ele passou muitos anos sem conseguir se dedicar à banda desse projeto. Foi só em 2015, depois de mais de 20 anos, que ele lançou "Crosseyed Heart", seu terceiro e mais recente álbum solo. Richards explica que isso se deve à demanda de trabalho com os Stones.

"Nunca mais tinha tido a oportunidade e o tempo suficiente para juntar a outra banda ou fazer algo do tipo", conta. "Quando gravei, eu tive sorte com os Winos porque sabia que os Stones tirariam um tempo para descansar. Mas foi esse o tempo [23 anos] que precisei para fazer isso."

Ele não descarta um novo trabalho solo no futuro, mesmo que ainda não tenha nada preparado. "É sempre uma possibilidade, especialmente agora que Steve e eu estamos trabalhando juntos o tempo todo", desconversa. "Sempre estamos bolando algo."

Recentemente, no entanto, o contato mais intenso foi com Mick Jagger, vocalista dos Stones. "Tem algumas coisas em que nós estivemos trabalhando", revela. "Nas últimas semanas, passamos uma semana na Jamaica trabalhando em novas músicas. Compusemos algumas músicas juntos."

Perguntado sobre como faz para saber que música deve apresentar aos Stones e quais deve guardar para o projeto solo, ele diz que é algo que ocorre naturalmente. "Na verdade, as músicas depois de um tempo começam a te dizer o que fazer, então de certa forma você só obedece", conta. "Quando as músicas ganham vida, vêm com a própria personalidade. Elas são criaturas engraçadas."

Já na hora de compor, a inspiração pode ser tanto uma vivência pessoal quanto algo de que ficou sabendo. "As músicas vêm de qualquer lugar, de um pedaço de conversa que você ouviu, de uma frase... Você nunca sabe", conta. "Se você é compositor, está sempre recebendo novas ideias e, na maioria das vezes, as rejeitando."

Os últimos anos, desde que a pandemia de Covid mudou o mundo e impediu por muito tempo as apresentações ao vivo, foram difíceis para ele. "Nós fazemos isso há tanto tempo", lembra o músico, que está na estrada desde 1960. "Eu nunca havia visto um ano inteiro passar na minha casa, com primavera, verão, outono e inverno. Acabei me apaixonando pelo meu jardim (risos)."

Apesar da vontade de voltar aos palcos, ele não deve sair em turnê com o projeto solo por enquanto. Isso porque estará ocupado com a turnê comemorativa de 60 anos dos Rolling Stones, que deve começar pela Europa em junho.

Ainda sem datas confirmadas para o Brasil, ele diz que os fãs podem ter esperanças. "Gostaria de voltar à América do Sul no próximo ano, mas depende da situação da Covid e tudo mais", comenta. "O Brasil tem sempre um público muito acolhedor. Acho que a última vez que fomos foi em 2016, então já faz muito tempo. Vamos ver o que podemos fazer a respeito."

Considerado um dos maiores ícones do rock, Richards encerra a entrevista comentando a pouca representação que o ritmo tem nas paradas musicais da atualidade. Para ele, o rock não morreu nem vai morrer nunca.

"É impossível a música morrer, mesmo que saia de moda", afirma. "É claro que vejo que o pop está tomando conta de tudo, mas o bom rock'n'roll nunca morre porque a boa música sempre dá um jeito, mesmo que estranho, de voltar."

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem